PT não fez perguntas sobre investimento na Rioforte
AO CONTRÁRIO do que aconteceu com outros investidores, a Portugal Telecom (PT) nunca demonstrou interesse em falar com a Rioforte e em conhecer melhor a holding de topo do Grupo Espírito Santo (GES) antes de decidir fazer os sucessivos investimentos, no valor total de quase 900 milhões de euros, em papel comercial da Rioforte. A revelação foi feita ontem na comissão parlamentar de inquérito pelo exadministrador financeiro da empresa, Gonçalo Cadete, revelando que normalmente não conheciam quem eram os tomadores de dívida.
O assunto da compra de papel comercial da Rioforte pela PT será um dos temas fortes da audição, amanhã, de Zeinal Bava e, na próxima quarta-feira, de Henrique Granadeiro, ex-administradores da PT.
Ontem, Gonçalo Cadete reconheceu que, a partir de 2012, o endividamento da Rioforte foi usado pelo acionista como forma de financiar a Espírito Santo International (ESI) e ir aos aumentos de capital do BES e da Espírito Santo Financial Group. “Foi nos dito pelo acionista que [esses empréstimos] tinham caráter temporal e limitado no tempo. Não tínhamos razão para duvidar da solvência do nosso acionista, nem para duvidar do que o acionista nos dizia”, disse, revelando que esses pedidos chegavam via o administrador Manuel Fernando Espírito Santo ou José Castela.
“Profunda consternação”
À tarde, foram ouvidos dois ex-administradores do BES e do Novo Banco, Jorge Martins e João Freixa, que manifestaram a sua “profunda consternação” com a situação que afeta os clientes lesados pela compra de papel comercial aos balcões do banco. Desde Junho de 2014, os clientes não têm conseguido receber o dinheiro investido e têm criticado a forma de venda – muitos dizem que lhes diziam que aquela dívida do GES era sem risco ou entendida como depósito. Ficaram por liquidar 550 milhões de euros em papel comercial, nas mãos de um total de 2508 clientes.