O exemplo mais forte
Oque mais influencia as crianças não é o que os pais dizem, como se sabe. Mas, ao contrário do que geralmente se afirma, também não é o que os pais fazem. Tanto no caso dos pais, na educação dos filhos, como no caso dos líderes, na condução de um grupo, o que se faz dá o exemplo, e tende a ser comportamento a ser replicado. Dar o exemplo, tanto para os pais quanto para os líderes, é poderoso quando se é coerente, se diz o que se faz e se faz o que se diz, e se exige dos outros o que se exige de si próprio. Ser incoerente é um caminho fácil para perder influência. Mas ser influente, eficaz na liderança e no envolvimento dos outros assenta em mais do que apenas na coerência.
O que os pais pensam pode ser vital para os filhos. Não o que pensam sobre as capacidades ou o feitio dos filhos, mas o que pensam sobre o insucesso. Por exemplo, diante de uma classificação escolar mais fraca, os pais podem comentar que o teste foi muito difícil, podem ficar preocupados e consolarem o filho. É bom, mas não é o melhor. É uma atitude que pode levar a criança a acreditar que o insucesso é algo a evitar a todo o custo e que as pessoas são como são; duas ideias prejudiciais ao sucesso. Tanto mais prejudiciais quanto mais sejam aquilo em que os pais acreditam. No entanto, os pais podem reagir de maneira diferente. Em vez de ficarem nervosos, podem perguntar ao filho o que terá corrido mal. Se estudou? Se esteve atento nas aulas? O que poderia ter feito para obter uma classificação melhor? Para obter uma nota bem melhor, o que fará de diferente para o próximo teste? Esta atitude, além de mostrar confiança no filho e de o incentivar a trabalhar mais, faz outra coisa decisiva: liga o sucesso ao esforço. Mostra que o sucesso depende do esforço que colocamos no que fazemos. E é o que os pais acreditam, o que naquele contexto, é o que é real para os filhos.
Na liderança de grupos e organizações, acontece algo semelhante, ‘mutatis mutandis’: aquilo em que o líder acredita é muito importante para o que a organização conseguirá fazer. Não apenas o que o líder deseja ou os objetivos que quer atingir, mas o que o líder, genuinamente, acredita que acontecerá.
A crença manifesta-se naturalmente no que se diz, nos gestos, no entusiasmo, no exemplo que se dá.
Na liderança, tantas vezes, comportamentos semelhantes não resultam da mesma maneira. As soluções não são definitivas. O poder da crença, no entanto, tem sido destacado pela relevância para a eficácia da liderança. Acreditar, ter a certeza de que algo vai acontecer, mesmo que por vezes nos enganemos, pode ser decisivo para o êxito. Doc Rivers, treinador norte-americano de basquetebol, comentou: “Preciso de agir de uma forma que os meus jogadores acreditem que eu acredito que eles vão ganhar”.
Fingir que se acredita muitas vezes é o pior inimigo de uma crença assente na preparação, no esforço e na ambição. Acreditar tem pouco a ver com o que se diz. Tem muito a ver com a coerência, com o que se diz e o que se faz, com o que se exige dos outros e de si próprio. E tem ainda mais a ver com a congruência, isto é, com o alinhamento entre o que penso, digo e sinto. As pessoas percebem quando se diz uma coisa e se acredita noutra, quando se quer, mas, no fundo, não se acredita, quando se pensa, mas não se sente. Sem congruência, a mensagem que passa, o que verdadeiramente é captado pelo grupo, é que de facto o líder não acredita. As pessoas acreditam mais nos exemplos do que nas palavras.
Quando um líder acredita que algo vai acontecer, essa crença transparece natural e permanentemente na forma como fala, gesticula, como se comporta e se entusiasma. Por isso, numa organização ou numa família, o exemplo que mais nos influencia, tantas vezes, é aquilo em que constatamos que os pais e os líderes acreditam.
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Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico Coluna mensal à quinta-feira