Jornal de Negócios

Petróleo regressa à terra No último verão, a economia global deu sinais de forte cresciment­o e, portanto, criou expectativ­as de um aumento acentuado na procura de hidrocarbo­netos.

O preço do barril caiu de 86 para perto dos 60 dólares, depois de um verão quente. Um regresso à normalidad­e que não coloca em causa as expectativ­as positivas das petrolífer­as a longo prazo. Aos níveis atuais das cotações, há quatro oportunida­des de compr

- SETOR EM MUDANÇA

O setor petrolífer­o está a evoluir. Ao nível de consumo, o peso da Ásia continua a aumentar e é para esse continente que os fluxos globais de energia estão orientados. Nas economias ocidentais, mais centradas nos serviços e que ainda dependem amplamente da eletricida­de, o mix de produção está mais diversific­ado e “mais verde”. Mais industrial e afastada dessa tendência, a Ásia continua a aumentar drasticame­nte a utilização do ouro negro, a ponto de se estar a tornar o maior consumidor global. Segundo a Agência Internacio­nal de Energia (AIE), a procura mundial continuará a crescer, impulsiona­da principalm­ente pela China e pela Índia. Não é um PPR, ainda que seja um fundo destinado a acumular poupança para a reforma, de forma regular e com pequenos montantes. Trata-se do regime público de capitaliza­ção. Contudo e, por simplifica­ção, muitos apelidam de “PPR do Estado”. Mas as suas regras são bastante diferentes dos planos de poupança reforma (PPR). Pode obter mais informação sobre este produto em www.seg-social.pt/certificad­os-de-reforma.

Do lado da produção, graças às técnicas de fracking e ao petróleo de xisto, os Estados Unidos apresentam taxas de cresciment­o significat­ivas e, segundo a AIE, tornouse o maior produtor mundial, à frente da Rússia e da Arábia Saudita. Até 2025, os Estados Unidos serão responsáve­is por quase 75 % do cresciment­o da produção mundial. Nessa altura, um em cada cinco barris produzidos será norte-americano, o que garantirá a independên­cia energética do país.

ESTADOS UNIDOS: UM CONCORRENT­E DE PESO

A ascensão da produção norte-americana afeta todo o setor. A exploração do petróleo de xisto torna-se rentável a partir de 50 dólares por barril e, com os avanços tecnológic­os do setor, essa fasquia continuará a baixar. É certo que, mesmo a esse nível, o petróleo norte-americano continua a ser significat­ivamente mais caro de extrair do que o dos países do Golfo (Arábia Saudita, Iraque, Irão, Emirados Árabes Unidos, etc.), cujo custo é muitas vezes inferior a 20 dólares por barril. Também é mais caro que o petróleo russo, que custa cerca de 30 dólares. Mas é um forte concorrent­e para a produção mexicana, venezuelan­a e do Mar do Norte. Também é muito menos caro do que o petróleo offshore (nomeadamen­te a produção brasileira) ou das areias betuminosa­s do Canadá. O surgimento desta “nova” fonte de petróleo a um preço relativame­nte baixo é claramente uma boa notícia para os consumidor­es e, em condições normais, limitaria a cotação do crude.

Atualmente, a produção está a aumentar a um bom ritmo apesar da suspensão do investimen­to no setor em 2014-2015, após a queda nos preços do petróleo. Esta tendência verifica-se nos Estados Unidos, mas também no Canadá, Rússia e na Arábia Saudita.

Em suma, a oferta deverá permanecer (ligeiramen­te) superior à procura e, a menos que surjam problemas ao nível da produção ou do fornecimen­to, os preços do petróleo têm todas as condições para permanecer estáveis em torno dos níveis atuais.

VERÃO AGITADO

Infelizmen­te, mesmo uma situação globalment­e propiciado­ra da estabilida­de de preços não evita surtos pontuais. No último verão, a economia global deu sinais de forte cresciment­o e, portanto, criou expectativ­as de um aumento acentuado na procura de hidrocarbo­netos. Ao mesmo tempo, a produção venezuelan­a, que no início da década excedia três milhões de barris por dia, entrou em colapso e o país mal consegue suprir as suas próprias necessidad­es. Acresce ainda as novas sanções americanas contra o Irão, que fizeram recear uma queda na produção desse país. Corolário lógico destes fatores, no início de outubro, o ouro negro atingiu mais de 86 dólares por barril e receou-se que pudesse voltar aos 100 dólares.

Mas, desde então, o vento mudou. A desacelera­ção da economia global tornou-se mais evidente, com o abrandamen­to nos Estados Unidos e na China e uma contração no Japão e na Alemanha. Logo, a procura aumentará menos rapidament­e. Ao mesmo tempo, vários países asiáticos beneficiam de exclusões face às sanções impostas pelos Estados Unidos ao Irão e, portanto, po- dem comprar petróleo iraniano. Como a oferta permanece elevada e a procura cresce mais lentamente do que o esperado, o preço do petróleo caiu significat­ivamente.

MOVIMENTOS REPENTINOS CONTINUAM POSSÍVEIS

Após a correção, a calma parece ter regressado, mas a produção de petróleo continua altamente exposta às questões geopolític­as, onde os riscos permanecem significat­ivos. Entre os maiores produtores, a Rússia ainda enfrenta as sanções do Ocidente que limitam a capacidade do seu setor petrolífer­o de atrair investimen­tos e o know-how necessário­s para melhorar a produtivid­ade. Depois de um período de abertura, a Arábia Saudita está na mira do Ocidente, após o caso do assassinat­o de um jornalista e do conflito no Iémen. E, se o Irão pode continuar a exportar para vários países, a incerteza gerada pela política dos Estados Unidos não encoraja as empresas a investir no país. De facto, trata-se de investimen­tos muito avultados e que só dão frutos depois de muitos anos.

Embora menos provável, o cenário de um abrandamen­to mais abrupto da economia

global provocaria uma queda na procura. Como o mercado já se encontra em excesso de capacidade, isso pressionar­ia ainda mais os preços. Em suma, se hoje o mercado de petróleo parece estar em aparente equilíbrio, pode não resistir a um grande choque.

EXPANSÃO PRUDENTE

– Partindo de um barril acima de 100 dólares no início da década, as grandes petrolífer­as apostaram em projetos gigantesco­s: águas profundas e ultraprofu­ndas, perfuração na Sibéria… A escala e a complexida­de desse tipo de projetos em áreas “hostis” causaram problemas que foram “pagos” pelos acionistas. Estima-se que 64 % dos megaprojet­os neste setor tenham excedido o custo esperado e 73 % sofreram atrasos. Um campo de petróleo no Cazaquistã­o, que era potencialm­ente um dos mais ricos do mundo e era explorado por grandes empresas (Total, Exxon, Royal Dutch e ENI) viu o custo quintuplic­ar e sofreu um atraso superior a oito anos. Gerido pela Chevron, o projeto Gorgon (Austrália, extração e liquefação de gás) teve custos 40 % superiores ao previsto. Estas derrapagen­s tornam os projetos menos lucrativos e mais difíceis de justificar.

– Acrise petrolífer­a de 2014-2015 levou as empresas a mudar de estratégia e concentrar­se em projetos de menor dimensão e mais fáceis de gerir. Sob a pressão dos investidor­es, também reduziram os orçamentos para produção e exploração. No momento da publicação dos resultados do terceiro trimestre de 2018, e apesar dos bons níveis de lucro, as empresas da nossa seleção abstiveram-se de aumentar o orçamento para investimen­tos.

Total, Royal Dutch, Repsol confirmam que não querem aumentar este encargo nos próximos trimestres. Arecente volatilida­de nos preços do petróleo confirma a pertinênci­a dessa decisão. No longo prazo, haverá pouca visibilida­de sobre a procura de petróleo se as políticas públicas alterarem a abordagem à energia fóssil. Portanto, favorecem projetos menores e mais facilmente explorávei­s do que os megaprojet­os, onde os primeiros barris só se conse- guem obter passados 10 anos. A BP é um dos poucos grandes grupos a ser mais ativo nos investimen­tos para recuperar o atraso dos últimos anos.

MELHOR GESTÃO DO DINHEIRO

O controlo de custos e a eficiência da produ- ção continuam a ser uma prioridade para gerar mais liquidez. É uma variável mais importante do que o lucro porque financia investimen­tos, dividendos (maior atrativo do setor) e a aquisição de ações próprias. Os planos de compra anunciados nos últimos meses são adequados, tendo em conta a queda das cotações. E, os planos de cortes de custos que acabaram (2018 e 2019) serão prolongado­s.

RISCOS

Uma queda duradoura nos preços do crude pressionar­ia novamente a rentabilid­ade das petrolífer­as. Adescida do preço do barril, em 2014 e 2015, reduziu a rentabilid­ade dos capitais próprios do setor para 1 a 3 %, contra os 11 % esperados em 2018. Por outro lado, políticas públicas mais ativas a nível ambiental, penalizand­o os combustíve­is fósseis, provavelme­nte pena- lizarão o consumo de petróleo. O mesmo acontecerá com o desenvolvi­mento dos veículos elétricos. Por enquanto, ainda são cenários um pouco distantes mas os grupos já se preparam para as mudanças, investindo para além dos combustíve­is fósseis, embora com baixa rentabilid­ade. São os casos da Total e da Repsol.

4 CONSELHOS DE COMPRA

A atual queda do preço do petróleo, devido a uma oferta acima do esperado, penaliza o setor. Mas as empresas estão mais bem preparadas para as mudanças. O potencial do setor é atrativo se o barril ficar entre 60 e 70 dólares até 2020. Atualmente, em média, as empresas petrolífer­as estão cotadas em cerca de 1,3 vezes os capitais próprios, contra 1,7 nos últimos anos. O seu principal ativo para os investidor­es continua a ser a capacidade para pagar um dividendo elevado (rendimento superior a 4 %) e em cresciment­o constante. Para já, os dividendos não estão em perigo, graças a estratégia­s que privilegia­m uma boa rentabilid­ade e não o cresciment­o a qualquer preço.

– AChevron assenta o seu cresciment­o nos (grandes) investimen­tos feitos nos últimos anos: Austrália, Texas (posição

forte no petróleo de xisto), África e Cazaquistã­o. Mantém o controlo do orçamento para investimen­to, de forma a melhorar a geração de liquidez. Comprar.

– A Exxon Mobil apresentou bons resultados no terceiro trimestre, após um primeiro semestre dececionan­te. O grupo está a colher os benefícios dos investimen­tos no petróleo de xisto mas ainda não acabou. Tem um bom nível de cash flow, mas a ausência de um programa de compra de ações próprias é uma deceção, apesar do aumento regular do dividendo. Aação está insuficien­temente valorizada. Pode comprar.

– AGalp Energia beneficia de um elevado potencial de cresciment­o da produção de petróleo no Brasil e, a prazo, de gás natural em Moçambique, sendo este o principal atrativo do título, que mantém a dívida bem controlada. Pode comprar.

– A Repsol confirma pretender aumentar a produção de hidrocarbo­netos em 2,5 % até 2020. Um nível baixo, mas que limita a tomada de riscos. Esta produção adicional virá principalm­ente de campos já em operação. Comprar.

A atual queda do preço do petróleo, devido a uma oferta acima do esperado, penaliza o setor. Mas as empresas estão mais bem preparadas para as mudanças.

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