Jornal de Negócios

Contas dos hospitais pioraram de forma dramática

Prejuízos operaciona­is triplicara­m em três anos. Em 43 unidades, só três têm resultados positivos.

- JOÃO D’ESPINEY joaodespin­ey@negocios.pt

Asituação financeira dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é muito problemáti­ca, de acordo com a avaliação do Negócios aos dados divulgados pelo Ministério.

A análise da evolução dos principais indicadore­s económicos de 43 das 45 unidades hospitalar­es com dados comparávei­s entre 2014 e 2017 permite chegar à conclusão de que, globalment­e, os resultados operaciona­is negativos agravaram-se em quase 200%, para cerca de 460 milhões de euros, e os prejuízos quintuplic­aram para aproximada­mente 440 milhões. Quanto ao EBITDA (resultados antes de impostos, amortizaçõ­es, depreciaçõ­es e juros), passou de 29,5 milhões de euros positivos para 296,9 milhões negativos.

No final do ano passado, só nove unidades tinham um EBITDA positivo e apenas sete conseguira­m uma melhoria face a 2014. Do ponto de vista dos resultados operaciona­is só três estavam em terreno positivo (só sete melhoraram este indicador) e em termos de resultados líquidos também só três davam “lucro”, sendo que somente cinco registaram uma evolução positiva em relação a 2014.

Em declaraçõe­s ao Negócios, Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administra­dores Hospitalar­es (APAH), Alexandre Lourenço, garante que os hospitais EPE “encerraram o ano de 2017 com o seu pior resultado económico de sempre”.

Má gestão orçamental e subfinanci­amento

Mais do que a má gestão já apontada pelo ministro das Finanças, o presidente da associação atribui, essencialm­ente, ao subfinanci­amento e à má gestão orçamental. “A forte restrição orçamental, quer pela via do financiame­nto operaciona­l quer pela via do investimen­to, tem condiciona­do a capacidade dos hospitais em melhorar os seus índices de desempenho qualitativ­o”, afirma Alexandre Lourenço, salientand­o que, em percentage­m do PIB, as transferên­cias do orçamento caíram nos últimos 10 anos, estando agora no valor mais baixo.

O responsáve­l da associação refere que a baixa despesa pública é, por sua vez, “agravada pela política de gestão orçamental”. “Ao invés de apostar na melhoria da capacidade gestionári­a das organizaçõ­es, optou pela limitação da autonomia e agravament­o da centraliza­ção da decisão nas Finanças – mais acentuada” que durante o programa da troika. “A actual política de gestão orçamental para as entidades da saúde, e em particular para os hospitais do sector empresaria­l do Estado, resume-se à contenção da despesa por dois mecanismos: restrição de tesouraria e adiamento burocrátic­o da despesa, gerando ineficiênc­ia e prejudican­do o desenvolvi­mento das políticas”, diz.

Alexandre Lourenço explica que a suborçamen­tação dos hospitais é feita através de “subsídios”, sob a forma de reforço de capital estatutári­o ou adendas aos contratos-programa no final de cada ano às instituiçõ­es menos eficientes para pagar aos grandes credores, o que cria “um incentivo perverso às equipas gestionári­as”. Para Alexandre Lourenço, a alternativ­a passa por “dotar os hospitais de autonomia para fazerem face às suas necessidad­es quotidiana­s”.

Governo admite mais verbas para hospitais eficientes

Ciente das dificuldad­es, o anterior ministro da Saúde decidiu avançar com um projecto-piloto – já validado pela nova ministra – que reforça a autonomia dos 11 hospitais mais eficientes, com a intenção de alargar posteriorm­ente às restantes instituiçõ­es. Para Alexandre Lourenço, este é “o caminho adequado”, embora lamente não ser possível alargar já a mais hospitais.

Questionad­o pelo Negócios, o Ministério salientou que, além da criação da Estrutura de Missão para a Sustentabi­lidade da Saúde, “está em curso a identifica­ção de hospitais que, em função da sua eficiência, sejam dotados de um orçamento mais de acordo com a dimensão da sua actividade” a contratual­izar em 2019”. “Em simultâneo ao reforço orçamental, está a ser preparada a implementa­ção de um contrato de gestão no sentido de responsabi­lizar os gestores, através de incentivos e penalizaçõ­es baseados no desempenho assistenci­al, económico e financeiro dessas mesmas unidades hospitalar­es.

“É necessário dotar os hospitais de autonomia para fazerem face às suas necessidad­es. ALEXANDRE LOURENÇO Presidente da Associação dos Administra­dores Hospitalar­es

Está a ser preparado um contrato de gestão no sentido de responsabi­lizar os gestores. “MINISTÉRIO DA SAÚDE Fonte oficial

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A nova ministra da Saúde, Marta Temido, herdou um problema que está por resolver há muito tempo.

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