O grande desafio dos agricultores
A transformação digital permite aumentar produtividades e optimizar os custos da exploração. O que importa é que o retorno seja superior ao que se investe.
“Ogrande desafio dos agricultores é optimizar a sua produção”, afirmou Jorge Neves, director-geral da Agromais. Explicou que, numa economia global e aberta como a actual, o preço passa a ser um dado. “Não é pelo preço que se rentabilizam as explorações, porque os preços têm estado deprimidos, como no caso dos cereais, que são grandes culturas e que têm grandes áreas e que condicionam as outras culturas”, adiantou Jorge Neves.
Se o preço de uma cultura desce, a oferta de terra disponível para outras culturas passa a ser maior. Havendo uma oferta de terra superior os preços das outras culturas tendem a ajustar-se por causa dessa maior oferta. “Sendo o preço um dado, o agricultor só tem duas vias e ou optimiza custos ou aumenta as produtividades, ou as duas coisas”, disse Jorge Neves.
A transformação digital atravessa economia e a sociedade e também atingiu a agricultura, que é cada vez mais uma actividade digitalizada. Estas mudanças têm a ver com os recursos mas também com o território e a desertificação do país, como sublinhou João Lima, administrador do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV).
Agricultura de precisão
As novas ferramentas e a agricultura de precisão estão a ter um papel importante, “porque as ferramentas são intituivas e de custo baixo, por isso é um desperdício se os agricultores perderem esta oportunidade”, analisou o director geral da Agromais.
“Estas novas ferramentas da Inteligência Artificial, da internet das coisas, acessíveis nos equipamentos agrícolas, nas explorações, permitem uma maior monitorização e aportam um valor acrescentado ao negócio porque reduzem custos, aumentam a capacidade de resposta e tornam a produção mais eficiente”, João Lima.
Acrescenta que, “muitas vezes tem de ir buscar as soluções que já existem fora do sector porque ace- lera o processo de inovação e tem um grande potencial disruptivo”. Exemplificou com a colaboração do INIAV com o INESC Porto em áreas como a IA, internet das coisas, a robótica para o sector agrícola e agro-industrial.
Retorno é que conta
José Potes, presidente do Instituto Politécnico de Santarém, referiu o Hub4Agri, que é um processo de digitalização da agricultura, que inclui um grande número de parceiros como as universidades, as empresas, os politécnicos. “Digitalização da agricultura é falar de agricultura de precisão, de conservação. Não há nada na agricultura que não seja digitalizável, que quer dizer obter informação, tratá-la e agir de acordo com isso”, concluiu.
Jorge Neves concorda que permite aumentar produtividades e optimizar os custos da exploração. Mas salienta que “optimizar o custo não significa que, por unidade por terra ou por unidade por produção, não se gaste mais, o que importa é que o retorno seja superior ao que se investe. Este é que é o grande desafio e há vários agricultores que o têm conseguido”.
A digitalização na agricultura significa uma agricultura de precisão.