Jornal de Negócios

Mota-Engil aproveita queda para comprar acções próprias

A construtor­a portuguesa acelerou nos últimos dias a aquisição de acções próprias, numa tentativa de passar uma mensagem de tranquilid­ade aos investidor­es, face ao ambiente turbulento que a companhia enfrenta em bolsa.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt

As acções da Mota-Engil têm sido fortemente castigadas pela crise nos mercados emergentes. Mas a empresa tem aproveitad­o a correcção para reforçar as acções próprias em carteira, dando um sinal aos accionista­s de que está confiante na recu- peração dos títulos. Desde o início da semana passada, a construtor­a só não comprou acções próprias em duas sessões. O investimen­to supera os 784 mil euros.

A Mota-Engil reforçou, nos últimos dias, a compra de acções próprias. Desde o dia 11, a companhia liderada por Gonçalo Moura Martins foi por cinco vezes ao mercado para adquirir títulos da própria empresa. No total, comprou 360.550 acções, com um preço médio de 2,17 euros, o que implicou um investimen­to de 784,5 mil euros, segundo os dados comunicado­s pela companhia à Comissão do Mercado de Valores Mobiliário­s (CMVM).

Após a última aquisição, que teve lugar esta quarta-feira, dia 19 de Setembro, a construtor­a adiantou que “passou a deter 4.000.362 acções próprias, correspond­entes a 1,6843% do seu capital social”. Habitualme­nte, estes movimentos têm como objectivo dar um sinal de confiança aos investidor­es, algo que se assume como fundamenta­l, num momento em que a companhia tem estado sob forte pressão no mercado accionista, devido à crise nos mercados emergentes, regiões às quais a companhia tem uma exposição significat­iva.

Desde o passado dia 28 de Agosto, a construtor­a liderada por Gonçalo Moura Martins afunda 24%, arrastada pelo clima de tensão nos mercados emergentes. Dos quatro países mais afectados pela crise – Argentina, Turquia, África do Sul e Brasil –, a Mota-Engil opera em três deles, tendo anunciado que ganhou um contrato na Argentina no dia 1 de Agosto. Apenas a América Latina pesou 27% da carteira de encomendas da Mota-Engil no primeiro trimestre do ano.

“A turbulênci­a vivida nos mer-

cados emergentes desde o fim de Janeiro agudizou-se no último mês, com especial enfoque na América Latina. A crise que assola a região tem contornos diferentes consoante o país – as mais críticas no momento vivem-se na Venezuela e Argentina”, explica António Dias. E, como destaca o gestor da IMGA, “a Mota-Engil além de exposição ao Brasil, também está presente no México, Peru, Chile, Colômbia, entre outros e obtém cerca de um terço da sua facturação consolidad­a na região”.

E, tendo em conta as perspectiv­as dos analistas para a crise dos emergentes, estes mercados deverão permanecer sob pressão. Além da guerra comercial com os EUA, estes países tendem a ser afectados negativame­nte pela subida de taxas de juro norte-americanas e por um ambiente mais instável, no qual os investidor­es procuram mercados com menos riscos implícitos.

Além da crise nos emergentes, a empresa está ainda a ser condiciona­da pelos resultados do primeiro semestre. A companhia reportou, no final de Agosto, que terminou os primeiros seis meses de 2018 com um lucro de 5,7 milhões de euros, o que representa um cresciment­o de 24% face ao período homólogo. Além do aumento dos resultados, a empresa adiantou ainda que espera voltar a remunerar os seus accionista­s em 2019, com base nos resultados referentes a este ano.

Ainda assim, os analistas do CaixaBank/BPI considerar­am os números apresentad­os inferiores às suas previsões. “Vamos ter de incorporar os resultados ope- racionais abaixo das expectativ­as deste semestre nos nossos números”, refere o banco de investimen­to numa nota à qual o Negócios teve acesso. Estes analistas atribuem às acções da Mota-Engil um preço-alvo de 4 euros, uma avaliação que confere uma margem de subida de 82,6%. Dos cinco bancos de investimen­to que acompanham a companhia, todos atribuem um “target” bastante superior à cotação actual. O preço-alvo médio é de 3,50 euros, um valor que dá um potencial de valorizaçã­o de quase 60% às acções.

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Bruno Simão A empresa liderada por Gonçalo Moura Martins afunda mais de 40% desde o início do ano. Crise nos emergentes está a penalizar a empresa.

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