Os guardiães da paisagem
Era importante que, no próximo quadro comunitário, se começasse a pensar e incentivar os agricultores a terem as suas explorações com mais qualidade, em termos de paisagem. Como na vitivinicultura em que, por causa do enoturismo, passou a haver cuidado pa
Oconcelho de Torres Vedras com 407 km2 é marcado, segundo Laura Rodrigues, por uma diversidade marcada pela ruralidade, urbanidade e maritimidade, o que coloca vários problemas à gestão do território, sobretudo numa região em que o litoral é disputado por várias actividades económicas. Há dificuldades em gerir as áreas agrícolas e as questões urbanas, como a habitação, as actividades como o turismo, admite Laura Rodrigues. “No litoral, nas zonas de areais, em determinadas épocas do ano, há uma avalanche de pessoas e a sua instalação disputa espaço com a horticultura protegida”, referiu a vice-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras. Há uma certa falta de ordenamento observou Domingos dos Santos, presidente da Frutoeste. “É preciso que o poder público, e nomeadamente as câmaras municipais, tenham em consideração que uma exploração agrícola, como um pomar, uma vinha ou uma pecuária, é uma unidade económica. Se deixarem que alguém faça uma casa próxima da exploração, passados alguns anos, é o agricultor que está mal situado”.
Turismo e paisagem
A gestão equilibrada dos territórios implica ter em atenção que, a base económica do nosso litoral foi e é a actividade hortícola e hortofrutícola. “O turismo é importante e queremos que se desenvolva, em termos de sustentabilidade, mas tem de ser coordenado com actividades económicas que existem no local e que são as actividades agrícolas. Estas têm de estar bem integradas no espaço envolvente”, acrescenta Laura Rodrigues. Adianta que era importante que, no próximo quadro comunitário, se começasse a incentivar os agricultores a dotarem as suas explorações com mais qualidade em termos de paisagem. Dá o exemplo da vitivinicultura, em que passou a haver mais cuidado paisagístico com as vinhas por causa da emergência do enoturismo. Mas esta preocupação pode ter impacto no negócio. “Se a paisagem agrícola for valorizada, se o agricultor for o guardião da própria paisagem, devem ser compensados por algumas actividades que não possam fazer”, admitiu Laura Rodrigues. Domingos dos Santos afinou pelo mesmo diapasão. “É importante que o agricultor, além de produzir produtos alimentares, também produza bens públicos, e, ao contrário da imagem que se dá, de um agricultor como malandro da natureza, é exactamente o contrário, é um defensor da paisagem”.
Exigências de clientes
Na óptica deste produtor de pera-rocha, a cuja associação preside, “são os agricultores que acabam por fazer um serviço muito importante para o equilíbrio do território, desde a retenção de águas, ate à manutenção da paisagem para o turismo”, referiu Domingos dos Santos, agricultor e dirigente de várias organizações agrícolas. O presidente da Frutoeste assinalou ainda que a União Europeia é a zona do mundo em que se produz com maior qualidade, e em que se cumprem um conjunto de normas muito exigentes, tendo em conta a sustentabilidade e a defesa do consumidor. Além disso, sublinhou que os agricultores deparam-se com “com clientes com exigências de mercado mais rigorasas do que as normas legais. Grande parte da produção é auditada e certificada”, concluiu Domingos dos Santos.
Hoje existe um agricultor empresário, que se profissionalizou e apostou muito na eficiência das suas culturas. CARLOS SANTOS LIMA Director coordenador Negócios do Banco Santander Hoje o sector agrícola é o que tem menos risco e menos incobráveis, e que tem dado uma rentabilidade interessante à banca. DOMINGOS DOS SANTOS Presidente da Frutoeste