Falsa premissa
Avice-governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, em audição parlamentar que teve lugar na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, assegurou publicamente que há vários interessados em entrar no capital da Caixa Económica Montepio Geral. Perguntada sobre se eram portugueses ou estrangeiros, respondeu bem e disse que no Mercado Único Europeu essa questão não se col oca. Eu j á tinha tido ocasião de dar essa informação publicamente mas, obviamente, a confirmação por alguém com tão altas responsabilidades no setor tem outro significado. Fica, portanto, provado de vez que é falso o pressuposto de que partiram alguns analistas para considerações que teceram sobre uma hipotética entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no capital dessa instituição. Ora, s e ndo fal sa a premissa, as conclusões ficam obvia- mente postas em causa. Seria bom, aliás, que os portugueses que ouvem essas considerações não deixassem de pôr a hipótese de elas resultarem, por vezes, não digo de interesses, mas de um entendimento serôdio que leve alguns “opinadores” a estranhar que não s ej a uma das grandes institui ções financeiras internacionais a ter mais direitos do que as outras. Aliás, mandariam os bons princípios de que quem escreve sobre a matéria e tem cargos executivos ou não executivos em instituições bancárias interessadas no processo, se abstivessem ou então que fizessem a devida e prévia declaração de interesses. Elisa Ferre ira não se ficou s ó por essa informação, teceu também considerações sobre a naturalidade da existência de instituições bancárias mais ligadas à economia social, lembrando os vários exemplos que existem, nomeadamente a nível europeu. Deitando assim também por terra uma argumentação que vi no outro dia num comentário televisivo e que, de suposta cátedra, dizia mais ou menos isto: “Para quê um banco de economia social? As instituições da economia social normalmente têm pouco dinheiro e se o projeto é bom já há outos bancos para apoiarem. Se o projeto não é bom para outros bancos apoiarem, então também não deve ser para esse suposto banco mais ligada à área social.” Eu di- ria, “está tudo dito”. E de facto só podemos estar ou perante ignorância ou perante um deliberado propósito de distorcer a realidade. Quando escrevo este tipo de considerações sobre algumas opiniões que já apareceram sobre a matéria, alguns vêem nelas a defesa da entrada da Santa Casa no capital do Montepio. Estão completamente enganados. Não é, nem deixa de ser. O que não suporto é o debate viciado e a suposta supremacia da arrogância inte l e ctual daqueles que durante anos defenderam modelos de gestão de instituições financeiras que deram os resultados que se conhecem. Agora, seria de “bom-tom” que fizessem a correção daquilo que escreveram: há mais interessados no Montepio. Os portugueses quando ouvem tão doutas opiniões, que se lembrem deste conselho: por vezes, alguma opinião tem razões que a razão desconhece.