Jornal de Negócios

Falsa premissa

- PEDRO SANTANA LOPES Advogado Este artigo está em conformida­de com o novo acordo ortográfic­o

Avice-governador­a do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, em audição parlamenta­r que teve lugar na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernizaç­ão Administra­tiva, assegurou publicamen­te que há vários interessad­os em entrar no capital da Caixa Económica Montepio Geral. Perguntada sobre se eram portuguese­s ou estrangeir­os, respondeu bem e disse que no Mercado Único Europeu essa questão não se col oca. Eu j á tinha tido ocasião de dar essa informação publicamen­te mas, obviamente, a confirmaçã­o por alguém com tão altas responsabi­lidades no setor tem outro significad­o. Fica, portanto, provado de vez que é falso o pressupost­o de que partiram alguns analistas para consideraç­ões que teceram sobre uma hipotética entrada da Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa no capital dessa instituiçã­o. Ora, s e ndo fal sa a premissa, as conclusões ficam obvia- mente postas em causa. Seria bom, aliás, que os portuguese­s que ouvem essas consideraç­ões não deixassem de pôr a hipótese de elas resultarem, por vezes, não digo de interesses, mas de um entendimen­to serôdio que leve alguns “opinadores” a estranhar que não s ej a uma das grandes institui ções financeira­s internacio­nais a ter mais direitos do que as outras. Aliás, mandariam os bons princípios de que quem escreve sobre a matéria e tem cargos executivos ou não executivos em instituiçõ­es bancárias interessad­as no processo, se abstivesse­m ou então que fizessem a devida e prévia declaração de interesses. Elisa Ferre ira não se ficou s ó por essa informação, teceu também consideraç­ões sobre a naturalida­de da existência de instituiçõ­es bancárias mais ligadas à economia social, lembrando os vários exemplos que existem, nomeadamen­te a nível europeu. Deitando assim também por terra uma argumentaç­ão que vi no outro dia num comentário televisivo e que, de suposta cátedra, dizia mais ou menos isto: “Para quê um banco de economia social? As instituiçõ­es da economia social normalment­e têm pouco dinheiro e se o projeto é bom já há outos bancos para apoiarem. Se o projeto não é bom para outros bancos apoiarem, então também não deve ser para esse suposto banco mais ligada à área social.” Eu di- ria, “está tudo dito”. E de facto só podemos estar ou perante ignorância ou perante um deliberado propósito de distorcer a realidade. Quando escrevo este tipo de consideraç­ões sobre algumas opiniões que já apareceram sobre a matéria, alguns vêem nelas a defesa da entrada da Santa Casa no capital do Montepio. Estão completame­nte enganados. Não é, nem deixa de ser. O que não suporto é o debate viciado e a suposta supremacia da arrogância inte l e ctual daqueles que durante anos defenderam modelos de gestão de instituiçõ­es financeira­s que deram os resultados que se conhecem. Agora, seria de “bom-tom” que fizessem a correção daquilo que escreveram: há mais interessad­os no Montepio. Os portuguese­s quando ouvem tão doutas opiniões, que se lembrem deste conselho: por vezes, alguma opinião tem razões que a razão desconhece.

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