Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Entendam-se!
Oimbróglio, espoletado pela imponderada decisão de atribuir um prémio de risco aos inspetores da PJ, é bem a marca do governo cessante. Os polícias e GNR também querem. Os guardas prisionais idem. No geral, em período eleitoral, é ver quem, na administração pública, mais reclama e, simetricamente, quem mais promete. Some-se o aumento das pensões, a descida de impostos e os apoios à habitação, e uma aritmética simples diz-nos: o dinheiro não chega!
Aquele tipo de exigências (muitas justas!) parte do princípio de que, em termos de organização, processos e funcionamento, está tudo bem. Só faltam recursos (sejam mais pessoas ou maiores ordenados ou os dois). A questão seria quantitativa. Ora, a evidência que se acumula é que há, também, e, nalguns casos, sobretudo, um problema de qualidade na organização, nos processos, no funcionamento da qual advém ineficiência e desperdício de recursos. As comparações internacionais ajudam: em diversas áreas, não temos pessoas a menos.
A necessária reorganização carece de uma estratégia (que o governo cessante não tinha), tempo (que uma maioria absoluta tem), capacidade para fazer e resistir aos apelos corporativos para decisões de curto prazo, de matriz
“Estas eleições, tudo o indica, trarão um Executivo mais precário, mais propenso à cedência, envolvendo recursos que seriam necessários para garantir políticas públicas promotoras do desenvolvimento sustentável.”
quantitativa.
Estas eleições, tudo o indica, trarão um Executivo mais precário, mais propenso à cedência, envolvendo recursos que seriam necessários para garantir políticas públicas promotoras do desenvolvimento sustentável. Que fazer? Por detrás do ruído e da crispação, o debate entre os líderes do PS e da AD evidenciou que há base para um acordo. Grita-se para esconder semelhanças básicas, nos propósitos e, até, nas políticas. Não há razão para que não se entendam num conjunto de princípios, da fiscalidade à educação, da saúde à justiça, da habitação à segurança social. Dar-se-ia previsibilidade às expectativas, estabilidade mesmo em ciclos eleitorais, eventualmente, mais curtos. Se assim não for, a instabilidade estará para ficar, para gáudio e proveito dos populistas, em prejuízo do país. Uma política patriótica reclama entendimento! Ingenuidade minha?