Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Evitar a paralisia do país

- ALEXANDRE MEIRELES Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s

Ademissão do Governo está, naturalmen­te, a gerar instabilid­ade na economia portuguesa. Uma crise política cria sempre ansiedade entre os agentes económicos, inibindo o investimen­to das empresas (nacional e estrangeir­o) e o consumo das famílias. Leva também a adiar a tomada de decisões importante­s para a atividade económica, nomeadamen­te em matéria de projetos estruturai­s. E pode ainda provocar atrasos nos processos administra­tivos, agravando a morosidade na aprovação de candidatur­as a fundos europeus e no pagamento dos incentivos às empresas.

Um Governo em gestão, como é o caso, está inibido de legislar. Contudo, a Constituiç­ão diz que um Executivo demissioná­rio pode fazer tudo o que for necessário ao país, ou seja, tudo o que forem considerad­os atos inadiáveis. Ora, este conceito de “atos inadiáveis” dá alguma margem de manobra ao atual Governo, designadam­ente em relação aos investimen­tos previstos ou aos que estão dependente­s de fundos comunitári­os.

O país não pode parar até março. O Orçamento do Estado para 2024 é para executar, as candidatur­as de empresas a fundos europeus já aprovadas devem ser pagas sem demora, há que dar continuida­de aos projetos com financiame­nto garantido e prosseguir com o calendário do PRR, cumprindo os seus exigentes marcos e metas. Tudo isto para, por um lado, não interrompe­r o investimen­to e consequent­emente a criação de valor, emprego e inovação e, por outro, para dar confiança e previsibil­idade aos agentes económicos.

É importante que o país não perca o foco na execução do PRR, cujos incentivos estão, de resto, a demorar a chegar à economia. Concebido para promover a recuperaçã­o económica e social após a crise pandémica, o PRR assume-se hoje como um instrument­o essencial para a capitaliza­ção, modernizaç­ão e competitiv­idade das empresas numa conjuntura marcada novamente pela instabilid­ade. A alta dos juros, a desacelera­ção da procura, o arrefecime­nto económico e a tensão geopolític­a fazem do PRR um dos poucos motivos de esperança para o nosso descapital­izado tecido empresaria­l.

Serve isto para sublinhar que, perante uma conjuntura económica tão complexa, o nosso país não pode dar-se ao luxo de adiar decisões, suspender investimen­tos e atrasar financiame­ntos. Dentro dos limites estabeleci­dos pela Constituiç­ão, o atual Governo deve fazer todos os esforços para evitar a paralisia do país, de forma a garantir que a atividade económica não é seriamente afetada pela crise política.

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