Diário de Notícias

O bonito renascer dos ciclos de cinema

A estreia do objeto de culto que é O Amor Louco faz-nos vontade de um ciclo de Rivette. Não se pode ter tudo talvez porque haja uma fila de espera neste panorama de euforia de ciclos nas salas de cinema. Importante, talvez, perceber o que aí vem nesta nov

- TEXTO RUI PEDRO TENDINHA

ACinematec­a e o novo Batalha Centro de Cinema parecem estar a cumprir as suas missões. Nada, mesmo nada contra, mas os exibidores ultimament­e estão cada vez mais virados para criarem os seus próprios ciclos de cinema, uma tendência que se acentuou após a pandemia. Também nada, nada contra, como se das salas de cinema de exploração comercial pudessem ser geradas micro cinemateca­s para públicos específico­s. Ganha o cinéfilo, ganha toda essa procura em chamar novos públicos, mesmo com o risco de diluição de informação a nível jornalísti­co...

A estreia de um objeto como O

Amor Louco, de Jacques Rivette, é um fruto dessa diversidad­e de programaçã­o, mesmo que não venha de um contexto de um ciclo sobre este cineasta herói da Nova Vaga, acontecend­o num período onde se apresentam um sem número de ciclos e mostras temáticas.

25 de Abril, ciclos para todos os gostos

Dessa fartura saliente-se por exemplo o esforço do Cine-Teatro Turim, que a partir de dia 24 começa o ciclo Liberdade, obviamente pensado para celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos. Entre as escolhas está uma que para muitos pode vir a ser demasiado óbvia, Revolução (Sem) Sangue, de Rui Pedro Sousa, atualmente nos cinemas. Nessas escolhas de programaçã­o cabem ainda Raiva, de Sérgio Trefaut; Outro País, também de Trefaut; Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira e Salgueiro Maia – O Implicado, de Sérgio Graciano.

Mais a centro da cidade, a Midas Filmes preparou no Ideal também um ciclo com o mesmo tema, intitulado Que Farei eu com Esta Espada, um ciclo com obras menos óbvias e com a colaboraçã­o do programa da Cinemateca FILMar. Arranca a 25 de abril e termina dia 30, incluindo filmes como Balada da Praia dos Cães, de Fonseca e Costa, A Fuga, de Luís Filipe Rocha e Que Farei eu Com Esta Espada, do imortal João César Monteiro. Cinema raro com cineastas que ficaram e ficarão sempre da nossa filmografi­a.

O Cinema Medeia Nimas, a sala de cinema do país com maior ritmo de ciclos, tem já para a semana o começo de dois ciclos: Japão Eterno, com os filmes marcantes dos grandes mestres japoneses “conhecidos”, e Marlon Brando – Centenário do Nascimento, com uma mão cheia de projeções onde um dos maiores atores de sempre é a estrela. Desse Japão cinéfilo, destaque para O Herói Sacrílego, de Mizoguchi, título que não fez parte da última retrospeti­va que a Medeia lhe fez, bem como Rapsódia em Agosto, saudoso filme de Akira Kurosawa, com um Richard Gere que não quis cobrar cachet.

Seguindo para norte

Mais a norte, em Coimbra, na Casa de Cinema, em meados de maio está a ser preparado um ciclo chamado Palco e Tela: Diálogos entre Cinema e Teatro. A programaçã­o da equipa de Tiago Santos parece estimulant­e e vai de Bergman a Oliveira, passando por Cassavetes a Lars von Trier. Era bom que depois dessas sessões houvesse sempre um debate...

No Porto, outra sala com bom gosto para ciclos, o Cinema Trindade, também em maio, está em fase de esboço um ciclo de cinema argentino, algo bastante oportuno numa altura em que já não temos a mostra AR, dedicada ao cinema desse país, e pela constante renovação de estilos dessa cinematogr­afia.

De relembrar que no Batalha Centro de Cinema prossegue o ciclo em torno de Jane Campion, Sem Cedências e Se o Cinema é uma Arma, um conjunto de filmes para tentar perceber se esta arte pode ter um capital de libertação. Ainda assim, é em maio que esta sala do Porto volta a propor o The Last Movie, um programa em torno dos últimos filmes vistos por personalid­ades internacio­nais. Um ciclo macabro em funciona em jeito de maratona noite adentro de 4 para 5 de maio.

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Revolução (Sem) Sangue, programado num ciclo inevitável do 25 de Abril, no renovado Turim.

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