Psicóloga explica letra a letra
Era-me exigido, nas consultas, que me comportasse de determinada maneira, que me vestisse de certa forma. Foi questionado o facto de estar numa relação com uma rapariga. Tudo porque não eram características que deviam estar numa rapariga. Demorou muito tempo”.
Hoje, ostenta barba e mamas. “Quero viver como sou. Há alturas em que quero expressar-me de forma superfeminina; outras masculina; outras, ainda, andrógina.”
Pelo meio enfrentou desafios e preconceitos. “No trabalho foi complicado. Cheguei a ter pessoas a dizer que já podiam assediar-me porque eu já era uma rapariga, passei por situações muito violentas.”
Hoje estará na Marcha Dia da Visibilidade Trans por entender que “as pessoas LGBT têm uma dificuldade enorme no acesso à habitação. As pessoas não-binárias continuam a não ver a sua identidade reconhecida. Temos de ter leis que permitam a proteção das pessoas trans, lésbicas, gays e intersexo, por exemplo no acesso à procriação medicamente assistida”. E continua: “Quando nascem crianças intersexo, é-lhes observada a genitália e, de acordo com decisão médica ou das pessoas responsáveis, há uma cirurgia para aquele bebé continuar como rapaz ou rapariga. Isto é uma mutilação, um problema de Direitos Humanos, porque estamos a normalizar corpos sem aquela criança ter autonomia para decidir o que quer para a sua vida e, muitas vezes, ao crescer, não se identifica com o género que lhe foi imposto.”
“Sentia-me condicionada”
Fil Botelho tem 30 anos e nasceu rapariga. Cresceu no Alentejo “onde não havia informação”. “Acabei por passar a maioria do tempo como rapariga heterossexual”, conta a música, que toca clarinete. “Sentia-me muito condicionada no que tocava à roupa e às expectativas que tinham de mim, enquanto mulher e nas quais não me enquadrava”, explica.
Sente-se não-binária e prefere ser tratada por nomes neutros. “Basicamente, acrescenta-se um ‘e’ no final da palavra. Por exemplo, bonito diz-se bonite.. Mas já passou por uma fase lésbica. E sentiu dificuldades. “Tive bastantes problemas em arranjar casa. Houve bastantes situações em que fui rejeitada quando o senhorio via que éramos um casal lésbico. E era flagrante: corria tudo bem até nos verem como casal e, nesse caso, diziam que tinha aparecido outra pessoa para arrendar. Ou então, se íamos as duas ver a casa faziam de tudo para que a visita acabasse rápido e recusavam-nos, tudo isto mesmo tendo nós capacidade económica e fiadores.”
“É frustrante. Quando somos discriminades: além de ficarmos tristes e abatides o mais pesado é a sensação de solidão. É como se nós não existíssemos. Somos rejeitades pela diferença”, afiança Fil.
“Ando a fluir entre géneros”
Mari, 31 anos, é “professor”. Nasceu mulher, mas explica: “A minha experiência é de andar a fluir entre os géneros masculino e feminino. Por isso, umas vezes uso pronomes e nomes masculinos; outras femininos.” Mari revela que “desde criança que havia a sensação de que tinha de seguir um papel que não era o [seu], no caso o de mulher”.
Na escola onde dá aulas, já tem sentido o peso da diferença. “No Secundário tenho alguns alunos com 18 anos. Muitos fizeram questão de dizer que votaram no Chega e tentaram irritar-me.” Por parte dos colegas já ouviu, em surdina, “conversas homofóbicas e transfóbicas”. “Tenho a sensação de que se eu ficar apenas no papel feminino as coisas correm melhor. Se me quiser impor, ou pedir para me tratarem por género neutro, já não é bem assim.”
Os amigos aceitaram Mari. Com a família “ainda está a ser um processo”. “Acabo por estar num papel em que tenho de educar as pessoas em relação à minha identidade. E os nossos familiares também têm os seus tempos para se conseguirem encaixar nestas realidades.”
L“Lésbicas. O conceito tem a ver com a orientação sexual e designa mulheres que sentem atração sexual e romântica por outras mulheres. Em termos de género identificam-se como mulheres.”
G“Gays. O termo também tem a ver com a orientação sexual de homens, que se enquadram no género masculino, mas que se sentem atraídos de forma romântica e sexual por outros homens, pessoas do mesmo género.”
B“Bissexuais são indivíduos que se interessam por pessoas de género masculino, feminino ou mesmo pessoas não-binárias. A bissexualidade não tem a ver com a identidade de género e varia de pessoa para pessoa.”
T“Trans. São pessoas que não se identificam com o género que lhes foi designado à nascença. Por exemplo, podem ter nascido com uma genitália masculina e sentir-se do género feminino.”
Q“Queer. São pessoas que por orientação sexual, expressão de género ou identidade de género não se conformam com o que a sociedade lhes impõe. Transgridem o que é a norma social.”
I“Intersexo. São pessoas que têm características biológicas que não se enquadram naquilo que nós, mamíferos, designamos por macho e fêmea. Podem ser questões hormonais ou até incluir variações na genitália.”
“Assexuais. Estas pessoas não sentem interesse, vontade ou desejo em ter relações sexuais ou românticas, mas podem ter relações sexuais a solo, na busca do seu próprio prazer.”
A“Vivemos numa sociedade que é homofóbica, transfóbica, interfóbica. Temos um discurso negativo no que toca a uma orientação sexual não-heterossexual.” Sara Malcato Psicóloga da ILGA
“Há uma grande variedade: Pessoas não-binárias, pansexuais, demissexuais. Um não-binário não se identifica com os géneros masculino e feminino ou flui entre eles; um pansexual sente atração por alguém, independentemente do género; um demissexual precisa de ter um vínculo/conexão intensa para se envolver com outra pessoa.”
Os chocolates vão ficar mais caros nos próximos tempos, impactados pelo valor do cacau, mas a diferença ainda não deverá sentir-se nesta Páscoa, com as empresas portuguesas a garantirem que estão a suportar parte dos aumentos. “O preço do chocolate terá que inevitavelmente aumentar visto que a principal matéria-prima teve nos últimos tempos um aumento exponencial. É impossível aos produtores de cacau absorverem o aumento”, afirmou Pedro Araújo, mestre chocolateiro e diretor da marca Vinte Vinte, à Lusa.
O preço do cacau nos mercados internacionais disparou 150% desde o início do ano e tocou pela primeira vez os 10 mil dólares por tonelada, mas pode ainda não ter atingido o pico. Este aumento, que vai sentir-se em todos os produtos que têm o cacau como o seu principal ingrediente, não deverá sentir-se já na Páscoa, uma vez que o chocolate “ainda foi feito com o cacau em stock”, comprado a preços mais baixos.
A Páscoa será um período de alguma apreensão para as empresas que produzem chocolate, uma vez que os consumidores vão ser também afetados pela incerteza dos mercados. Pedro Araújo antevê que os preços “comecem a subir já no verão”, embora ressalve que o principal aumento deverá ser sentido no outono, “altura em que começa o grande consumo de chocolate”.
A Vinte Vinte lembrou ainda que, durante décadas, o preço do cacau transacionado em bolsa tem-se mantido “muito estável”, enquanto o preço do chocolate para o consumidor cresceu. “Na realidade, o cacau tem-se mantido anormalmente baixo, originando graves problemas na distribuição de valor ao longo da cadeia. A última vez que o preço do cacau atingiu valores tão altos foi no choque petrolífero da década de 70”, assinalou a empresa deVila Nova de Gaia.
Por sua vez, a Arcádia, empresa que nasceu no Porto, em 1933, também avisou que o preço do chocolate para o consumidor terá de aumentar, apesar de assegurar que vai suportar parte do aumento dos custos. “Esta subida de preço tem uma componente na base, por escassez de produto derivado a más colheitas nos produtores, mas tem também outra componente de especulação dos mercados”, sublinhou.
A Arcádia disse ainda que, numa primeira fase, alguns dos seus produtos viram o preço agravado, embora de uma forma moderada. Contudo, a empresa garantiu estar a monitorizar esta situação, referindo fazer tudo “para minimizar o impacto no consumidor final”. A empresa espera “uma procura estabilizada” nesta Páscoa, impulsionada pela abertura de sete novas lojas desde o ano passado.
No mesmo sentido, a Imperial, dona de marcas como Regina, Jubileu ou Pintarolas, garantiu estar a fazer um esforço para passar “o mínimo possível dos aumentos nos custos de produção para os consumidores”, garantido também a sustentabilidade do negócio. “Este esforço é feito com o objetivo de manter os produtos das marcas Imperial acessíveis ao consumidor português num momento tão delicado”, notou o marketing manager das marcas da Imperial, Francisco Pinho da Costa.
A Imperial mantém-se otimista quanto ao consumo na Páscoa, época festiva que representa o momento mais importante para as vendas da empresa, ao pesar 40% do volume de negócios total. Da fábrica de Vila do Conde, saíram, nesta época, aproximadamente, 400 toneladas de amêndoas.