Diário de Notícias

IVA zero deverá prolongar-se por mais nove dias em janeiro

APED solicitou ao Governo que o fim da medida se concretize apenas a 10 de janeiro para dar tempo aos súper e hipermerca­dos de reporem os preços com IVA em mais de 7 mil artigos. O diretor-geral da Centromarc­a lembra que, no imediato, o fim do IVA Zero “v

- TEXTO ILÍDIA PINTO

A grande distribuiç­ão considera que seria importante o próximo Governo ponderar os vários escalões e taxas de IVA.

Ofim do IVA zero numa seleção restrita de bens alimentare­s deverá prolongar-se durante uma semana mais do que o previsto, de modo a dar tempo aos operadores do retalho alimentar para se adaptarem à reposição dos preços com o imposto. A medida termina oficialmen­te a 31 de dezembro, mas a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuiç­ão (APED) solicitou ao Governo o seu prolongame­nto e a entrada em vigor dos novos preços a 10 de janeiro de 2024.

“O Governo foi sensível aos nossos argumentos de que não estaríamos em condições de, a 2 de janeiro, ter as nossas operações e pessoas com capacidade para reporem o IVA em mais de sete mil produtos em loja”, refere o diretor-geral da APED. Gonçalo Lobo Xavier explica que, na última reunião da comissão de acompanham­ento do pacto do IVA Zero, na qual estiveram presentes os secretário­s de Estado da Agricultur­a, do Comércio e Adjunto do primeiro-ministro, o tema foi abordado e “foram sensíveis aos argumentos apresentad­os”.

Por esclarecer está ainda qual a ferramenta jurídica a ser usada. A APED sugeriu que o prolongame­nto da medida, por mais nove dias, fosse introduzid­o no Orçamento do Estado para 2024, mas o Governo não quis, e ficou de analisar a questão processual, que pode passar, por exemplo, por uma adenda ao diploma que instaurou o IVA Zero.

“São nove dias vitais para prepararmo­s toda a reposição dos preços nas prateleira­s e nos sistemas informátic­os”, diz Lobo Xavier, que fala numa “questão de ordem prática e de respeito pelos trabalhado­res”, dado que a operação logística associada à mudança é “grande e complexa”, sobretudo num período pós-Natal e Ano Novo, em que se assiste também à entrada em vigor das novas tabelas de preços. Recorde-se que, já no arranque da medida, foi necessário dar tempo aos operadores para se preparem. Por isso mesmo, o Pacto para a Estabiliza­ção e Redução de Preços dos Bens Alimentare­s foi assinado a 27 de março, entre o Governo e os setores agrícola e da distribuiç­ão, mas o IVA Zero só entrou formal

mente em vigor, em todas as lojas em Portugal, a 18 de abril.

Sobre os preços em vigor em 2024, o diretor-geral da APED assume que a pressão “é grande” e que estes podem “aumentar considerav­elmente”, recusando, no entanto, “arriscar qual a sua dimensão”. “Felizmente, a inflação está a descer,

mas há mercados que continuam muito pressionad­os, designadam­ente, os cereais, alguns frescos, como os ovos e a carne de vaca e de frango, enfim, tudo o que está mais ligado às rações animais”, refere.

APED fala de harmonizaç­ão do IVA com Espanha

Não sendo possível o prolongame­nto do IVA Zero – uma medida que defendia por considerar que “teve efeitos positivos sobre o orçamento das famílias –, a APED considera que seria importante que o próximo Governo aproveitas­se para ponderar os vários escalões e taxas de IVA, avaliando a sua eficácia e a sua eventual harmonizaç­ão face a Espanha, por exemplo.

Para a associação, não faz sentido que alguns produtos alimentare­s sejam ainda sujeitos a taxa máxima de IVA, como é o caso de algumas conservas, mas não só. “Queremos lançar o debate e a reflexão sobre, numa primeira análise, a reorganiza­ção dos produtos pelos diversos escalões e, numa segunda fase, baixar os escalões ou reestrutur­á-los para os adaptar a uma realidade mais justa para os cidadãos”, defende.

Uma alteração reclamada também pela Centromarc­a, a associação que representa os fabricante­s de produtos de marca. “Basta analisar-se o Código do IVA para se perceber que é uma manta de retalhos que não faz sentido e que hoje representa mais uma confusão do que propriamen­te uma solução. Era importante nesta altura aproveitar o fim do IVA Zero para colocar este imposto de uma forma harmonizad­a para todos os produtos alimentare­s, o que facilitari­a a vida a toda a gente e até para o próprio Estado”, defende Pedro Pimentel.

Com ou sem alteração mais profunda, como reclamado inclusivam­ente pela CIP e pelos representa­ntes da indústria agroalimen­tar, o diretor-geral da Centromarc­a lembra que, no imediato, o fim do IVA zero “vai gerar um aumento da taxa de inflação de, no mínimo, um ponto percentual”.

Isto, numa altura em que os dados das vendas do retalho alimentar mostram “uma certa estabiliza­ção do efeito da inflação que, embora mantendo-se, começa a sentir-se de forma mais controlada na área alimentar”, argumenta.

E os dados da Nielsen dão-lhe razão. Os mais recentes são referentes a setembro e mostram que, no acumulado dos primeiros nove meses do ano, as vendas do retalho alimentar cresceram 12,8% em termos homólogos, para um total de 10 298 milhões de euros. São mais 1165 milhões de euros do que no ano passado.

Numa análise mais fina percebemos que o aumento das vendas, em valor, no comércio alimentar se manteve praticamen­te todo o ano a dois dígitos, mas, de junho em diante tem vindo a desacelera­r. Ou seja, atingiu o pico de 16,9% em fevereiro, aproximou-se novamente em abril/ maio, com 16,4% de cresciment­o homólogo, mas, desceu para 13% em maio/junho e para 11,5% em junho/julho. Desde então tem-se mantido em torno dos 10%. A análise dos Scantrends da Nielsen é feita por quadrissem­anas, o que faz com que os dados, por vezes, abranjam metade de um mês e do seguinte.

O cresciment­o das vendas, em valor, é transversa­l a todas as tipologias de produtos, com especial destaque para a área alimentar. Dos 10 298 milhões deixados pelos portuguese­s nos súper e hipermerca­dos, 4140 milhões foram para artigos de mercearia, 1823 milhões para laticínios e 803 milhões para congelados. Há um ano, as famílias tinham gasto 9133 milhões de euros no total, sendo 3635 milhões em mercearia, 1553 milhões em laticínios e 703 milhões em congelados. As marcas da distribuiç­ão, os chamados produtos de marca branca, pesam hoje 44,4% no valor total das vendas de retalho alimentar quando, há um ano, estavam nos 40,1%.

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