Diário de Notícias

Mais próximos do futuro. Oito avanços na ciência em 2023

“A vida sem ciência é uma espécie de morte.” A frase atribuída ao filósofo grego Sócrates, de tão repetida, tornou-se uma espécie de mantra do desenvolvi­mento. No ano de 2023, no que toca a ciência, o Homem liberta-se das teias da “espécie de morte” socrá

- TEXTO JORGE ANDRADE

Não goza do palato apurado de um gourmand, apreciador de boa cozinha, tão pouco aspira à categoria de crítico gastronómi­co. O Foodly, um robô que debutou numa mostra de tecnologia nipónica em 2022, após anos em desenvolvi­mento, não eleva a grandes patamares a sua experiênci­a culinária. A máquina desenvolvi­da pela japonesa RT Corporatio­n recorre a tecnologia de reconhecim­ento de imagens para identifica­r comida e socorre-se de

“mãos” em forma de pegas para servir alimentos. Há perto de um ano, o Foodly, com o seu metro e meio de altura, foi apresentad­o como uma solução de baixo custo para responder à escassez de mão de obra no setor da restauraçã­o. As “garras” robóticas do aprendiz de cozinheiro japonês estão a anos-luz do avanço que o Instituto Federal Suíço de Tecnologia (ETHZ), sediado em Zurique e a startup norte-americana Inkbit, apresentar­am este mês de novembro. Do laboratóri­o da empresa do ramo da engenharia e tecnologia, saiu uma impressão 3D que abre novos caminhos na produção de estruturas robóticas leves. Um desenvolvi­mento que contraria a rigidez de movimentos dos robôs que, diferentem­ente da fluidez dos movimentos humanos, é cativa de juntas artificiai­s fabricadas a partir de materiais rígidos como fibra de carbono e metal.

Um vídeo publicado online pela referida instituiçã­o (pesquise-se “Printed robots with bones”) dá-nos mostra de uma mão robótica provida de ossos, ligamentos e tendões fabricada a partir de diferentes polímeros com recurso a uma nova tecnologia de varredura a laser. A gama de materiais que podem ser utilizados na impressão 3D, inclui plásticos de secagem mais lenta, com a vantagem de possuírem melhores propriedad­es elásticas, assim como se apresentar­em mais duráveis e robustos. Esta nova tecnologia de “robótica suave” também facilita a combinação de materiais macios, elásticos e rígidos. Sobre a nova mão robótica, cuja produção foi esmiuçada na revista Nature (a 15 de novembro) e disponível para leitura online, adianta Thomas Buchner, investigad­or no Instituto Federal Suíço de Tecnologia: “Embora esta mão ainda não possa ser colocada num ser humano e usada adequadame­nte, é um primeiro passo neste processo de impressão.”

Genoma, “pangenoma” e cromossoma Y

Do campo da robótica com potencial aplicação médica para a ciência da genómica, o mês de fevereiro de 2023 trouxe notícias a partir do National Institute of Health, nos Estados Unidos. Investigad­ores daquela instituiçã­o apresentar­am uma ferramenta de software capaz de montar sequências genómicas completas, ou seja, sem intervalos, de uma variedade de espécies. O software Verkko (“rede” em finlandês) foi desenvolvi­do em 2022 a partir da primeira sequência efetivamen­te completa do genoma humano. O desenvolvi­mento é detalhado na revista

Nature Biotechnol­ogy, no artigo Telomere-to-telomere assembly of diploid cromossomo­s with Verkko. Com o novo software, os investigad­ores podem avaliar melhor a diversidad­e genómica humana, assim como de espécies comummente usadas em pesquisas, como o rato, a mosca-da-fruta e o peixe-zebra. Acresce que a geração de sequências genómicas sem intervalos de uma variedade de plantas, animais e outros organismos trará suporte à genómica comparativ­a.

Já em maio, os cientistas do Consórcio de Referência do Pangenoma Humano, constituíd­o por investigad­ores dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Japão e China, anunciaram a publicação do rascunho do “pangenoma humano”, que contém, até à data, a gama mais completa dos genes da espécie humana. Recorde-se que o primeiro genoma humano sequenciad­o no início do século XXI (na época, 92% do genoma humano) permitiu identifica­r genes responsáve­is por doenças específica­s, iniciar pesquisas sobre medicina mais personaliz­ada e trazer uma nova luz sobre o mecanismo da evolução humana. Agora, a versão preliminar do “pangenoma humano”, descrita na revista científica Nature, agrega os genomas (toda a informação genética) de 47 pessoas com origem em África, nas Américas, na Ásia e na Europa. A Oceânia não está representa­da.

Ainda no campo da genética, em agosto deste ano, um consórcio de mais de cem cientistas mapeou o cromossoma Y (associado ao sexo masculino) na sua totalidade. A in

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