Diário de Notícias

Há por aí algum adulto na sala?

- António Capinha Jornalista

Na verdade, há muito que não se via a vida política entrar em território tão pantanoso! O país, em plena crise política, está adiado para se discutirem ninharias, e dois dos protagonis­tas à liderança do PS, Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro (este último o melhor ministro do Governo), “caminham” por um discurso quase autofágico.

Os dois candidatos do PS falam um para o outro em vez de se dirigirem ao país. Um duelo palavroso e inútil sobre quem combate melhor a direita. É curioso, sendo, ambos, ex-ministros do Governo de Costa falarem do combate à direita. Por onde andaram até agora?

Estarão esquecidos que o Governo de António Costa, do qual ambos fizeram parte, ao intitular-se de esquerda, praticou uma política de austeridad­e, de direita, fundamenta­da nas cativações orçamentai­s e nos aumentos de impostos indiretos!

Estarão desmemoria­dos quanto à situação desastrosa em que se encontra o país nas suas componente­s sociais da saúde, habitação e educação? Acham mesmo que o que consideram o combate à direita tem sucesso com a política que António Costa desenvolve­u ao longo de oito anos?

Na disputa do Largo do Rato ressalve-se o terceiro candidato, o mais discreto, genuíno, teimoso, Daniel Adrião que, longe desta narrativa costista, tem o mérito da persistênc­ia e da sinceridad­e da entrega à causa socialista na sua quarta candidatur­a à liderança do PS.

Depois no “recreio” político temos um diálogo (?) imprevisto entre Costa e Marcelo.

Quem disse o quê na reunião do Conselho de Estado! Quem pediu a comparênci­a da procurador­a-geral da República (PGR) em Belém para clarificar aspetos relacionad­os com o comunicado que originou a demissão de António Costa.

Mais! Quem escreveu esse comunicado? Quem é o responsáve­l pelo parágrafo assassino do comunicado que, politicame­nte, atirou com António Costa para as cordas!

Neste linguareja­r, as instituiçõ­es vão ficando pelas ruas da amargura. O Presidente da República deixa-se levar num pingue-pongue palavroso que destrói cada vez mais o seu capital de respeitabi­lidade, a sua autoridade. António Costa vai-se vitimizand­o, usando São Bento como se nada tivesse acontecido. Como se a sua situação não fosse a de um primeiro-ministro a prazo que, a 29 de novembro, entra em gestão. Como se a sua demissão não se devesse a um acumular de erros políticos, más decisões, péssimas escolhas, autoritari­smo, arrogância, falta de transparên­cia, ausência de um desígnio nacional para o país.

A justiça vive dias conturbado­s. Assistimos a uma destruição de alguns dos principais pilares do sistema judicial, seja por via dos erros cometidos no mais mediático processo da última década, seja pelas críticas que vão surgindo de setores socialista­s ou de dentro, como recentemen­te aconteceu com a procurador­a-geral adjunta, Maria José Fernandes, que veio acusar o MP e os procurador­es de fazerem “buscas sem utilidade” e desencadea­rem “meios de prova humilhante­s”, como se a senhora, num passe de mágica, tivesse, agora, saltado para fora do edifício institucio­nal da PGR.

Caros leitores, como vos disse, em crónicas anteriores, vão ser cinco meses penosos, se esta narrativa doentia e desmobiliz­adora não se alterar.

Longe disto há um país que vai ficando para trás, um país estupefact­o, descrente de alguma classe política, desconfiad­o da credibilid­ade das instituiçõ­es.

Portugal tem tanto por fazer. Há uma enorme dimensão de assuntos para tratar. Metas por conseguir. Objetivos por alcançar. Propostas por executar, enquanto, alguns, protagonis­tas da causa pública, se desgastam em palavrosos duelos desprovido­s de sentido e de conteúdo de interesse para o país.

Que pensará de tudo isto o Presidente da República?

Caramba, não haverá por aí um adulto na sala, que ponha ordem na casa?

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