Diário de Notícias

O Natal da Disney com a marca do centenário

Tudo se passa num reino encantado, onde o rei guarda os desejos dos seus súbitos. Asha tenta ser a aprendiz do rei mas, depois de uma entrevista de trabalho que corre mal, radicaliza-se e começa a questionar a ditadura dos direitos concedidos ou recusados

- TEXTO RUI PEDRO TENDINHA

O Natal já está aí nas salas. Amanhã chega o presente da quadra da Disney, Wish: O Poder dos Desejos, fantasia sobre um reino onde há desejos no ar para serem concedidos. O DN falou com os produtores desta animação e a estrela pop, Julia Michaels, responsáve­l pelas canções.

No ano em que a Disney celebra 100 anos surge agora uma nova longa-metragem pensada para ser a cereja no topo do bolo do aniversári­o. Wish: O Poder dos Sonhos, de Fawn Veerasunth­orn e Chris Buck, é também o filme de Natal da ordem. Uma fábula musical sobre sonhos e um reino mágico, uma espécie de auto-homenagem ao próprio espírito da casa do Rato Mickey.

Tudo se passa num reino encantado onde o rei guarda os desejos dos seus súbitos. Uma adolescent­e chamada Asha tenta ser a aprendiz do rei, mas, depois de uma entrevista de trabalho que corre mal, cedo se radicaliza e começa a questionar a ditadura dos direitos concedidos ou recusados. Por magia, um dos seus desejos é concedido e recebe dos céus uma estrela mágica que a segue por todo o lado, um pouco como a Sininho, de Peter Pan.

Asha tenta salvar o reino da tirania do rei vaidoso, lutando para que os desejos de todos sejam concedidos. Com a ajuda de amigos que trabalham na corte, a revolução começa a ser posta em prática por entre muitas canções, todas elas compostas por Julia Michaels, compositor­a conhecida por dar êxitos a Justin Bieber, Selena Gomez e Demi Novato. Um artista pop que é também uma estrela por direito próprio, não sendo por acaso que a sua voz é predominan­te nestas canções.

Numa sessão de Zoom esta semana, à qual o DN teve acesso, Julia confessou que Chris Buck, um dos realizador­es do filme lhe deu carta branca para ser igual a si própria: “Ainda assim, em certos momentos tive muitas dúvidas no processo – sou terrível a criticar-me –, pensei muitas vezes que não estava a fazer as coisas certas. Tentei diferentes variações e, certas vezes, voltámos ao primeiro instinto. Compus as canções de forma bastante orgânica e a música saiu com a ajuda de muitas colaboraçõ­es, sobretudo quando não tínhamos nada para ver, apenas storyboard­s. Foi nessa altura que escolhemos quem poderia cantar esta ou aquela canção. Discutíamo­s muito as motivações das personagen­s, o que elas poderiam estar a pensar.”

Palavra a um oscarizado

Também virtualmen­te, o DN teve acesso ao produtor oscarizado Peter Del Velcho, que recusou a ideia de este filme ser pensado somente para a falange de fãs de Frozen – O Reino do Gelo, precisamen­te o filme que lhe deu o prémio da Academia. “Não, Wish é mais do que isso, mesmo se pensarmos que tem algumas das pessoas que criaram os filmes Frozen, mas a verdade é que fizemos questão de convocar sangue jovem. Na essência é uma história muito própria, embora possa dizer, pelas reações das pessoas nas antestreia­s, que a ligação é muito semelhante ao que aconteceu com os dois Frozen. Isso é bom sinal”.

Recorde-se que Frozen é hoje um marco de referência para crianças de uma geração recente, um caso de apego emocional tão ou mais forte que O Rei Leão numa outra geração, sobretudo para as meninas.

A jovem vedeta pop tem dúvidas igualmente se a colagem a Frozen é tão evidente: “Diria que são filmes mesmo diferentes, ainda que todos os filmes Disney tenham um impacto enormíssim­o, e é óbvio que espero que Wish tenha a mesma relevância. Estou a torcer para que possa ver as meninas a cantar as minhas canções e a vestirem-se como Asha! Esse é o meu sonho. Já fui uma dessas meninas. Cresci a querer ser Cinderela. Vamos ver como é o efeito deste filme. Quero que possa tocar todos os tipos de público e ajude pessoas a acreditare­m nos seus sonhos ou que não as façam desistir dos seus desejos e possam ir atrás deles com o seu esforço.”

A pressão dos prémios

Numa altura em que já se começa a pensar que a Disney é uma das favoritas para vencer de novo o Óscar de Melhor Animação, mesmo com a concorrênc­ia de Miyazaki e o seu supremo O Rapaz e a Garça, o produtor procura afasta o tema. “Estes filmes são verdadeiro­s processos de colaboraçã­o. Trabalhamo­s com compositor­es, desenhador­es, ar

gumentista­s e tudo se torna deveras especial. Quando chega aos cinemas deixa de ser o nosso filme e fica das pessoas. É, depois, cada espectador quem nos diz o que pensa, e isso é o mais importante para nós. Depois, claro, se formos nomeados e reconhecid­os pelos nossos pares, é fantástico. Se Wish for nomeado é uma bênção para o estúdio.”

Também Julia fala sobre os Óscares com um sorriso tímido: “Claro que ganhar um Óscar seria seria um desejo, mas já era muito louco ser nomeada! Aliás, nunca imaginei fazer parte de uma animação da Disney, nem que a possibilid­ade dos Óscares pudesse existir no meu mundo. Não tenho expectativ­as nenhumas, mas seria a coisa mais mágica que me poderia acontecer. Seria surreal estar nos Óscares.”

Seria estranho se não estivesse, mesmo tendo em conta que parte da imprensa americana não esteja em lua de mel com este filme, precisamen­te no mesmo ano em que Elemental, da Disney-Pixar, também foi algo maltratado pela crítica.

O peso da tradição do filme de animação

Em Portugal, a Disney continua a dominar o mercado dos filmes infantis e não deve ser difícil antever o trono do campeão de bilheteira­s desta temporada (os filmes de animação continuam a ser uma das mais fiáveis bombas de oxigénio das bilheteira­s nacionais), mesmo sem vozes conhecidas nas canções. Na versão americana, além de Julia Michaels, há aposta em nomes que vão de Ariana DeBose a Chris Pine, passando por Alan Tudyk.

Julia Michaels não se esquece da efeméride dos 100 anos daWalt Disney e jura a pés juntos que sempre foi fã do estúdio: “O grande legado de Walt Disney vem dos valores da crença. É uma marca que transmite esperança e a mensagem de que é possível conquistar algo, por muito que seja difícil e que possa haver tentativas falhadas. É bonito esse sentimento, nomeadamen­te para pessoas como eu, uma rapariga nada confiante. Mesmo não sendo real, a heroína de Wish inspirou-me, e fiquei a admirar a sua coragem. Podemos levar essa mensagem de tudo ser possível, basta acreditar. Que legado, hein?”

Uns minutos antes, noutra sala virtual, um outro produtor do filme, Juan Pablo Reyes elogiava a compositor­a: “A heroína acabou por ter muito de Julia – trouxe tanto! Mudámos o argumento em função disso, sobretudo porque é também uma artista muito jovem que quer mudar o mundo. A canção This Is the Things I Get ajudou os argumentis­tas a chegar à génese das personagen­s, em especial do rei vilão e da sua componente narcisista. As canções foram cruciais para encontrarm­os as personagen­s.”

Curiosamen­te ou não, a criação de um vilão galã que esconde um narcisismo masculino metrossexu­al é uma forma muito woke de a Disney não abdicar de estar dentro das modas, já para não falar da etnicidade da protagonis­ta num reino onde todas as raças e credos são bem-vindos. Segundo Peter Del Vecho, Wish não é apenas para meninas de 8 anos: “Fazemos filmes para todos os públicos. Acredito que cada escalão etário encontra aqui coisas com as quais se poderá identifica­r. Uma criança agora vê certas coisas. Quando voltarmos a relançar o filme, daqui a uns anos, verá outras.”

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 ?? ?? O filme estreia-se em Portugal em versão original e dobrada em português. Nesta última, Diogo Morgado dá a voz ao rei vaidoso.
O filme estreia-se em Portugal em versão original e dobrada em português. Nesta última, Diogo Morgado dá a voz ao rei vaidoso.
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O valor da fábula, numa animação feita para voltar a juntar as famílias nos cinemas.
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