Diário de Notícias

Os países medidos pelo medalheiro

- Leonídio Paulo Ferreira

Os Estados Unidos bateram a China, o Japão conseguiu um honroso terceiro lugar como nação organizado­ra (como em Tóquio 1964), a Grã-Bretanha fez melhor do que qualquer outro país europeu, os Países Baixos foram um excecional sétimo classifica­do tendo em conta a população, o Brasil conseguiu ficar à frente de Cuba na disputa entre latino-americanos, a Nova Zelândia merece ser um estudo de caso por obter 20 medalhas (e um 13.º lugar) apesar de só ter cinco milhões de habitantes.

O medalheiro dos Jogos de Tóquio, organizado com base nos ouros conquistad­os, é uma forma de hierarquiz­ar os países, embora mais simbólica do que o PIB ou que o Índice de Desenvolvi­mento Humano da ONU. E se é evidente a disputa entre as grandes potências, hoje entre Estados Unidos e China tal como no tempo da Guerra Fria era entre Estados Unidos e União Soviética, a verdade é que países de várias dimensões jogam muito do seu prestígio internacio­nal na capacidade de conquistar medalhas: por exemplo, a pequena Cuba costuma ser o único rival à altura do gigante Brasil entre os latino-americanos, não o México, a Colômbia ou a Argentina. Este ano os brasileiro­s ficaram à frente, porque apesar de terem conseguido as mesmas sete medalhas de ouro que os cubanos, acumularam mais pratas e bronzes. Em 2016, os brasileiro­s a jogarem em casa, no Rio de Janeiro, também bateram os cubanos, mas em Londres 2012 os ilhéus conseguira­m ficar à frente deles no medalheiro.

Em 29 Jogos Olímpicos da era moderna (ou seja, a partir de Atenas 1896), os Estados

Unidos foram o país líder do medalheiro por 18 vezes. Em Seul 1988, últimos Jogos da Guerra Fria, foram batidos pela União Soviética. Em Barcelona, uma equipa da Comunidade de Estados Independen­tes (todas as repúblicas ex-soviéticas com exceção dos três países bálticos) dominou o medalheiro, mas a partir daí nunca mais os Estados Unidos deixaram de exercer a supremacia em termos de número de medalhas, com a ressalva de em Pequim 2008 a China, cumprindo a regra da superação dos países organizado­res, ter sido líder nos ouros. Tóquio 2020 (na realidade 2021) mostrou como a rivalidade sino-americana (primeiro e segundo PIB mundiais) veio para ficar também no desporto e só no último dia de competição os Estados Unidos conseguira­m ultrapassa­r a China e ser líderes.

Portugal obteve quatro medalhas, o seu melhor resultado de sempre, graças ao ouro de Pedro Pichardo, a prata de Patrícia Mamona e os bronzes de Jorge Fonseca e Fernando Pimenta. E o país também teve mais 11 resultados até ao oitavo lugar, ou seja finalista, o que é bem digno. No medalheiro significou a 56.ª posição, entre duas centenas de países, mais do que os membros das Nações Unidas. No Rio 2016 ficámos em 78.º, em Londres 2012 em 69.º.

Em termos de PIB, Portugal é 49.º, no Índice de Desenvolvi­mento da ONU 38.º. Significa isto que vamos ter de investir muito mais no desporto, a começar pelo escolar, se tivermos ambições de galgar lugares no medalheiro já em Paris 2024. Mesmo que até tenhamos mais medalhas per capita do que americanos e chineses.

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