A história de uma família por onde passa muita história
O Esplendor dos Brunhoff tem como subtítulo a frase em que
condensa o objeto deste livro: O prodigioso destino de uma família
europeia. Quem são os Brunhoff é a pergunta para a grande maioria dos leitores e a resposta que a autora dá é abrangente porque Yseult Williams faz um amplo retrato do clã que alterou o panorama das revistas de moda, entre as quais mais recentemente a Vogue francesa, após outros títulos que encandearam leitores desde o princípio do século XX. No entanto, a magia deste livro – a sua leitura permite usar esta definição – não está apenas no contar da história dos Brunhoff, mas também em inserir as várias gerações desta saga familiar nos momentos históricos em que aquelas vidas se desenrolaram. Yseult Williams biografa com um relato apaixonante todo um tempo que ficou para trás, aquele que influenciou em muito o em que ainda vivemos ao nível da cultura. Como as décadas que percorrem este trabalho são muitas, os contornos sociais e políticos estão sempre a surgir, nem que seja por via da oposição a Bismark, aos efeitos das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a vivência dos tempos terríveis dos campos de concentração alemães, a atração da forma de viver norte-americana. Além dos momentos históricos, vão surgindo personagens da cultura, como Picasso, Jean Cocteau, Coco Chanel, Yves Saint Laurent, alguns dos que colaboraram nas revistas criadas pelos Brunhoff e que mudaram a forma de olhar o mundo ao entrar-se num novo século. Muito interessantes são, entre outras, as páginas dedicadas ao relato do impacto de Sergei Diaghilev através da revolução criativa, mental e estética, que envolve o aparecimento dos Ballets Russes e de como os artistas de várias áreas colaboram no projeto que altera para sempre, não só o bailado, mas a participação na vida cultural que nunca mais terá o olhar do passado.