José Manuel Pedreirinho
Um abraçaço à distância
Quando, em 2014, os arquitetos reunidos em Durban, na África do Sul, aprovaram que o seu congresso mundial de 2020 seria no Rio de Janeiro muito poucos sabiam da existência de um senhor chamado Jair Bolsonaro e ninguém imaginava o que poderia ser covid-19.
Como sempre acontece, esta foi uma escolha renhida entre as várias candidaturas e o apoio empenhado da delegação portuguesa e dos outros países lusófonos foi determinante para o resultado conseguido. No Congresso da União Internacional dos Arquitetos (UIA) seguinte, realizado em Seul, em 2017, ficámos a saber que, a longa negociação com a UNESCO no sentido de se criar um novo evento estava praticamente concluído, e assim o Rio seria durante todo o ano de 2020 a primeira Capital Mundial da Arquitetura.
Para todos nós dificilmente poderia haver uma melhor escolha até porque, o Rio de Janeiro é uma daquelas raras cidades onde o património natural e o construído se conjugam numa harmonia perfeita, e terá sido a única cidade que foi sucessivamente capital de duas nações: de Portugal durante o curto período em que a corte ali se refugiou, no século XVIII, e do Brasil desde a declaração da independência até 1960.
Na sequência destas decisões alinharam-se estratégias, prepararam-se exposições, escolheram-se sítios, reservaram-se hotéis, fizeram-se convites e programou-se todo o tipo de eventos, pois todas estas iniciativas exigem, cada vez mais, programações feitas com grande antecipação. E quando tudo estava programado, tudo houve que repensar, reprogramar e recalendarizar. Ainda na esperança de poder fazer desta reunião o tão necessário encontro presencial, de troca de ideias e de experiências na estimulante vivência daquela cidade, adiou-se por um ano a realização do congresso, mas os compromissos com a Capital Mundial mantiveram a sua comemoração em 2020.
Uma separação que impediu as sinergias que os dois acontecimentos teriam potenciado.
Mas mesmo esse adiamento por um ano rapidamente se percebeu que não iria permitir a realização programada e houve que o reprogramar enquanto encontro feito à distância. Uma telerreunião que vai começar no final desta semana, dia 18, mas em torno da qual se têm vindo a realizar diversas iniciativas.
Será a segunda vez que o Congresso da UIA, onde estão representados os quase 3,5 milhões de arquitetos de todo o mundo, se realiza num país lusófono, depois da que, em 1953, se realizou em Lisboa, num contexto nacional e internacional bem diferentes.
Estiveram então presentes cerca de 500 arquitetos, de 30 países, agora esperava-se um número bem superior aos 5 mil que nos últimos anos têm estado presentes. Apesar do prestígio que alguns arquitetos portugueses então tinham, nada se compara com a realidade atual, em que os arquitetos de língua oficial portuguesa representam mais de 18% do total de profissionais em todo o mundo, e gozam de um raro prestígio e reconhecimento internacional.
Também aqui o tema do congresso, “Todos os mundos num só mundo”, é um desafio aliciante e uma oportunidade que, apesar de não podermos concretizar neste ano, no Rio, não podemos deixar esquecer. Somos mais de 230 mil espalhados por quatro dos cinco continentes e, por isso, debater este tema é tão importante numa época de tantos desafios e especificidades das situações que cada um tem de enfrentar. Desta vez vamos debater alguns dos nossos problemas comuns à distância e, apesar das muitas diferenças, dar mais alguns passos com vista a uma prática profissional, que seja cada vez mais adequada às necessidades das pessoas e do planeta.