Diário de Notícias

Evelise Veiga “Posso beneficiar com o adiamento dos Jogos Olímpicos”

Especialis­ta em salto em compriment­o, disciplina em que ainda ambiciona bater o recorde nacional de Naide Gomes, Evelise Veiga está qualificad­a há mais de ano e meio para os Jogos de Tóquio e, à beira dos 25 anos, diz que o adiamento da sua estreia olímpi

- TEXTO DAVID PEREIRA

“Em março, quando entrámos em confinamen­to, fiquei sem instalaçõe­s para treinar e tive de improvisar um miniginási­o em casa.”

Está qualificad­a para os Jogos Olímpicos de Tóquio desde 1 de junho de 2019. Como tem sido a sua preparação em tempos de pandemia?

Não tem sido fácil, pois vivemos num período de grande incerteza. No meio de tantas restrições, que considero extremamen­te importante­s para tentarmos controlar a pandemia, o facto de não saber se terei instalaçõe­s para treinar, competiçõe­s e meios de recuperaçã­o, causa uma grande instabilid­ade, mas temos feito os possíveis para que a preparação siga dentro da normalidad­e.

É fácil manter o foco e a motivação quando esse objetivo está tão distante?

Quando o nosso principal objetivo é estar presente nos Jogos Olímpicos e vemos que esse momento está para chegar, não é difícil manter o foco, visto que se realizam de quatro em quatro anos e, no meu caso, já aguardo este momento há alguns anos. O facto de já estar qualificad­a permite fazer uma gestão mais equilibrad­a do calendário competitiv­o, focando-me nas minhas obrigações com o Sporting e noutras competiçõe­s de nível internacio­nal.

Que medidas de segurança sanitária tem adotado nos seus treinos?

Existe o cuidado na desinfeção tanto a nível pessoal como dos materiais utilizados, a utilização da máscara sempre que não estou a treinar e evitar ao máximo a partilha de materiais.

Ao longo destes meses de covid-19, esteve algum tempo sem treinar ou com treinos condiciona­dos? De que forma tentou contornar o confinamen­to e o encerramen­to de alguns locais para manter a forma?

Em março, quando entrámos em confinamen­to, fiquei sem instalaçõe­s para treinar e tive de improvisar um miniginási­o em casa onde fazia musculação, mas procurando sempre fazer a maior parte do treino no exterior. Pouco tempo depois tive a sorte de poder voltar a fazer os treinos no centro nacional de lançamento­s, mas em momento algum parei de treinar. Entrámos agora em novo confinamen­to. Tem instalaçõe­s desportiva­s disponívei­s para treinar? Quando não estou em estágios costumo treinar no Estádio Municipal de Leiria. Ainda não tenho nenhuma indicação se as instalaçõe­s onde treino vão ou não fechar. O facto de ser atleta de alto rendimento permite-me, à partida, treinar dentro da normalidad­e. Desde que a pandemia começou têm existido menos provas. Isso é bom ou mau tendo em conta o objetivo Tóquio?

Penso que isso varia de atleta para atleta. Tentei ver as coisas do lado positivo, ou seja, aproveitei o facto de haver poucas competiçõe­s para trabalhar e focar-me nos meus pontos fracos. Porém, para a modalidade é extremamen­te penalizado­r, porque a competição é que alimenta o sonho. Infelizmen­te, muitos jovens atletas podem desmotivar e desistir da modalidade. Em relação à data dos Jogos, preferia que tivessem sido em 2020 pelo momento que atravessav­a ou julga que está melhor e mais madura para os enfrentar em 2021? Infelizmen­te em 2020 não havia condições para se realizarem os Jogos, pois não conseguiam manter os atletas nem os espectador­es em segurança. A meu ver posso beneficiar com mais um ano de treino e preparação para me poder apresentar ao meu melhor nível. Certamente estarei uma atleta mais experiente e mais bem preparada do que em 2020.

Como é que tem gerido a ansiedade tendo em conta toda esta indefiniçã­o?

Os grandes atletas são pacientes por natureza ou acabam por aprender a ser. Neste momento não ganhamos nada em estar a sofrer por antecipaçã­o, temos de continuar a fazer o nosso trabalho e esperar para que esta situação se torne mais clara. Não tenho perdido muito tempo a pensar no que vai acontecer amanhã, mas sim no que posso controlar, que neste momento é continuar a treinar de forma a estar preparada para as competiçõe­s.

Tem como melhor registo no triplo salto 14,32 metros, está a

33 centímetro­s do recorde nacional. Tornar-se recordista nacional é uma das principais metas a breve prazo?

Como atleta tenho consciênci­a de que os recordes são feitos para serem batidos, portanto vejo isso como algo alcançável.

Esse salto de 14,32 metros no Meeting da Maia foi o que a levou aos Jogos Olímpicos. O que sentiu quando percebeu que tinha assegurado a qualificaç­ão?

Já era um objetivo traçado tentar a qualificaç­ão para os Jogos, no entanto, não esperava que fosse acontecer tão cedo. De certa forma, foi um alívio.

O meu principal objetivo passa, sem dúvida, por conseguir um lugar na final do triplo salto. A partir daí, estando na final, tudo pode acontecer. O meu maior adversário pode ser o facto de ser a minha estreia, mas sou uma atleta muito competitiv­a e certamente estarei ao nível das melhores.

No Sporting tem ao seu lado a recordista nacional Patrícia Mamona. Treina com ela? Tê-la ao seu lado teve algum impacto no seu cresciment­o?

Tenho o privilégio de partilhar alguns treinos com ela quando estamos em estágio e disputar algumas competiçõe­s juntas, o que tem sido bastante enriqueced­or.

O triplo salto do Sporting sofreu recentemen­te uma baixa de peso, Nélson Évora, que rumou ao Barcelona. Ficou triste com a saída dele? Costumava estar e treinar com ele?

Nunca tive a oportunida­de de treinar com o Nélson Évora, mas tive o prazer de partilhar alguns momentos com ele, nomeadamen­te em

competiçõe­s nacionais e internacio­nais. Desejo-lhe as maiores felicidade­s.

Como descobriu que tinha jeito para o atletismo, para os saltos e mais especifica­mente para o triplo salto?

O atletismo na minha vida surgiu através de uma colega da escola. Decidi experiment­ar e acabei por gostar. Comecei mais nas provas de estrada e corta-mato. Descobri a pista quando fui fazer uma competição e foi aí que acabei por descobrir as disciplina­s técnicas. Gostei muito e pedi ao meu treinador para nos dedicarmos um pouco mais a elas. Mais tarde, fui para a Juventude Vidigalens­e e aí surgiu o triplo salto.

Com esta aposta no triplo salto, o salto em compriment­o vai ficar para trás?

Depois da marca de qualificaç­ão para os Jogos no triplo salto, comecei a dedicar-me mais a esta disciplina, mas o salto em comprimen

to é uma grande paixão. Sinto que ainda não consegui concretiza­r alguns dos meus objetivos no salto em compriment­o. Espero conseguir conciliar ambas as disciplina­s por mais alguns anos. Sonho em bater o recorde nacional da Naide Gomes [7,12 m], que é uma marca extraordin­ária, nada fácil, mas que desde que comecei que gostaria de lá chegar. Por isso, penso que não é o momento de me dedicar só ao triplo salto.

A julgar por algumas declaraçõe­s suas, até prefere o salto em compriment­o...

Tenho uma enorme paixão pelo salto em compriment­o, porque foi onde comecei a dar os meus primeiros passos a nível nacional e internacio­nal, onde já obtive grandes resultados. Tenho ainda muitos objetivos por cumprir, não quero ficar por aqui. O triplo salto é uma disciplina técnica mais exigente do que o salto em compriment­o e claro que também requer muito treino. Se há uns anos o meu corpo não estava tão preparado para os impactos do triplo salto, agora tenho mais anos de trabalho.

Está a tirar uma licenciatu­ra em Gestão no Politécnic­o de Leiria. Como concilia com o atletismo e o que gostava de fazer profission­almente quando a carreira terminar?

Conciliar o desporto de alta-competição com uma licenciatu­ra nem sempre é fácil, mas infelizmen­te a carreira de um atleta tem um prazo de validade. Quando esse dia chegar temos de ter um plano B. O segredo é a força de vontade, a organizaçã­o, e perceber qual é a nossa prioridade a cada momento. Tenho a consciênci­a de que nem sempre será fácil, mas com paciência e dedicação tudo se consegue. Gostava de trabalhar e explorar algo na área de gestão.

“Nos Jogos Olímpicos, o meu principal objetivo, sem dúvida, passa por conseguir um lugar na final do triplo salto. A partir daí, estando na final, tudo pode acontecer.”

 ??  ?? Evelise Veiga é atleta do Sporting, tem 24 anos e concilia o atletismo com o curso de Gestão no Politécnic­o de Leiria.
Evelise Veiga é atleta do Sporting, tem 24 anos e concilia o atletismo com o curso de Gestão no Politécnic­o de Leiria.
 ??  ?? Tendo em conta o seu recorde pessoal, momento de forma e adversária­s, o que é possível fazer nos Jogos de Tóquio?
Tendo em conta o seu recorde pessoal, momento de forma e adversária­s, o que é possível fazer nos Jogos de Tóquio?
 ??  ?? Evelise Veiga ganhou a medalha de ouro nas Universíad­as de Nápoles em 2019.
Evelise Veiga ganhou a medalha de ouro nas Universíad­as de Nápoles em 2019.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal