ALEMANHA PREPARA-SE PARA O PÓS-MERKEL
TRÊS HOMENS E MAIS UM NA LUTA PELA SUCESSÃO À CHANCELER DEMOCRATA-CRISTÃ
Quase um ano depois de Annegret Kramp-Karrenbauer se demitir da liderança da União Democrata-Cristã (CDU) e após dois adiamentos por causa da pandemia de covid-19, os conservadores alemães escolhem o seu novo líder neste sábado. A corrida é entre três advogados de formação, católicos, do estado da Renânia do Norte-Vestefália, que se estrearam no Bundestag em 1994 – Friedrich Merz, Armin Laschet e Norbert Röttgen. Mas na luta para suceder à chanceler Angela Merkel o favorito é um quarto: o líder dos aliados bávaros da CDU, Markus Söder.
No congresso online que arranca nesta sexta-feira, 1001 delegados vão eleger o próximo líder. Uma vez que este tem sido tradicionalmente o escolhido para ser candidato a chanceler, a corrida seria à partida o primeiro passo para suceder a Merkel – que deixará o poder depois das eleições de 26 de setembro, quase 16 anos após ter assumido o cargo. Mas uma sondagem da Der Spiegel indica que 40% dos alemães acreditam que Söder, o líder da CSU e presidente do estado da Baviera, seria o melhor candidato conservador a chanceler.
O primeiro passo para a CDU decidir o futuro passa contudo por ter um líder. Annegret Kramp-Karrenbauer (ou AKK, como é conhecida) era vista como a herdeira de Merkel e foi eleita em dezembro de 2018, dois meses depois de a chanceler anunciar que não iria recandidatar-se nem a liderar o partido nem a um novo mandato à frente dos destinos da Alemanha. Mas nunca conquistou os eleitores e, depois da confusão eleitoral no estado da Turíngia (onde a CDU acabou por votar ao lado da extrema-direita da Alternativa para a Alemanha), acabou por anunciar a sua saída em fevereiro de 2020.
A pandemia de covid-19 – com quase dois milhões de casos na Alemanha e quase 44 mil mortes (mais 1244 só no boletim de ontem) – obrigou a adiar as eleições inicialmente marcadas para abril. A nova data, dezembro, acabaria também por ser mudada, já em setembro. Ao longo de quase um ano, os três candidatos à liderança têm ficado à espera, o que pode baralhar as contas quanto ao vencedor.
Os últimos preparativos em Berlim no palco do congresso, que será digital.
Nas sondagens ao longo do ano, o favorito à vitória tem sido Friedrich Merz, de 65 anos, que foi derrotado em 2018 por AKK. Antigo eurodeputado e líder do grupo CDU-CSU no Bundestag entre 2000 e 2002, defende uma postura firme em matéria de segurança e de imigração. Um piscar de olhos ao eleitorado que está a fugir para a extrema-direita. Mas o facto de não ter atualmente um cargo importante pode custar-lhe a eleição.
Nas últimas sondagens, Norbert Röttgen, presidente da Comissão das Relações Exteriores do Parlamento, de 55 anos, surge na liderança. Em último aparece Armin Laschet, ex-jornalista de 59 anos, que é presidente da região da Renânia do Norte-Vestefália desde 2017. Controla os 298 delegados do mais populoso estado federal, tendo tido muito destaque na luta contra a pandemia. É visto como moderado e uma continuação de Merkel, apoiando a sua política de porta aberta aos refugiados.
“Numa circunstância normal, diria que Laschet tem vantagem porque representa o centro do parem
tido, mas depois de tanto tempo à espera, uma surpresa também é possível”, disse Martin Kessler, editor de política do jornal Rheinische Post, em declarações à Lusa.
A decisão caberá aos 1001 delegados do partido que participam no congresso, que podem escolher com base em quem acreditam que melhor representa o partido ou fazer cálculos eleitorais a pensar qual dos três pode atrair mais eleitores
setembro. De qualquer forma, o nome do candidato a chanceler terá de ser acordado mais tarde (previsivelmente até março), entre CDU e CSU. Por ser maior, a CDU costuma ditar a escolha, mas já por duas vezes os candidatos da CSU foram escolhidos, acabando derrotados a nível federal.
A popularidade de Söder, de 54 anos, pode contudo mudar isso. Apesar de não ter ainda admitido a possibilidade de ser candidato a chanceler, defendendo que o seu lugar é na Baviera, Söder tem procurado estreitar os laços com os Verdes. O segundo maior partido na Alemanha, apenas atrás da união entre CDU e CSU, é visto como eventual parceiro numa futura coligação. Os planos do líder bávaro podem deparar-se com um obstáculo: segundo o Bild, o ministro da Saúde, Jens Spahn, estará também a pensar numa eventual candidatura. Depois de ter perdido para AKK em 2018, desta vez optou por não se candidatar e apoiar Laschet, havendo quem suspeite de que poderia ser o candidato a chanceler em caso de vitória deste.
Friedrich Merz Eurodeputado de 1989 a 1994, esteve depois no Bundestag até 2009, tendo sido presidente do grupo CDU-CSU entre 2000 e 2002. É da Renânia do Norte-Vestefália e tem 65 anos. Indefinição. Merz surgiu durante quase todo o ano à frente nas sondagens, mas o favorito agora é Röttgen. Laschet é visto como o nome da continuação.
Armin Laschet
Ex-jornalista da rádio, de 59 anos, estreou-se no Bundestag em 1994. Cinco anos depois, foi eleito eurodeputado. Desde 2017 está à frente do governo da Renânia do Norte-Vestefália.
Norbert Röttgen
Outro advogado da Renânia do Norte-Vestefália e deputado em 1994, foi ministro do Ambiente de 2009 a 2012. É presidente da Comissão de Relações Externas do Senado e tem 55 anos.