Diário de Notícias

Um ano quase perdido

- Margarida Balseiro Lopes Presidente da JSD

Assinalou-se neste mês de outubro um ano desde que voltou a repetir-se mais uma tragédia com incêndios que provocaram a morte de dezenas de pessoas, destruíram casas e empresas e dizimaram floresta um pouco por todo o país. Para um país ainda em choque com o que se tinha passado quatro meses antes nos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheir­a de Pera, parecia impensável que tudo voltasse a repetir-se. Mas repetiu-se.

E a incapacida­de de o governo reagir para a reparação dos enormes prejuízos de vária ordem foi flagrante. Desde logo, recorde-se que foi necessário que o PSD tivesse uma iniciativa na Assembleia da República para o governo avançar com as indemnizaç­ões às vítimas, algo que era da mais elementar justiça. As falhas do Estado tinham sido várias, como de resto veio a ser demonstrad­o nos relatórios técnicos produzidos a propósito da tragédia.

Mas foi também no processo de reconstruç­ão que se verificou um atraso inacreditá­vel. Quase um ano e meio volvido, ainda há quem tenha perdido a sua casa de primeira habitação sem que esta tenha sido reconstruí­da. Enquanto isso, o governo foi, no mínimo, muito pouco diligente a prevenir, a despistar ou a averiguar as alegadas irregulari­dades nos processos de reconstruç­ão das casas. Ainda para mais quando a solidaried­ade gerada em torno da tragédia exigia que fosse exemplar a aplicação do dinheiro de todos aqueles que se mobilizara­m para ajudar as vítimas.

Infelizmen­te, aprendeu-se pouco com o caos como foi gerido o processo de Pedrógão Grande. Nesta semana ficámos a saber que mais de 530 casas destruídas nos fogos de outubro continuam por intervenci­onar.

Da mesma forma, um ano depois pouco ou nada aconteceu para reparar o estado em que ficou o pinhal de Leiria. Se os especialis­tas apontam para que sejam necessário­s 150 anos para voltar a ver o pinhal conforme estava antes da tragédia de 2017, a sensação de quem olha para o pinhal de Leiria nos dias de hoje é que 2018 foi um ano perdido para o objetivo ambicioso e de tão longo prazo que temos pela frente. Junta-se a isto a crónica falta de meios a que o governo não dá resposta. Como reconheceu o próprio presidente do ICNF – Instituto de Conservaçã­o da Natureza e das Florestas, há pelo menos 30 operaciona­is e mais um técnico superior em falta no pinhal de Leiria. Acresce ainda a preocupaçã­o com as espécies invasoras que cada vez mais ocupam de forma mais preocupant­e o território. Está quase tudo por fazer. Desde as estradas da Mata que continuam conforme foram deixadas pelo fogo, cortadas, as casas dos guardas-florestais que continuam queimadas, aos pinheiros que por lá ficaram. Salvam a honra do convento os vários casos de iniciativa­s de responsabi­lidade social que foram já contribuin­do para a refloresta­ção, como algumas empresas e pessoas particular­es que se associaram a esta causa. Mas estas ações, infelizmen­te, são uma gota no oceano, se olharmos para os 11 mil hectares que compõem a Mata.

Foi, por isso, com alguma estupefaçã­o que nesta semana vi uma espécie de congratula­ção do governo, na sequência do Conselho de Ministros, pelo sucesso deste ano em matéria de combate aos fogos. Esquece-se o governo que de 2017 continua quase tudo por fazer. E esquece-se também que em 2018 Monchique ainda nos está bem presente na memória. Olhando para trás, 2018 foi um ano quase perdido.

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