As razões progressistas para a realização de leilões para tudo
Os BTS, grupo-sensação da pop coreana, vêm a Londres em outubro, o que significa que o economista infiltrado passou recentemente uma manhã com várias páginas da internet abertas, tentando em vão garantir bilhetes a partir de uma série de sites que pretendiam vendê-los. Os bilhetes do mercado paralelo de proveniência desconhecida estão agora disponíveis a preços elevados.
A luta pelos bilhetes para os BTS não é caso único. O Mundial está a chegar, depois háWimbledon e nem vale a pena falar sobre Hamilton.
Os economistas têm uma solução para tais frustrações há tanto tempo que ela está a tornar-se o nosso cliché. O problema é que uma oferta limitada de bilhetes para os BTS tem um preço muito baixo em relação à procura. Leiloar os bilhetes para os maiores licitadores resolveria esse problema e eliminaria revendedores e candongueiros: se os verdadeiros fãs dos BTS já tivessem submetido os seus lances mais altos no leilão, pouco lucro restaria para os revendedores.
Claro que algumas pessoas acham os leilões detestáveis e os BTS podem não querer ser contaminados por isso. Mas deixando essas dúvidas de lado, o próprio problema da conceção do leilão é mais intrigante do que parece.
O que à primeira vista parece ser uma única mercadoria – bilhetes para espetáculos – é, na verdade, um aglomerado de produtos relacionados. De pé, sentado, na quarta-feira, na quinta-feira, muito atrás, de perto, dois bilhetes para os fãs inabaláveis entre nós ou cinco para toda a família – diferentes combinações desses produtos podem ser apelativas, dependendo dos seus preços absolutos e dos seus preços relativos. E os BTS poderiam estar dispostos a realizar um espetáculo extra na terça-feira também, se houvesse procura suficiente.
Elizabeth Baldwin e Paul Klemperer, economistas da Universidade de Oxford, projetaram softwares de leilão que podem acomodar facilmente tal complexidade. Eu poderia ter apresentado uma oferta para bilhetes nos seguintes moldes: “Cinco bilhetes até 50 libras, ou dois bilhetes até 100 libras, cinco libras extra se for quinta-feira em vez de quarta-feira e até 20 libras a mais pelo pacoteVIP.”
Analisando centenas de milhares de ofertas, agregadas por um computador, os BTS poderiam vender bilhetes aos interessados, mas também poderiam ajustar a oferta ao instalar alguns lugares sentados numa área anteriormente reservada para lugares em pé ou agendar uma data extra na digressão. Isto poderia facilmente permitir condições favoráveis para fãs com lealdade comprovada.
Um uso mais importante (e provável) desse leilão de “combinação de produtos” seria o Tesouro nacional angariar dinheiro a partir dos mercados de títulos. Quanto dinheiro pode ser emprestado e a que prazo dependerá da procura. É mais eficiente combinar num único processo vários leilões de títulos separados.
O Banco da Inglaterra utilizou “leilões de combinações de produtos” para injetar liquidez no sistema bancário. Eles podem ser usados na maioria das situações em que uma variedade de produtos similares pode ser comprada ou vendida em diferentes combinações, dependendo dos preços relativos.
Confesso que tenho um fraco por leilões. Escrevi uma tese sobre o assunto duas décadas atrás, e o Prof. Klemperer era o meu supervisor. Mas até eu hesito perante o radicalismo de alguns economistas, como Eric Posner e Glen Weyl, autores de um novo livro, Radical Markets.
Uma das várias ideias atraentes do livro é, com efeito, que as grandes posses de toda a gente – o carro, a casa – devem estar sempre em leilão. Eu daria um preço ao meu carro, digamos 5000 libras. Ele entraria num registo público pesquisável e, se alguém achasse que o preço era atrativo, poderia comprá-lo. Tendo decidido o preço, eu não teria o direito de recusar.
Se o meu carro tivesse um valor sentimental, eu poderia atribuir-lhe um preço mais alto para garantir que ficava com ele (5000 libras já é várias vezes o seu valor). Mas eu hesitaria em pedir um preço louco, como cinco milhões de libras porque, segundo o sistema de Posner eWeyl, os meus impostos seriam determinados pelo valor autodeclarado dos meus ativos.
Este sistema tem um enorme potencial: impostos simples, justos e progressivos e uma economia mais dinâmica. Seria muito mais fácil desenvolver novas infraestruturas, construir novas casas, comprar o jardim do vizinho e despejar cimento em vilarejos para construir monocarris ou pistas de aeroportos.
Certa vez, tentei comprar um pedaço de quintal subutilizado em Hackney. O proprietário concordou com um preço, depois refletiu, triplicou-o, e o negócio não se fez. Nenhum de nós jamais saberá se um bom negócio foi prejudicado pela nossa postura.
Segundo o sistema de Posner eWeyl, tais questões não surgiriam: negociações mutuamente benéficas não descarrilariam. E a compra compulsória não seria mais uma peça de imposição burocrática contestada: os proprietários ditariam o seu preço (e, portanto, a sua fatura fiscal) e os construtores do aeroporto de Heathrow, do Hyperloop ou do mais recente arranha-céus decidiriam se o pagariam ou não.
Nem toda a gente vê isso como uma vantagem. Eu vejo. Mas a ideia de ditar um preço de venda para tudo o que possuo faz que até mesmo um fã de leilões como eu fique um pouco reticente.
Não é necessário ir tão longe para garantir uma economia mais dinâmica. Antes de considerarmos um leilão para aldeias, rins, vistos de imigração ou para o barracão do meu jardim, espero que pelo menos possamos começar a leiloar bilhetes para ver os BTS.