Fogos Limpeza volta a falhar em municípios de alto risco
Só 13 dos 189 concelhos com alto risco de incêndio garantem limpeza de terrenos. Arronches e Óbidos são os únicos que esperam cumprir prazo de dia 31, tanto nos terrenos públicos como nos privados.
A larguíssima maioria dos municípios que têm território em zona classificada de alto risco de incêndio vai falhar o prazo que o governo estabeleceu para a limpeza dos ter- renos. Dos 189 concelhos que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas considerou precisarem de intervenção prioritária, apenas 13 garantem que vão ter os trabalhos concluídos a 31 de maio.
Arronches, Estremoz, Monção, Óbidos, Odemira, Paredes de Cou- ra, Resende, Sabrosa, Seia, Tomar, Trofa, Valongo e Vila de Rei garantiram ao DN a eliminação dos matos nos terrenos de responsabilidade autárquica – perímetro das vilas, das estradas municipais e dos parques industriais, além dos corredores de evacuação de emergência.
Nos últimos dias, o DN contactou todas as autarquias com freguesias assinaladas como sendo de intervenção prioritária ( ver mapa). Das 148 que responderam, 135 dizem que não conseguem cumprir.
Na contabilidade da limpeza dos terrenos privados, as expectativas são ainda piores. A fiscalização dos particulares, processo que deveria ter- se iniciado a 15 de março, foi prolongada também até ao final deste mês. Mas só Arronches e Óbidos estão a contar com o cumprimento total. Recorde- se que, neste ano, a partir de 1 de junho, os dispositivos de combate aos incêndios da Proteção Civil já estão em fase reforçada. A época de incêndios abre sem que a prevenção tenha sido concluída. Prioridade ainda é reconstruir Quem olha para as zonas vermelhas do mapa do risco de incêndio consegue facilmente identificar duas realidades. Há as faixas que já foram foram fustigadas em 2017 – sobretudo em redor da serra da Estrela – e as que escaparam – com destaque para a linha da raia norte, entre o Gerês e Montesinho, e para a serra algarvia.
“A nossa prioridade ainda é atender as vítimas dos incêndios do ano passado”, diz Rui Ladeira, presidente da Câmara Municipal de Vouzela. A 15 de outubro morreram oito pessoas e ardeu 73% do concelho. “Os meios técnicos e hu- manos de que dispomos estão concentrados a reconstruir casas e currais para os sobreviventes. Faremos a limpeza à medida das nossas possibilidades.”
Em Montalegre, que no ano passado escapou ileso à tragédia, os trabalhos também estão muito atrasados. “Apesar de termos contratado equipas de limpeza e de pedirmos três rebanhos de cabras sapadoras, dificilmente teremos mais de 20% do concelho limpo no fim de maio, entre terrenos públicos e particulares", diz David Teixeira, vice- presidente da câmara com a pasta da Proteção Civil.
O problema principal, também aqui, parece ser a falta de meios. Com o aumento da procura, os preços de limpeza de um hectare triplicaram e já vão nos 600 euros. “Há uma especulação tão grande que alguns proprietários querem entregar os terrenos às autarquias para não terem de limpá- los.” Meio atraso, meio avanço A maioria dos municípios que não vai cumprir o prazo admite pelo menos ter mais de metade
O DN contactou as 189 câmaras que têm terrenos em zonas de alto risco. Das 148 que responderam, 135 não conseguem garantir a limpeza Nas zonas afetadas no ano passado, os meios estão a ser usados para dar apoio a quem perdeu casas e currais nos incêndios Autarcas dizem que preços de limpeza triplicaram e há quem prefira entregar os terrenos às câmaras a limpá- los
dos terrenos tratados. “Apesar de tudo é um avanço tremendo em relação ao passado”, atira David Vaz, vice- presidente da autarquia de Bragança, uma das que têm mais área a precisar de intervenção prioritária. O concelho espera pelo menos 80% do território limpo. “Estamos a ver uma grande mobilização da população também, o que é uma novidade. Mas esta é uma missão hercúlea, dificilmente um concelho que só tenha começado a trabalhar neste ano conseguirá ter tudo pronto a tempo.”
No sul, a mesma história. Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, não confirma ter todos os terrenos tratados, mas “se as coisas correrem bem” até podem chegar aos 100%. “Tenho consciência de que somos uma exceção regional. Começámos a limpar as matas sistematicamente há quatro anos e assinámos um protocolo com o Exército. Estamos inclusivamente a prolongar os nossos trabalhos para os municípios l i mítrofes. Mas há um exagero na prevenção, não pode- mos estar todos os dias em alerta laranja.” A gestão do exagero Confrontado com os dados apurados pelo DN, o Ministério da Administração Interna diz que o prazo para a limpeza dos terrenos ainda não está esgotado e que mais concelhos podem alcançar os objetivos. O gabinete de Eduardo Cabrita repete os argumentos do ministro. “Nunca a prioridade à prevenção dos incêndios tinha assumido esta dimensão” e “o objetivo do governo não é cobrar multas, é que a limpeza seja feita”.
Muitos autarcas, no entanto, dizem que as metas propostas pelo executivo eram simplesmente i mpossíveis de cumprir. Manuel Machado, presidente da Associação Nacional de Municípios, diz que as autarquias “estão a trabalhar na limpeza das faixas de gestão de combustível de acordo com aquilo que é a sua realidade de proteção local”. Ou seja, são estes os ovos que há para a omeleta. Há muito mato para desbravar.