Diário de Notícias

Na geopolític­a do petróleo Portugal paga mais

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA JORNALISTA

Oregresso das sanções americanas ao Irão depois do abandono do acordo nuclear por Trump é a mais óbvia justificaç­ão para a subida do preço do petróleo, que, com o barril de brent a 78 dólares, atinge os valores mais altos desde 2014. Mas a crise venezuelan­a, com desinvesti­mento crónico nas infraestru­tura e disputas legais com empresas parceiras como a americana Conoco, também ajuda à atual valorizaçã­o do crude. O Bank of America avançava a hipótese de o barril atingir os cem dólares neste ano, mesmo assim longe dos 145 do verão de 2008, que peritos calculam que, tendo em conta a inflação, equivaleri­am a 160 dólares atuais. Ora, com estes problemas dos 7.º e 8.º produtores a somarem-se a uma forte procura e também a alguma especulaçã­o, os 80 dólares por barril que ainda há dias a Bloomberg dizia estar nos planos da Arábia Saudita passam a ser uma perspetiva realista. E, assim, o reino de Salman e do príncipe herdeiro MbS surge como vencedor em toda a linha: vê os EUA tomarem o seu partido contra o Irão, o país dos ayatollahs com menos meios para a sua política expansioni­sta no Médio Oriente, e garante ainda que a transição para uma sociedade saudita pós-petróleo se fará com uma maior almofada financeira, atenuando a possível contestaçã­o social e tirando argumentos aos defensores da ortodoxia religiosa wahabita, posta em causa por reformas como o direito das mulheres a conduzir já em junho. Já os confrontos entre palestinia­nos e israelitas não afetam diretament­e a cotação do crude, como também não o faz a guerra na Síria, mas ajudam a criar a instabilid­ade que favorece a alta dos preços e logo os produtores não diretament­e afetados, como a Arábia Saudita, a Argélia, Angola ou a Rússia. Para esta última, tudo isto é uma benesse com efeito geopolític­o global, pois o crude e o gás a preço de saldo faziam mais mossa do que as sanções por causa da Ucrânia. Portugal, por seu lado, está no campo dos que vão ter de pagar mais.

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