Diário de Notícias

SALÁRIOSEM DEZ ANOS, FUNÇÃO PÚBLICA PERDEU QUASE 12% DO PODER DE COMPRA

Última subida salarial foi em 2009. Sindicatos exigem aumentos acima da inflação ou saem à rua.

- LUCÍLIA TIAGO

António Costa veio ontem deitar água na fervura na polémica dos aumentos salariais da função pública no próximo ano, avisando que é “extemporân­eo” falar do tema “em abril de 2018”. Os sindicatos viram nestas declaraçõe­s abertura para que 2019 interrompa um ciclo de nove anos de congelamen­to salarial, traduzido numa perda de poder de compra de quase 12%. E vão aproveitar o 1.º de Maio para pressionar e dizer que um aumento de 1,4%, em linha com a inflação, como defendeu Rui Rio, não chega.

As exigências da função pública ganharam neste fim de semana um aliado político, com o líder do PSD a defender que se há dinheiro para injetar na banca também terá de haver para aumentar os funcionári­os públicos, pelo menos em linha com a inflação. Bloco de Esquerda e PCP têm também deixado claro que 2019 terá de marcar diferença neste capítulo e que o esforço terá de ir além do descongela­mento das progressõe­s – que ficará concluído no final do próximo ano.

Só mais à frente, quando o próximo Orçamento do Estado entrar em negociaçõe­s, se saberá se e qual a fatia de recursos financeiro­s que o governo estará disposto a canalizar para os salários da função pública. Jerónimo de Sousa considerou “perfeitame­nte lógica e aceitável” a afirmação de António Costa de que esta discussão estava a ser feita “fora do tempo”, mas deixou claro ser necessário fazer essa ponderação.

Entre as estruturas sindicais da função pública não se admite outro desfecho para o processo negocial que não seja o de aumentar os salários. É que, se a inflação retirou 11,8% ao poder de compra dos trabalhado­res do Estado, autarquias e regiões, em termos reais a perda é maior – a perda efetiva é 12%, tendo em conta os aumentos da ADSE e do IRS observados de 2009 a 2014, refere o economista Eugénio Rosa.

“Se não houver resposta, haverá luta.” É esta a mensagem que a Federação dos Sindicatos da Administra­ção Pública (Fesap) irá passar no 1.º de Maio. Mas a expectativ­a do secretário-geral José Abraão é de que seja cumprido o caderno negocial acordado com o governo e que, nesse contexto, haja espaço para aumentos salariais. A proposta da Fesap será conhecida dentro de poucos meses. “Este governo tem de pôr cobro à degradação dos salários”, afirmou ao DN/Dinheiro Vivo, adiantando que será proposto “um valor sério e responsáve­l, que não se fique apenas pela inflação esperada”. No Programa de Estabilida­de estima-se para 2019 uma inflação de 1,4%. Se fosse esta a ordem de referência usada, o aumento de salários custaria cerca de 300 milhões de euros – menos do que a despesa com o descongela­mento das carreiras.

“Não podemos concordar com um aumento de salários apenas em linha com inflação. Se assim fosse continuarí­amos a perder poder de compra”, sublinha Helena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, lembrando que nos últimos 20 anos apenas em 2009 o aumento dos salários (de 2,9%) foi real. A Frente Comum também vai apostar no 1.º de Maio para fazer pressão nos aumentos salariais ainda em 2018. E não descarta a realização de uma grande manifestaç­ão de luta por alturas da discussão do próximo Orçamento.

“O descongela­mento de carreiras chega apenas a metade dos trabalhado­res da administra­ção pública”, lembra José Abraão, ao mesmo tempo que avisa para o perigo de a questão dos aumentos salariais na função pública se tornar uma arma de arremesso político e de “caça ao voto” – tendo em conta a proximidad­e das eleições legislativ­as. Ana Avoila acrescenta que a reversão dos cortes salariais (que “mais não foi do que repor o que nos foi tirado”) também visou apenas os que tinham salários acima dos 1500 euros.

 ??  ?? Sindicatos avisam: sem aumentos em 2019, trabalhado­res avançam para a luta. 1.º de Maio vai dar o tom
Sindicatos avisam: sem aumentos em 2019, trabalhado­res avançam para a luta. 1.º de Maio vai dar o tom
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal