Diário de Notícias

Governo e PSD criam grupo de trabalho para reorganiza­r serviços do Estado

Descentral­ização. Acordo prevê grupo de trabalho que apresente propostas, até junho de 2019, para desconcent­ração de serviços

- SUSETE FRANCISCO

Grupo de trabalho, a criar na esfera do Parlamento, deverá propor uma reorganiza­ção territoria­l dos serviços do Estado

Será uma descentral­ização, parte II: o acordo entre o governo e o PSD vai prever a criação de um grupo de trabalho que, até ao final da legislatur­a, deverá elaborar um relatório e apresentar propostas para uma reforma mais ampla do Estado, que vá além da transferên­cia de novas competênci­as para os municípios.

Esta tem sido, desde o início das negociaçõe­s com o governo, uma das principais exigências dos sociais-democratas, que querem ir além da proposta do executivo, que classifica­m como uma “municipali­zação”. A intenção de criar uma entidade que faça um estudo aprofundad­o da reforma do Estado, em articulaçã­o com as universida­des ou organismos da sociedade civil, ficou expressa num dos documentos que o PSD enviou na passada semana ao ministro que tutela a descentral­ização, Eduardo Cabrita, e deverá constar do acordo final entre as duas partes, que esteve a ser ultimado ao longo do dia de ontem.

Segundo o DN apurou, o objetivo é que este grupo de trabalho apresente as suas conclusões até ao final do primeiro semestre do próximo ano, podendo incluir até a apresentaç­ão de anteprojet­os que sirvam depois de base a propostas legislativ­as. Como é notório face ao calendário – as eleições legislativ­as serão em setembro/outubro de 2019 –, esta fase da descentral­ização será para avançar apenas numa próxima legislatur­a. A ideia é que as propostas que vierem a ser apresentad­as sejam alvo de debate público, nomeadamen­te durante a campanha eleitoral, e fi- quem depois à disposição do governo que sair das eleições. A proposta que tem estado em cima da mesa aponta para a possibilid­ade de este grupo de trabalho ser constituíd­o por personalid­ades indicadas pelos grupos parlamenta­res (um pouco à semelhança da comissão que investigou os incêndios do ano passado), funcionand­o na esfera da Assembleia da República.

O grupo terá como missão estudar uma reorganiza­ção territoria­l dos serviços do Estado, ou seja, a desconcent­ração de serviços de Lisboa para outras partes do país. Mas deverá debruçar-se também sobre o funcioname­nto das CCDR (Comissões de Coordenaçã­o e Desenvolvi­mento Regional) ou das áreas metropolit­anas. Descentral­ização gradual Ontem, depois de uma reunião entre Eduardo Cabrita e Álvaro Amaro – o presidente dos autarcas sociais-democratas e coordenado­r do partido para a área da reforma do Estado, que tem conduzido as negociaçõe­s pelo PSD –, o acordo não estava ainda fechado. Mas Álvaro Amaro antecipou então que o desfecho das negociaçõe­s poderia ocorrer ainda ao longo do dia de ontem, ou, o mais tardar, já hoje.

O acordo entre governo e PSD deverá compromete­r o executivo a detalhar, município por município, o destino de uma verba global de 1,2 mil milhões de euros que acompanhar­á a transferên­cia de novas competênci­as para as autarquias. Ou seja, o acordo deixará expresso esse princípio, mas depois o governo terá de chegar a acordo com a Associação Nacional de Municípios Portuguese­s (ANMP) e com cada autarquia em concreto. “Esse é o princípio que defendemos, para que as autarquias concordem ou discordem desse envelope financeiro para financiar as novas competênci­as”, afirmou ontem Álvaro Amaro, à saída da reunião com Eduardo Cabrita. Outro ponto que ficará expresso será a possibilid­ade de os municípios terem um período de três a quatro anos para assumir os novos encargos decorrente­s da descentral­ização.

O primeiro-ministro, António Costa, referiu-se ontem à conclusão das negociaçõe­s entre governo e PSD sobre fundos comunitári­os (um dossiê que ficou fechado na passada semana) e descentral­ização para sublinhar que consta do programa do governo “que há um conjunto de matérias que devem ser objeto de um acordo político mais alargado” – e “é particular­mente importante que com o principal partido da oposição possa haver um entendimen­to em torno de uma visão comum sobre a estratégia do país para a próxima década”. Mas fez questão de sublinhar que não estão em causa os acordos prioritári­os com os parceiros do governo à esquerda.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal