Diário de Notícias

“O futebol vive de golos. Sem eles não se ganham jogos, são os golos que fazem os adeptos festejar, ainda mais quando é um golo tão importante como aquele, que pode dar o título à equipa”

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O golo de Herrera na Luz (1-0), no clássico de domingo, correu mundo e chegou, naturalmen­te, ao México. “Vi o resumo, foi um belo golo, um remate potente, de fora da área, com tudo o que é preciso para fazer história. Um grande golo sem dúvida, uma excelente execução, só ao alcance de jogadores com qualidade como é o caso de Herrera. Foi um golo típico dele”, disse ao DN Manuel Negrete.

O primeiro mexicano a jogar em Portugal viu o seu golo marcado à Bulgária em 1986 ser eleito o melhor de sempre em mundiais e, por isso, está mais do que habilitado para avaliar a beleza e a importânci­a da “bomba” do compatriot­a do FC Porto: “O futebol vive de golos. Sem eles não se ganham jogos, são os golos que fazem os adeptos festejar, ainda mais quando é um golo tão importante como aquele, que pode dar o título à equipa.”

Na opinião do antigo internacio­nal mexicano, Herrera “é um trinco de estilo moderno”, um “box-to-box com resistênci­a acima da média”, que “dá gosto ver jogar”. Para o ex-leão, a posição em que Sérgio Conceição tem colocado Herrera em campo tem beneficiad­o o desempenho do médio, já que lhe permite “participar mais no jogo”, graças “às suas caracterís­ticas”, “pela forma como conduz a bola” e, claro, “pela capacidade de remate”.

O antigo jogador mexicano está habituado a acompanhar o futebol português – “no México há muitas notícias por causa de Jiménez [Benfica], Herrera, Corona, Reyes, Layún...” –, e não podia estar mais “orgulhoso” por ver um mexicano ser capitão de uma equipa como o FC Porto: “Acho que os portistas já reconhecem ao Herrera a competênci­a e a qualidade para ser capitão, pois é um profission­al fabuloso que dá tudo em campo.”

Manuel Negrete represento­u o Sporting em 1986 e participou numa das maiores goleadas do campeonato português (os 7-1 ao Benfica). Algo “inesquecív­el”, que pode servir de inspiração para o dérbi da 32.ª jornada: “Gostava de ver o Sporting intrometer-se nesta luta e vencer o Benfica, como na- Herrera celebra o golo que deu a vitória ao FC Porto na Luz, ao minuto 90 do clássico com o Benfica quele jogo dos 7-1 há mais de 30 anos... Sim, eu sei que é difícil.” Do inferno à redenção em 891 dias Foi na Luz, passados 891 dias, que Herrera se redimiu e fez esquecer aquela noite de 6 de novembro de 2016. Nesse dia, no clássico do Dragão, Herrera tinha tempo para quase tudo, mas quando se pedia que chutasse a bola para longe, ele atirou-a para canto, oferendo assim ao Benfica a oportunida­de de empatar (1-1) e distanciar-se na liderança à 10.ª jornada, para não mais a largar até à conquista do tetra.

Desde então, o mexicano vivia assombrado por esse lance. “Fui julgado pelas pessoas. Pessoalmen­te, não senti culpa, pois não fiz nada de mal, como um autogolo, por exemplo (...) A época passada foi difícil, mas se fizesse três golos num jogo continuari­a a ser o mesmo. Quando as pessoas dizem que sou o melhor, não acredito. E quando dizem que sou o pior também não. Tento sempre ser crítico e sei quando estou bem ou quando estou mal, se tenho de melhorar isto ou aquilo. Esse momento serviu para me fortalecer”, confessou Herrera, numa entrevista à revista Dragões, em dezembro.

Negrete sabe como esses momentos “martelam” a cabeça a um jogador, mas não lhe parece que tenha sido um lance que o marcasse além do normal: “Momentos infelizes todos os jogadores têm e penso que deve estar ultrapassa­do. Agora com este golo ficou de certeza.”

O autor do golo que pode ter dado o título aos dragões foi descoberto num torneio de Toulon em 2012. As qualidades que evidenciav­a levaram o clube a avançar para a contrataçã­o e pagar oito milhões de euros por 80% do passe do mexicano, ex-Pachuca, no verão de 2013. Herrera não pegou de estaca. Com Paulo Fonseca, foi alternando o banco com a bancada e alguns jogos a titular. Foi já com o espanhol Lopetegui, e depois com Nuno Espírito Santo, que ganhou espaço no meio-campo portista, mas nunca foi unânime para a bancada.

Visto muitas vezes, pelos adeptos, como o patinho feio da equipa, capaz do melhor e do pior, o mexicano ganhou em 2016 a braçadeira de capitão. Decisão que Sérgio Conceição estranhou quando chegou nesta época, como o próprio reconheceu, mas que Herrera provou merecer. Agora, com o golo na Luz que pode devolver o FC Porto aos títulos, é o novo herói do dragão.

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