“Moralmente inapto”, diz Comey. Aliados de Trump contra-atacam
EUA Livro do ex-diretor do FBI é hoje lançado. Donald Trump classifica James Comey como “repugnante” e “mentiroso”
a destruição do Estado Islâmico, a preocupação humanitária, proteger as populações e a ausência, nesta conjuntura, de querer terminar com o regime de Assad.” De resto, e em particular o que parece a especial proximidade EUA-Trump, “esta é conjuntural”, diz Almeida Sande.
Os “factos negam a concertação de um discurso, de uma estratégia”, e dá como exemplo o desmentido americano às palavras de Macron de que teria sido o presidente francês a convencer Trump a permanecer na Síria. Estamos perante “uma convergência conjuntural”, pensa Almeida Sande, e o desmentido “vem enfraquecer a posição” de Macron em França. Pires de Lima nota que o ataque “não altera a situação no terreno”, mas dá “sinais de fora para dentro” nos casos de May e de Macron, a que se soma neste último uma “dimensão estratégica, isto é, sublinhar que os EUA têm uma dimensão ímpar, e não se deve cair no erro de esfriar a relação bilateral, como Berlim, ou estar numa zona de ninguém, como Londres”. A ideia final é a de que a França está pronta a ser o grande aliado europeu dos EUA”, indica Pires de Lima. “Oposição natural” Para Pereira da Silva, uma concertação estratégica franco-americana é improvável (Macron visita os EUA a partir de dia 23), até pela suspeita recorrente em Washington sobre o comportamento de Paris na NATO, que vem desde a época de Charles de Gaulle na presidência de França (1959-1969). Há “uma oposição natural, o que não impede que por vezes não possam agir em uníssono, quando há interesses estratégicos em comum”, neste caso no Médio Oriente, onde, recorda, os franceses têm bases e zonas de influência.
A conjuntura europeia teve também influência na operação. “O eixo franco-alemão está enfraquecido” com a “relutância da Alemanha” face às reformas necessárias na zona euro, e isto também enfraquece Macron, que muito aposta nestas, defende Almeida Sande. Pires de Lima pensa que a relutância alemã na questão das reformas levou Macron a escolher as questões de defesa para transmitir uma importante mensagem ao conjunto da UE: “Somos o grande interlocutor dos EUA” na Europa, tendo presente o distanciamento da Alemanha e certa “indefinição” em Londres. E “isto conta num momento em que há tensão com a Rússia”.
Entretanto na Síria, os inspetores da Organização para a Proibição de Armas Químicas continuam a não ter autorização para entrar em Douma, o alvo do ataque com armas químicas que originou a retaliação de sábado. “Ainda existem questões de segurança pendentes”, foi referido às agências pelo diretor da organização, citando argumentos apresentados por sírios e russos. Donald Trump é moralmente inapto para ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos. Quem o diz é James Comey, ex-diretor do FBI demitido do cargo, no ano passado, pelo chefe do Estado americano. “Muita gente fala sobre isso. Não compro essa ideia de que ele é mentalmente incapaz e está no estádio inicial da demência. A forma como me ataca é de uma pessoa de inteligência normal que segue as conversas e sabe o que se passa. Não acho que seja inapto para presidente do ponto de vista médico. O que acho é que ele é moralmente inapto para ser presidente”, disse James Comey numa entrevista que deu no domingo à ABC News e que antecede o lançamento, hoje, do seu livro A Higher Loyalty: Truth, Lies and Leadership (“A mais Elevada Lealdade: Verdade, Mentiras e Lealdade”).
Na conversa com o jornalista George Stephanopoulos, o diretor do FBI no período entre setembro de 2013 a maio de 2017 elaborou: “Uma pessoa que fala e trata as mulheres como pedaços de carne, que mente constantemente sobre assuntos de pequena ou grande importância e que insiste que o povo americano acredita nele, essa pessoa não é apta para ser presidente dos Estados Unidos, falando numa base moral. E isto não é uma declaração política (...) o nosso presidente deveria mostrar respeito e aderir aos valores que estão no coração do nosso país, sendo o mais importante a verdade. Este presidente não é capaz. É moralmente inapto para presidente.” Admitindo a hipótese de a Rússia ter informações comprometedoras sobre Donald Trump, Comey relata no livro que antes de o demitir o presidente dos EUA lhe “pediu lealdade a nível pessoal”, adiantou a agência Reuters. “A minha lealdade era suposto ser para com o povo americano e a instituição [FBI]”, afirmou na entrevista à ABC News.
Reagindo à mesma e às primeiras notícias sobre o livro, Trump atacou Comey. Através do Twitter, chamou-lhe de “repugnante”, de “mentiroso” e acusou-o “de ter cometido vários crimes”, classificando-o ainda como “o pior diretor da história do FBI”. Comey foi demitido no meio de uma investigação sobre a alegada interferência russa nas eleições americanas que deram a vitória a Trump em 2016. Ontem foram vários os aliados que falaram em defesa de Trump, especialmente mulheres. A conselheira Kellyanne Conway, que cunhou a expressão “factos alternativos”, disse, à ABC News, que Comey é “alguém que apresenta uma versão revisionista da história”. E a presidente do Comité Nacional Republicano, Ronna McDaniel, declarou à CNN que o ex-diretor do FBI “é alguém que só quer fazer dinheiro. Pegou nas suas conversas privadas com o presidente e quer convertê-las em dinheiro”. PATRÍCIA VIEGAS
“[James Comey] ficará para a história como o pior diretor do FBI até agora”
DONALD TRUMP
PRESIDENTE DOS EUA “Não compro essa ideia de que ele é mentalmente incapaz e está no estádio inicial da demência. É moralmente inapto”
JAMES COMEY
EX-DIRETOR DO FBI