Obrigatório ver este filme alemão
Dos bombardeamentos anglo-americanos sobre Dresden até à tomada de Berlim pelos soviéticos, os três últimos meses da Segunda Guerra Mundial foram terríveis para os alemães, embora Hitler recusasse a iminência da derrota nazi e os combates prosseguissem nas frentes ocidental e oriental até 8 de maio de 1945.
Quem já leu A Queda de Berlim, do britânico Antony Beevor, terá uma ideia desse sofrimento, que alguns dirão ser justa paga pelo apoio popular ao nazismo durante mais de uma década; mas ver agora o filme O Capitão, do argumentista e realizador alemão Robert Schwentke, mostra-nos não o terror causado pelo Exército Vermelho, mas sim o medo dos desertores do próprio exército alemão. A cena em que o casal de agricultores mata com forquilhas o soldado que lhes assaltou o galinheiro é um testemunho brutal de como mesmo longe da frente de batalha a guerra pode ser uma coisa feia, já não interessando pátrias ou ideologias, só a sobrevivência.
Ora este filme que a Leopardo de Paulo Branco traz até ao público português é, no fundo, uma história de sobrevivência. De como um desertor alemão, um soldado raso, procura mudar o seu destino através de uma farda, e mais não posso contar pois espero que quem me esteja a ler vá mesmo ver este extraordinário O Capitão, baseado numa história real.
Que seja um alemão o realizador serve também para refletirmos como a Alemanha foi capaz, com tremenda coragem, de assumir estes anos negros da sua história (basta pensar nas palavras do presidente Frank-Walter Steinmeier em julho do ano passado em Israel). Isto apesar de nem todos os alemães da época serem nazis, e vale a pena recordar o movimento Rosa Branca e a Orquestra Vermelha, além do atentado falhado do coronel Claus von Stauffenberg contra o Führer, que a resultar poderia ter evitado o sofrimento que o filme mostra, descrevendo as semanas finais do III Reich e como este se esforçava por manter o controlo sobre tudo até ao limite.