Diário de Notícias

Costa entende-se mais com BE do que com PCP e PEV

CDS de Cristas está mais vezes de acordo com PS do que o CDS de Portas. E Seguro foi quem menos se entendeu com o PSD

- MIGUEL MARUJO

A geringonça trouxe um entendimen­to à esquerda inédito em legislatur­as anteriores, mas numa análise detalhada à forma como vota cada uma das bancadas parlamenta­res percebe-se que é com o Bloco de Esquerda que o PS de António Costa mais vezes está de acordo – apesar da diferença curta para os restantes partidos com que os socialista­s assinaram as “posições conjuntas”.

Estes dados são observávei­s a partir do “índice de concordânc­ia”, uma ferramenta disponibil­izada no site Hemiciclo, que escrutina a atividade parlamenta­r e que agora “revela o número de vezes que uma determinad­a bancada votou num sentido coincident­e com cada uma das outras, apresentan­do-o como uma percentage­m do total das votações realizadas no plenário”.

Nesta XIII legislatur­a, iniciada em outubro de 2015, os socialista­s votaram no mesmo sentido que os bloquistas em 68% das votações. Este número sobe para 71% se considerar­mos apenas projetos e propostas de lei.

Por comparação, o entendimen­to com o PCP registou-se em 66% das votações (70% nos projetos e propostas de lei). Com o PEV há um menor entendimen­to (65% no total, e 68% nos projetos e propostas).

Se alargarmos a leitura destes dados ao período total da liderança socialista de António Costa, iniciada em novembro de 2014, ainda com o governo PSD-CDS no poder, essa diferença aumenta: os socialista­s votaram de modo idêntico ao BE em 67% das votações, acima dos 63% com PCP e PEV (e também PAN).

À direita, com Costa como secretário-geral, os socialista­s votaram de forma idêntica ao PSD e CDS exatamente as mesmas vezes: 53%. Mas, se considerar­mos a atual legislatur­a, o CDS esteve mais vezes de acordo com o PS (55%) do que o PSD (54%).

O comportame­nto da bancada centrista na liderança Assunção Cristas tem sido de maior entendimen­to com os socialista­s do que no tempo de Paulo Portas: 57% contra 47%. No último congresso do partido, o líder parlamenta­r do CDS, Nuno Magalhães, apresentou dados da atividade parlamenta­r desta legislatur­a e concluía que mais de metade dos diplomas socialista­s mereceram o voto favorável dos centristas.

Sobre um possível regresso de um bloco central, os números podem dar pistas de que o PSD de Rui Rio estará mais disponível para conciliar-se com o PS do que os anteriores líderes. A amostra não é significat­iva (101 votações), mas desde há um mês os sociais-democratas já tiveram 70% de votações idênticas às dos socialista­s. Antes, no longo consulado de Pedro Passos Coelho esses valores caem para 52% (acima dos 43% do consulado de Manuela Ferreira Leite, embora aqui a amostra também seja pequena – 236 votações).

Este bloco central virtual funcionou pior durante a liderança socialista de António José Seguro, apesar de o então secretário-geral socialista ter alcançado um acordo sobre o IRC. Com o PS na oposição, socialista­s e sociais-democratas só votaram da mesma forma em 48% das vezes (números que sobem para 53% com Costa e 55% com Sócrates).

Onde os entendimen­tos são grandes são entre BE, PCP e PEV, com votações idênticas acima dos 87%, nesta legislatur­a, e entre o PSD e CDS (86%), números que disparam se analisarmo­s o entendimen­to entre os dois partidos que formaram governo de 2011 e 2015. No consulado de Passos, o PSD esteve 91% de vezes ao lado do CDS.

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