Costa entende-se mais com BE do que com PCP e PEV
CDS de Cristas está mais vezes de acordo com PS do que o CDS de Portas. E Seguro foi quem menos se entendeu com o PSD
A geringonça trouxe um entendimento à esquerda inédito em legislaturas anteriores, mas numa análise detalhada à forma como vota cada uma das bancadas parlamentares percebe-se que é com o Bloco de Esquerda que o PS de António Costa mais vezes está de acordo – apesar da diferença curta para os restantes partidos com que os socialistas assinaram as “posições conjuntas”.
Estes dados são observáveis a partir do “índice de concordância”, uma ferramenta disponibilizada no site Hemiciclo, que escrutina a atividade parlamentar e que agora “revela o número de vezes que uma determinada bancada votou num sentido coincidente com cada uma das outras, apresentando-o como uma percentagem do total das votações realizadas no plenário”.
Nesta XIII legislatura, iniciada em outubro de 2015, os socialistas votaram no mesmo sentido que os bloquistas em 68% das votações. Este número sobe para 71% se considerarmos apenas projetos e propostas de lei.
Por comparação, o entendimento com o PCP registou-se em 66% das votações (70% nos projetos e propostas de lei). Com o PEV há um menor entendimento (65% no total, e 68% nos projetos e propostas).
Se alargarmos a leitura destes dados ao período total da liderança socialista de António Costa, iniciada em novembro de 2014, ainda com o governo PSD-CDS no poder, essa diferença aumenta: os socialistas votaram de modo idêntico ao BE em 67% das votações, acima dos 63% com PCP e PEV (e também PAN).
À direita, com Costa como secretário-geral, os socialistas votaram de forma idêntica ao PSD e CDS exatamente as mesmas vezes: 53%. Mas, se considerarmos a atual legislatura, o CDS esteve mais vezes de acordo com o PS (55%) do que o PSD (54%).
O comportamento da bancada centrista na liderança Assunção Cristas tem sido de maior entendimento com os socialistas do que no tempo de Paulo Portas: 57% contra 47%. No último congresso do partido, o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, apresentou dados da atividade parlamentar desta legislatura e concluía que mais de metade dos diplomas socialistas mereceram o voto favorável dos centristas.
Sobre um possível regresso de um bloco central, os números podem dar pistas de que o PSD de Rui Rio estará mais disponível para conciliar-se com o PS do que os anteriores líderes. A amostra não é significativa (101 votações), mas desde há um mês os sociais-democratas já tiveram 70% de votações idênticas às dos socialistas. Antes, no longo consulado de Pedro Passos Coelho esses valores caem para 52% (acima dos 43% do consulado de Manuela Ferreira Leite, embora aqui a amostra também seja pequena – 236 votações).
Este bloco central virtual funcionou pior durante a liderança socialista de António José Seguro, apesar de o então secretário-geral socialista ter alcançado um acordo sobre o IRC. Com o PS na oposição, socialistas e sociais-democratas só votaram da mesma forma em 48% das vezes (números que sobem para 53% com Costa e 55% com Sócrates).
Onde os entendimentos são grandes são entre BE, PCP e PEV, com votações idênticas acima dos 87%, nesta legislatura, e entre o PSD e CDS (86%), números que disparam se analisarmos o entendimento entre os dois partidos que formaram governo de 2011 e 2015. No consulado de Passos, o PSD esteve 91% de vezes ao lado do CDS.