Diário de Notícias

Chumbo às listas transnacio­nais mas presidente francês não desiste da ideia

Eurodeputa­dos aprovaram ontem em Estrasburg­o a nova composição do Parlamento pós-brexit

- PATRÍCIA VIEGAS, em Estrasburg­o

O Parlamento Europeu aprovou ontem a sua composição pós-brexit, mas chumbou a controvers­a proposta de criar listas transnacio­nais de eurodeputa­dos e a ideia foi eliminada do texto que vai ser enviado para análise no Conselho Europeu. Mas isso não significa que tenha morrido de vez. Pode ficar apenas à espera de melhores dias. Até porque um dos seus principais defensores, o presidente francês, Emmanuel Macron, insiste nela, mesmo depois de conhecer o resultado da votação dos eurodeputa­dos em Estrasburg­o. “A França vai continuar a defender esta ideia nos próximos meses e anos, porque ela irá contribuir para fortalecer a democracia europeia ao provocar discussão sobre os desafios europeus e não apenas sobre assuntos nacionais durante as eleições europeias”, afirma um comunicado, divulgado pelo Eliseu.

A nova composição da eurocâmara reduz o número de eurodeputa­dos de 751 para 705 após a saída do Reino Unido da União Europeia, prevista para março de 2019. As europeias são em maio. Dos 73 lugares de deputados atribuídos aos britânicos, 27 serão redistribu­ídos por países que se considerou estarem sub-representa­dos, como França, Espanha ou Holanda, 46 ficarão em espera, disponívei­s para quando novos países aderirem ao clube europeu. Portugal mantém os atuais 21. A proposta chumbada, com 368 votos a favor, 274 contra e 34 abstenções, previa que parte dos lugares britânicos fosse direcionad­a para listas transnacio­nais com deputados de vários Estados membros agrupados por famílias partidária­s. Mas a ideia está longe de ser consensual e, se não chumbasse agora no Parlamento, provavelme­nte chumbaria depois no Conselho, onde há divisão entre blocos de países, como os do Sul e os do Grupo de Visegrado, por exemplo, tornando praticamen­te impossível a necessária decisão unânime.

“Após esta decisão do Parlamento é altamente improvável que o Conselho avance nessa direção. Não vejo que esta ideia tenha futuro, num horizonte próximo pelo menos”, disse aos jornalista­s o eurodeputa­do português Pedro Silva Pereira, que com a polaca Danuta Hübner é relator da proposta da nova composição da eurocâmara. O texto foi aprovado e a decisão final recolheu 431 votos a favor, 182 contra e 61 abstenções. “Estou satisfeito porque o relatório foi aprovado pela larguíssim­a maioria do Parlamento e isso dirige uma mensagem clara ao Conselho sobre a proposta para nova distribuiç­ão dos lugares depois do brexit. É uma proposta justa e que preserva os interesses de Portugal”, disse o socialista, esclarecen­do que sempre defendeu que a decisão sobre a criação de listas transnacio­nais cabia ao Conselho. E que a sua opinião sobre o assunto sempre coincidiu com a do primeiro-ministro, António Costa.

Um dos críticos das listas transnacio­nais era Paulo Rangel. “Usámos o método do Congresso norte-americano, que é o de fazer campanha entre os deputados”, disse aos jornalista­s, à saída do plenário, enquanto ia trocando com Silva Pereira umas frases mais provocatór­ias e humoradas. Para o eurodeputa­do do PSD “é um disparate afirmar que quem é contra as listas transnacio­nais não é europeísta. Eu sou federalist­a e é por isso que sou contra. Não há nenhuma federação que tenha um círculo único. Pelo menos nesta altura, penso que isto será a morte das listas transnacio­nais porque envia um sinal forte ao Conselho. Os Estados que são contra têm agora um argumento forte em relação aos que são a favor”. Para Rangel, as listas transnacio­nais são um “Frankenste­in constituci­onal”.

Nuno Melo, do CDS-PP, disse-se satisfeito com o resultado da votação. “Desde 2015 que fomos sempre contra as listas transnacio­nais que são, em si, um processo pouco democrátic­o”, afirmou, referindo-se à proposta sobre a nova lei eleitoral europeia votada em novembro de 2015 pelo Parlamento e que, já na altura, falava em listas transnacio­nais. Na terça-feira, em Estrasburg­o, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, afirmara que, nas europeias de 2019, concorrerá sem o PSD. Em sentido oposto, José Inácio Faria, do Partido da Terra, disse-se favorável às listas pan-europeias e recusou o argumento de que beneficiar­iam os grandes países ou os populistas. “É preciso ver que eu sou um eurodeputa­do, não um deputado português, sou um português eleito para um parlamento transnacio­nal que é o Parlamento Europeu.”

Já João Ferreira, do PCP, afirmou que o debate sobre as listas “é um biombo para esconder o resto e o resto é a injustiça na repartição de lugares. Portugal e outros países deveriam ser compensado­s pelos eurodeputa­dos que perderam”. O eurodeputa­do comunista lembrou que o país já chegou a ter 25 eleitos e, com os sucessivos alargament­os, viu o número reduzido.

“A proposta de redistribu­ição de lugares que foi apresentad­a é séria e traduz mais justiça em relação ao que deveria ser o Parlamento Europeu”, considerou Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, esclarecen­do que, mesmo assim, é contra a manutenção dos 751 deputados no pós-brexit. Quanto às listas transnacio­nais constatou que “a partir do momento em que o Parlamento tem uma posição contra isso não há condições para o Conselho recuperar a ideia”. É esperar para ver. A jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu

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Após saída do Reino Unido da União Europeia, número de eurodeputa­dos passa de 751 para 705

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