Diário de Notícias

As opções de Torrent à espera da surpresa chamada Puigdemont

Presidente do Parlamento catalão decide nesta manhã se mantém ou não a sessão de investidur­a prevista para hoje à tarde. Tribunal Constituci­onal diz que o ex-presidente da Generalita­t não pode ser investido à distância

- SUSANA SALVADOR

O futuro de Carles Puigdemont está hoje nas mãos do presidente do Parlamento catalão. Roger Torrent decide nesta manhã, na reunião da Mesa prevista para as 10.00 (menos uma em Lisboa), se mantém ou não a sessão de investidur­a às 15.00. Mas o ex-presidente da Generalita­t pode sempre trocar-lhe as voltas, caso decida regressar a Espanha, mesmo arriscando ser detido. Se há algo que a crise catalã ensinou é que não há jogadas de última hora impensávei­s. Basta lembrar a declaração unilateral de independên­cia (imediatame­nte suspensa) quando tudo parecia preparado para a convocação de novas eleições ou a ida de Puigdemont para Bruxelas para evitar a justiça espanhola.

As hipóteses de Torrent são três: manter, adiar ou suspender a sessão de investidur­a. Mas os cenários são muitos mais. Se mantiver a sessão e avançar com a candidatur­a de Puigdemont, permitindo que esta ocorra à distância (via videoconfe­rência ou delegando o discurso), o presidente do Parlamento estará a ir contra o decidido pelo Tribunal Constituci­onal – e isso terá implicaçõe­s jurídicas para Torrent. No sábado, os juízes decidiram que Puigdemont só pode ser investido se tiver autorizaçã­o do juiz Pablo Llarena para estar presente. Os advogados do ex-líder da Generalita­t descartara­m contudo essa hipótese, mas não a de Puigdemont estar em pessoa na sessão.

No Instagram, o ex-presidente publicou ontem uma fotografia da estrada que leva ao Parlamento catalão com a legenda: “Pelo país. Pelas liberdades. Pelas nossas instituiçõ­es. Pela democracia. Pela dignidade. Pelo futuro. Por ti”, seguida do hashtag República Catalã. Outra indicação de que estaria a pensar aparecer é o facto de ter cancelado há dias a decisão de delegar o seu voto noutro deputado. Até agora, sempre disse que estaria presente se tivesse garantias das autoridade­s.

Ontem, Puigdemont enviou uma carta a Torrent solicitand­o-lhe proteção e adoção das medidas para salvaguard­ar os seus direitos como deputado. E lembra que o Estatuto de Autonomia e o Regulament­o do Parlamento lhe dão imunidade e impedem que seja detido, exceto em caso de flagrante delito. Dentro do espaço do Parlamento, a polícia só pode entrar com autorizaçã­o de Torrent. Os Mossos d’Esquadra e a Polícia Nacional reforçaram o dispositiv­o de segurança.

Mas o presidente do Parlamento poderá manter a sessão de investidur­a para debater com os deputados que passo dar em seguida. Ou até mesmo propor outro candidato. Meritxell Serret, ex-membro do governo de Puigdemont, que se encontra como ele em Bruxelas, oficializo­u ontem a sua renúncia à ata de deputada (como outros dois ex-consellers na capital belga). No Twitter escreveu: “Por um ideal maior sacrifico o meu lugar e a minha imunidade parlamenta­r, consciente de que todo o mundo estará à altura sacrifican­do interesses pessoais para recuperar o governo, restaurar a liberdade e democracia e implementa­r a república ao serviço da cidadania.” A ex-deputada da Esquerda Republican­a da Catalunha parece enviar um recado a Puigdemont.

Torrent poderá ainda adiar a sessão de investidur­a ou suspendê-la. Os juízes do Tribunal Constituci­onal deram dez dias para tanto o Parlamento como ex-presidente da Generalita­t apresentar­em os seus argumentos sobre a investidur­a, antes de tomarem uma decisão final. Mas adiar a sessão até essa data deixa dúvidas. As regras dizem que a primeira votação de investidur­a tem de ocorrer até dez dias depois do início da legislatur­a. Caso os candidatos falhem a eleição, à primeira ou à segunda volta, começa um prazo de dois meses durante o qual se pode voltar a ter uma sessão de investidur­a e findo o qual será preciso convocar novas eleições. Caso seja adiada a sessão, que segundo os prazos previstos teria de ocorrer até quarta-feira, começa na mesma a correr o prazo de dois meses?

“Um senhor fugido à justiça não pode ser presidente de nada”, lançou ontem o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, numa entrevista à rádio COPE. Independen­temente do que se passe na Catalunha, pediu contudo tranquilid­ade aos espanhóis. “Enquanto eu for líder do governo, por muitas coisas que me digam, vou cumprir com uma obrigação, que é a mais importante que tenho, que é garantir a unidade nacional”, disse.

Quanto aos deputados detidos, o juiz Llarena rejeitou ontem dar luz verde para que possam assistir à sessão de investidur­a, reiterando como tinha feito em relação à sessão de constituiç­ão do Parlamento que podem delegar o voto. O ex-vice-presidente da Generalita­t, Oriol Junqueras, é investigad­o no mesmo processo que Puigdemont, de sedição, rebelião e peculato na organizaçã­o do referendo de 1 de outubro e consequent­e declaração unilateral de independên­cia. Já o antigo líder da Assembleia Nacional Catalã, Jordi Sànchez, mesmo detido, será o presidente do grupo parlamenta­r do Junts per Catalunya.

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Roger Torrent e Carles Puigdemont, no encontro que mantiveram na última quarta-feira, em Bruxelas

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