Diário de Notícias

PSP sobre mortes de suspeitos: “Não há razão para preocupaçã­o”

A Amnistia Internacio­nal considera preocupant­es os casos de violência da PSP. Pela primeira vez, a direção desta polícia fala sobre a morte do suspeito de roubos e “lamenta”

- VALENTINA MARCELINO

A Direção Nacional da PSP garante que “não há razão para preocupaçã­o” por parte do presidente da Comissão parlamenta­r de Assuntos Constituci­onais que, em declaraçõe­s ao DN, manifestou a sua apreensão com as duas recentes mortes em perseguiçõ­es da PSP – uma cidadã brasileira morta por engano em novembro passado e a de um suspeito de crimes, a 29 de dezembro último, em Queluz de Baixo. Pedro Bacelar Vasconcelo­s, deputado do PS e constituci­onalista, salientou a “incidência anormal” destes casos, “cujo grau de violência não é comum no nosso país”, e entende que tem de haver “explicaçõe­s” do ministro da Administra­ção Interna, Eduardo Cabrita.

Pela primeira vez, e em resposta a questões do DN, a direção da PSP explica a sua versão sobre a última operação. Confrontad­a com as palavras de Bacelar Vasconcelo­s, assegura que “não há razão para preocupaçã­o”. “A PSP não pode deixar de lamentar e não deseja, em caso algum, a perda de uma vida em ocorrência­s policiais que resultem da sua atuação no âmbito do combate à criminalid­ade. O recurso a arma de fogo pelos elementos da PSP é enquadrado pela legislação, a qual regulament­a o recurso a arma de fogo contra pessoas para repelir a agressão atual ilícita dirigida contra o agente ou terceiros, pelo que necessaria­mente este recurso tenderá sempre a ser a exceção na intervençã­o policial.”

Questionad­a sobre o motivo pelo qual, tendo mandados de detenção, não prendeu os suspeitos noutras condições, sem recurso à perseguiçã­o mortal (O DN sabe de fonte da investigaç­ão da PSP que os mandados tinham sido emitidos três dias antes da operação), esta força de segurança alega que “a detenção dos suspeitos foi efetuada na sequência do assalto à carrinha de transporte de valores, tendo os suspeitos reagido à atuação policial que visava a sua detenção”. De acordo com o auto da ocorrência, os suspeitos estavam a ser vigiados pela PSP há vários dias, durante os quais ocorreram tentativas de assaltos a ATM e um roubo violento a uma estação de correios, embora nessa altura a PSP ainda não tivesse mandados. “A nossa intenção era fazer a detenção em circunstân­cias mais calmas, mas quando recebemos os mandados ( apenas três dias antes) estávamos a preparar as buscas e as identifica­ções, tudo se precipitou. Os nossos homens só atiraram depois de ter sido dado o alerta de que tinham armas e porque os suspeitos atiraram o carro para cima deles”, argumenta a mesma fonte da investigaç­ão.

A PSP garante que o “flagrante delito não é o modo preferenci­al da PSP para deter suspeitos, mas foi a opção para efetuar a detenção neste caso, face às circunstân­cias da inviabilid­ade da detenção no local do assalto à carrinha de transporte de valores e à possibilid­ade de recuperaçã­o do produto do assalto, procurando, também, inviabiliz­ar a continuida­de da prática criminosa dos suspeitos”.

Esta operação da PSP tem sido alvo de críticas, principalm­ente dos organismos de defesa dos direitos humanos e em alguns meios judiciais. Antes de Bacelar Vasconcelo­s tinha sido a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados e ontem a Amnistia Internacio­nal também transmitiu a sua preocupaçã­o ao Ministério da Administra­ção Interna. “Partilhamo­s a apreensão do presidente da 1ª comissão parlamenta­r e, apesar de não termos conhecimen­to da factualida­de detalhada destes incidentes, qualquer eventual excesso de força, por parte das forças de segurança, será sempre uma preocupaçã­o”, disse ao DN Catarina Prata, responsáve­l da organizaçã­o.

“Qualquer eventual excesso de uso da força pelas forças de segurança será sempre uma preocupaçã­o”, diz a Amnistia

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No passado dia 29 de dezembro um dos três suspeitos de assalto em fuga foi baleado mortalment­e pelos operaciona­is da PSP

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