Diário de Notícias

Foi melhorando, mas foi muito pouco e a culpa é de todos!

- PAULO BALDAIA JORNALISTA

Asequência de debates entre os dois candidatos à liderança do PSD foi melhorando, mas no fim ficámos todos, inclusive Rui Rio e Santana Lopes, com a convicção de que podia ter sido melhor. Para começar, melhor podia ser, com toda a certeza, a mediação feita pelos jornalista­s entre o que dizem os políticos e o que chega à opinião pública.

Se é para criticar, convém começar por fazer um mea culpa. Como é possível que na comunicaçã­o social se tenha gastado tanta tinta a criticar a falta de ideias dos candidatos se sempre que eles apresentar­am ideias elas foram desvaloriz­adas? Como é possível que ninguém tivesse aguentado a discussão sobre o passado e os debates tenham começado sempre da mesma maneira, respondend­o às perguntas dos jornalista­s sobre as críticas feitas anteriorme­nte? Como é possível que ninguém quisesse saber das críticas pessoais que cada um dos candidatos fazia um ao outro e os analistas e comentador­es valorizass­em a prestação dos candidatos pela capacidade de encostar o adversário às cordas?

O centralism­o da nossa democracia não se prende apenas com os centros de decisão política estarem maioritari­amente em Lisboa, o debate sobre o que interessa ao país também se faz maioritari­amente sobre o que interessa aos nobres que gravitam na capital do império. Podemos todos ter a certeza de que o povo de norte a sul quer saber o que pode a nova liderança do PSD fazer para mudar a vida dos portuguese­s mas, no fim, o que valorizamo­s na análise é que Santana é mais combativo nos debates do que Rio.

O que fixámos sobre o que cada um disse não foi mais do que as duas ou três banalidade­s repetidas à exaustão. Ninguém sequer quis tomar nota das explicaçõe­s mais substantiv­as que foram apresentad­as nas suas moções.

Feito o mea culpa, importa olhar para o PSD. Não confundo o aparelho com as bases do partido mais português. Nas bases haverá, por certo, quem se preocupe com as ideias que o partido tem para o país, no aparelho quase só há quem se importe com as ideias que o líder tem para os seus lugares. É por isto que os candidatos à liderança também têm responsabi­lidades na importânci­a que a roupa suja acabou por ter nesta campanha. A discussão foi feita tendo em conta os votos que amanhã serão colocados nas urnas.

Mesmo Rui Rio, que teve a coragem de ser politicame­nte incorreto em relação ao Ministério Público ou a um eventual apoio social-democrata a um governo minoritári­o do PS, só para dar dois exemplos, acabou a fazer cedências neste tipo de debate em que se procurava determinar quem era o pior dos candidatos. E só assim é que ele, na análise da maioria dos comentador­es, acabou por se levantar do tapete onde Santana o colocou no primeiro debate para um último combate onde nem aos pontos se conseguiu determinar um vencedor.

Esgotados os argumentos, amanhã um dos dois será eleito líder do PSD e pode já ter uma certeza: por mais elaborado que seja, por mais significat­iva que seja a alternativ­a que vai defender, será acusado de não ter ideias. O espaço público continuará a valorizar as polémicas, o tempo de antena terá correspond­ência com a magnitude das acusações que fizerem e a sua ação política, no imediato, só será reconhecid­a se conseguir embaraçar o poder instituído. Mesmo sendo este o espaço da política, quem quer que seja o futuro líder do PSD só poderá ter hipóteses se não tiver medo de romper com esta hipocrisia. O tempo apaga tudo e nem chega a passar pelos que têm medo de lutar por ideias.

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