Foi melhorando, mas foi muito pouco e a culpa é de todos!
Asequência de debates entre os dois candidatos à liderança do PSD foi melhorando, mas no fim ficámos todos, inclusive Rui Rio e Santana Lopes, com a convicção de que podia ter sido melhor. Para começar, melhor podia ser, com toda a certeza, a mediação feita pelos jornalistas entre o que dizem os políticos e o que chega à opinião pública.
Se é para criticar, convém começar por fazer um mea culpa. Como é possível que na comunicação social se tenha gastado tanta tinta a criticar a falta de ideias dos candidatos se sempre que eles apresentaram ideias elas foram desvalorizadas? Como é possível que ninguém tivesse aguentado a discussão sobre o passado e os debates tenham começado sempre da mesma maneira, respondendo às perguntas dos jornalistas sobre as críticas feitas anteriormente? Como é possível que ninguém quisesse saber das críticas pessoais que cada um dos candidatos fazia um ao outro e os analistas e comentadores valorizassem a prestação dos candidatos pela capacidade de encostar o adversário às cordas?
O centralismo da nossa democracia não se prende apenas com os centros de decisão política estarem maioritariamente em Lisboa, o debate sobre o que interessa ao país também se faz maioritariamente sobre o que interessa aos nobres que gravitam na capital do império. Podemos todos ter a certeza de que o povo de norte a sul quer saber o que pode a nova liderança do PSD fazer para mudar a vida dos portugueses mas, no fim, o que valorizamos na análise é que Santana é mais combativo nos debates do que Rio.
O que fixámos sobre o que cada um disse não foi mais do que as duas ou três banalidades repetidas à exaustão. Ninguém sequer quis tomar nota das explicações mais substantivas que foram apresentadas nas suas moções.
Feito o mea culpa, importa olhar para o PSD. Não confundo o aparelho com as bases do partido mais português. Nas bases haverá, por certo, quem se preocupe com as ideias que o partido tem para o país, no aparelho quase só há quem se importe com as ideias que o líder tem para os seus lugares. É por isto que os candidatos à liderança também têm responsabilidades na importância que a roupa suja acabou por ter nesta campanha. A discussão foi feita tendo em conta os votos que amanhã serão colocados nas urnas.
Mesmo Rui Rio, que teve a coragem de ser politicamente incorreto em relação ao Ministério Público ou a um eventual apoio social-democrata a um governo minoritário do PS, só para dar dois exemplos, acabou a fazer cedências neste tipo de debate em que se procurava determinar quem era o pior dos candidatos. E só assim é que ele, na análise da maioria dos comentadores, acabou por se levantar do tapete onde Santana o colocou no primeiro debate para um último combate onde nem aos pontos se conseguiu determinar um vencedor.
Esgotados os argumentos, amanhã um dos dois será eleito líder do PSD e pode já ter uma certeza: por mais elaborado que seja, por mais significativa que seja a alternativa que vai defender, será acusado de não ter ideias. O espaço público continuará a valorizar as polémicas, o tempo de antena terá correspondência com a magnitude das acusações que fizerem e a sua ação política, no imediato, só será reconhecida se conseguir embaraçar o poder instituído. Mesmo sendo este o espaço da política, quem quer que seja o futuro líder do PSD só poderá ter hipóteses se não tiver medo de romper com esta hipocrisia. O tempo apaga tudo e nem chega a passar pelos que têm medo de lutar por ideias.