Tânger. Da inspiração para artistas até aos filmes do 007
Região norte de Marrocos, onde Portugal reinou no século XV, quer ser escolha na hora de os estrangeiros decidirem visitar o país. Para isso está a renovar-se e a mostrar as suas tradições
Um longo passeio junto ao mar separa a praia da linha da frente dos novos hotéis de cadeias internacionais. Nesse percurso há espaços de relva, áreas onde as crianças brincam e muita gente se passeia, aproveitando a temperatura amena que se faz sentir. São nove da noite e a área ribeirinha de Tânger está cheia de pessoas nesta que é uma das zonas que refletem a modernidade da cidade marroquina que está, em linha reta, a 14 quilómetros e a uma hora de barco da Península Ibérica.
Tânger está dividida em duas: as zonas em franca modernização com muitas construções, onde sobressai a nova estação de comboios preparada para receber a linha de alta velocidade, e a cidade antiga. Nesta, a sua medina (zona histórica fortificada) mostra as influências ali deixadas ao longo dos séculos, como as muralhas que marcam a ocupação portuguesa que começou em 1471 e terminou em 1661, quando esta cidade do Norte de Marrocos foi oferecida a Inglaterra como dote da princesa Catarina de Bragança (filha de D. João IV ) no casamento com o rei Carlos II de Inglaterra.
História à parte – fica para mais à frente – é nesta fusão de civilizações que os responsáveis marroquinos apostam para convencer turistas a visitar uma zona do país que se desenvolve a grande velocidade – investindo ainda na sua zona franca onde estão centenas de empresas responsáveis por exportações no valor de cinco mil milhões de euros – e que é conhecida como Tanger Med, o porto mais importante em África.
Tânger é a quarta zona de destino para os turistas – Marraquexe, Agadir e Casablanca ocupam os três primeiros lugares, por esta ordem. Um ranking que se mantém quando se fala do números de portugueses – em 2016 foram 69 mil os cidadãos nacionais que visitaram a região, número que vai ser batido em 2017 pois até setembro entraram no país 68 mil. Hércules, Portugal e 007 Com cerca de um milhão de habitantes em 2014 (os dados oficiais conhecidos referem-se a esse ano), esta cidade é considerada uma das mais cosmopolitas do reino dirigido por Maomé VI, para o que contribuiu a sua proximidade à Europa, que faz dela um ponto estrategicamente muito importante, e o facto de ter uma região com uma longa história de presença de povos, de conquistas, reconquistas e cedências.
Turisticamente falando, Tânger está a entrar numa nova era. Para isso apela à sua praia, à sua multiculturalidade e às ofertas que uma visita à região pode ter, onde se inclui a medina de Tetuão, a zona fortificada da cidade que é considerado Património Mundial da Humanidade e que merece uma visita pelas suas ruas onde se podem apreciar vários exemplos de arquitetura representativa das várias nações que a ocuparam. A que se acrescenta as diversas hipóteses de comércio que se encontram em praticamente todas as ruas.
Por isso, as opções de visita na região são várias. E se se quiser até se pode delinear percursos com base em temas de interesse.
Quem goste de mitologia pode visitar a poucos quilómetros de Tânger as grutas de Hércules. Segundo a lenda foi aqui, junto ao oceano Atlântico, que o filho dos deuses descansou após ter separado o atual continente europeu do africano. O conjunto de grutas com inscrições é uma das atrações a que os guias locais fazem questão de levar os visitantes.
Para quem prefere factos históricos, Tânger tem muito para oferecer. Por esta região passaram fenícios, cartagineses, romanos, muçulmanos, portugueses e ingleses. Ciente da importância da cidade para as suas conquistas africanas, o reino de Portugal tentou conquistá-la em 1415, mas
não só não o conseguiram como viram ficar prisioneiro o infante D. Fernando, que morreu na prisão em Fez depois de as Cortes não terem aceitado devolver Ceuta aos marroquinos. D. Fernando ganhou o cognome de Infante Santo devido a esta situação. A cidade acabou por ficar sob domínio nacional em 1471, assim se mantendo até 1661 quando foi entregue (tal como Bombaim, Índia) ao rei D. Carlos II de Inglaterra como dote da princesa Catarina de Bragança no casamento com o monarca inglês. Que ficou com a cidade até 1684 quando a entregou ao sultão alauita Moulay Ismail.
Destas ocupações resiste até hoje a fortaleza que rodeia a cidade antiga, um conjunto de ruas apertadas que são o paraíso para vendedores e turistas. Nestas vende-se de tudo e regateia-se tudo também. Ou seja, há sempre um preço que agrada a quem compra – desde que tenha arte para o negócio – e a quem vende.
E é neste labirinto por vezes muito estreito que vamos dar com o terceiro ponto de interesse, desta feita para quem gosta do agente secreto inglês James Bond. São dois os filmes que têm cenas gravadas em Tânger: 007 – Risco Imediato (marcou a estreia de Timothy Dalton como 007, em 1987) e 007 – Spectre, com Daniel Craig (2015).
Com uma pesquisa rápida é possível fazer um roteiro que passará pelos locais onde muitas das cenas foram filmadas e, até, pelos hotéis e restaurantes que fazem parte dos filmes.
Para quem não é fã de nenhum destes temas fica a oportunidade de visitar a cidade que durante anos inspirou e acolheu personalidades como os escritores Paul Bowles ou William S. Burroughs, o dramaturgo Tennessee Williams, os pintores Brion Gysin e Eugène Delacroix ou os Rolling Stones e ver os seus contrastes e as mudanças que estão a acontecer na região. O DN viajou a convite do Turismo de Marrocos