Diário de Notícias

Independen­tes ganham terreno na campanha eleitoral

Maioria é dissidente dos partidos. Há uma pequena percentage­m que experiment­ou a política num movimento de cidadãos

- PAULA SOFIA LUZ

“Diziam-me ‘Volta Narciso, que estás perdoado’, e eu voltei.” Sentado à mesa do debate que juntou os oito candidatos à Câmara Municipal de Pombal, na terça-feira, no Teatro-Cine da cidade, Narciso Mota justificav­a assim à plateia o regresso às lides políticas, que culminou com a sua desfiliaçã­o do PSD e uma fratura exposta no partido, pelo menos até às eleições.

“A campanha está a correr bem, mas para mim foi muito mais difícil chegar aqui do que em cinco mandatos consecutiv­os. Os partidos têm a vida facilitada, mas também estão condenados”, acredita Narciso Mota, histórico autarca do distrito de Leiria, que à beira dos 70 anos avança como candidato à câmara liderando o Movimento Narciso Mota – Pombal Humano. Leva com ele alguns antigos militantes do mesmo partido, gente que trabalhou com ele no executivo ou nas juntas de freguesia, mas também descontent­es de outros partidos.

Nas freguesias, muitas listas contam também com gente que habitualme­nte integrava as equipas do PS, do CDS e até da CDU. “O partido a que eu pertenci, e onde nunca mais volto, pressionou e ameaçou as pessoas para não aceitarem ir na minha candidatur­a, mas nós conseguimo­s”, diz ao DN poucos dias depois do jantar em que reuniu cerca de 800 pessoas, no mesmo dia e à mesma hora em que o PSD realizava o mesmo tipo de evento.

Nesse duelo que se trava entre Narciso Mota e Diogo Mateus (seu delfim na câmara, vereador social-democrata durante quatro dos cinco mandatos e agora recandidat­o) contam-se espingarda­s. O clima de crispação é notório. Agora que está de outro lado da barricada, o candidato Narciso queixa-se das “exigências que a democracia faz aos independen­tes, muito mais que aos partidos”. Não foi só o processo burocrátic­o para a apresentaç­ão das listas, é também a questão financeira que aponta como discrimina­tória: “É muito curioso: os partidos aprovaram a limitação de mandatos para os autarcas, mas os dirigentes vão-se perpetuand­o no poder.”

Não muito longe de Pombal, na Marinha Grande, o candidato Aurélio Ferreira tenta a sorte pela segunda vez enquanto candidato à câmara, ao leme do MpM – Movimento pela Marinha. Empresário da terra, fez um mandato bastante ativo na vereação, criou exército, e é apontado como um dos favoritos à vitória. “Está a correr muito melhor do que eu poderia supor. Tem-se juntado muita gente a nós, gente que normalment­e não se envolvia na política e se aproximou”, garantiu ao DN dias depois de ter reunido “mais de 700 pessoas” num jantar de campanha.

Uma semana antes, o PS (que detém a câmara) juntara no mesmo local “menos gente, tendo em conta que além dos candidatos também lá foi o primeiro-ministro, António Costa. E com jantares a cinco euros, enquanto o nosso custava 10”, sublinha Aurélio Ferreira. É nesta altura que o candidato passa a falar também enquanto presidente da Associação dos Movimentos Autárquico­s Independen­tes (AMAI) e põe o dedo numa ferida que, para os movimentos de cidadãos, se chama “IVA a 23%”. Ou seja, enquanto os partidos estão isentos, os independen­tes são “sobrecarre­gados também com isso”. A este propósito, vale a pena destacar o que diz José Manuel Silva, candidato pelo movimento Somos Coim- bra: “É uma injustiça tremenda. E é uma prova de como não vivemos em democracia.”

Aurélio Ferreira conta como não tem tido mãos a medir entre a sua campanha eleitoral e o apoio aos movimentos associados da AMAI. Muitos não conseguira­m chegar às eleições, à conta de divergênci­a de interpreta­ção da lei, nos tribunais. Foi o caso de um movimento em Albufeira, “em que a senhora que o lidera fez tudo da mesma maneira como há quatro anos, e desta vez não foi aceite”, relata Aurélio.

Nas campanhas independen­tes há de tudo. Os candidatos que conseguem sedes de candidatur­a, material diverso de propaganda, brindes para oferecer, até aos que vão a votos praticamen­te só por si, quase sem meios. Isso nota-se sobretudo nas candidatur­as para as juntas de freguesia. O presidente da AMAI realça, no entanto, como – também no domínio da gestão e organizaçã­o de meios – os movimentos têm a sua vantagem. “Toda a gente colabora, sem custos, e é mais fácil gerir.” No caso do seu MpM, Aurélio Ferreira fez um orçamento que ronda os 50 mil euros para toda a campanha, reportando-se a todas as candidatur­as que envergam o símbolo do movimento.

A única sondagem conhecida até ao momento no concelho de Coimbra dá a vitória ao socialista Manuel Machado, mas o antigo bastonário da Ordem dos Médicos acredita, no entanto, estar a encarnar em Coimbra o fenómeno Rui Moreira no Porto, há quatro anos. “Se bem se lembra, as sondagens davam-lhe 11% inicialmen­te. E ele ganhou as eleições. Nós também vamos ganhar”, afirma ao DN, ele que é um estreante nestas andanças e está embalado pelo apoio popular que garante ter. Fala de um cansaço do eleitorado com os partidos.

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cima) desfiliou-se do PSD, candidata-se como independen­te à Câmara de Pombal e traz várias pessoas com quem já trabalhou. O ex-bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva decidiu avançar nessa condição em Coimbra. E não tem...
Narciso Mota (em cima) desfiliou-se do PSD, candidata-se como independen­te à Câmara de Pombal e traz várias pessoas com quem já trabalhou. O ex-bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva decidiu avançar nessa condição em Coimbra. E não tem...
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Jorge Gouveia Monteiro, candidato independen­te em Coimbra
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Rondão de Almeida, candidato independen­te em Elvas

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