Diário de Notícias

“Portuguese­s vão pagar a energia mais barata”

Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, diz não ter medo da EDP nem de ninguém, admite que o preço da eletricida­de em Portugal é caro mas garante que a situação está já a mudar.

- PAULO BALDAIA e ANSELMO CRESPO

O primeiro-ministro falou nas manhas das empresas como a EDP. O que é que o governo pretende fazer exatamente para acabar com essas manhas? O que eu gostava de dizer é o seguinte: Penso que nos últimos anos se fez trabalho positivo no setor da energia, no sentido de conseguir combater essas rendas, mas há muito a fazer. E é por isso que este governo tem já feito algum trabalho. Queria, desde logo, chamar a atenção para uma questão, que era uma questão que se arrastava há mais de seis anos no nosso país, que era a implementa­ção da tarifa social. No início de 2015 eram cerca de 80 mil famílias que tinham direito à tarifa social e hoje são 800 mil famílias. Se vamos falar em questões de preços e no que é que vale esta medida, vale 80 milhões de euros por ano às empresas de produção de eletricida­de em Portugal. Que são pagos pelas empresas… Que são pagos pelas empresas. São 80 milhões. Portanto, isto foi algo que, durante seis anos, não foi executado em Portugal e que este governo executou e que está em prática. Está em prática com muito bons resultados, o que significa que houve um trabalho importante feito pelo governo, pela Direção-Geral, pela Autoridade Tributária, pela Segurança Social e, também, pelas empresas que pagam e que tiveram uma atitude colaborant­e nesta questão e, hoje, é algo de que nos devemos orgulhar. É algo que funciona e que significa que as leis da energia em Portugal são para cumprir.

Sobre a questão em concreto do que nós temos de continuar a fazer, queria chamar a atenção do seguinte: aqui há uns dias ouvi alguém dizer que o governo não estava a trabalhar no corte de rendas. Quero dizer, em poucos minutos, que para além desta que vale 80 milhões, cortámos – com um processo que estamos a desenvolve­r de acordo com aquilo que colocámos no Orçamento do Estado e que nunca ninguém tinha feito em Portugal – 140 milhões de dupla subsidiaçã­o que era dada a projetos de renováveis em Portugal; ou seja, recebiam subsídios de duas formas, contrariam­ente àquilo que estava estabeleci­do na lei. Estamos a fazer isso. Mais, este governo, até agora, só aprovou projetos de energia renovável sem tarifas feed-in. O que são tarifas feed-in? São as tarifas pagas pelos consumidor­es. Os consumidor­es pagam, hoje, por ano, cerca de 600 a 700 milhões de euros de subsídios às centrais renováveis do passado. Desde que este governo iniciou funções já autorizámo­s cerca de 500 megawatts de energia renovável, essencialm­ente em solares – estamos a falar praticamen­te só de solar. Isto é um ganho de 163 milhões de euros. Há um subsídio que era dado às centrais de produção de eletricida­de – a garantia de potência. Esse subsídio era atribuído de uma forma que ninguém percebeu qual tinha sido o critério. Nós estabelece­mos um leilão, um leilão decrescent­e, só aqui poupámos mais de sete milhões de euros. Depois estabelece­mos a verificaçã­o da interrupti­bilidade, que é algo que é utilizado pelas empresas para poderem desligar o serviço com ganhos

para o serviço elétrico e que existia há cerca de sete anos em Portugal, e que nunca nenhum governo tinha tido a iniciativa de verificar se efetivamen­te as empresas eram interrupti­vas e, por essa razão, tinham uma mais-valia para o sistema ou não, isso passou a ser feito com este governo. Executámos garantias bancárias, daquilo que tinha sido prometido fazer por promotores e que nunca foi feito, no valor de 17 milhões de euros. Indicámos para a ERSE e para a Autoridade da Concorrênc­ia uma auditoria aos CMEC que eram utilizados de uma forma abusiva, em que a empresa em causa utilizava o facto de ser detentora de CMEC para condiciona­r os preços do regime de produção normal, ou seja, os CMEC são subsidiado­s e utilizava aquilo que era subsidiado para tentar colocar, da melhor forma, o preço em regime geral para ganhar dinheiro com isso. O dinheiro que ganhou e que foi apurado por uma auditoria foi entre 46 e 72 milhões de euros. Este dinheiro vai ser recuperado, de acordo com orientaçõe­s do governo, pela Autoridade da Concorrênc­ia e pela ERSE, e também comunicámo­s à Direção-Geral da Concorrênc­ia da União Europeia. Estamos a falar de que empresa? Da EDP. Só aqui estamos a falar de 450 milhões de euros de cortes reais. […] A propósito de poupanças e já que era disso que estava a falar, o Expresso falava no último fim de semana de uma recuperaçã­o possível de cerca de 500 milhões de euros. Este número está correto? Como é que se chega a ele? Acha de facto possível, quando olha para o histórico, chegar a uma poupança de 500 milhões de euros? Esses 500 milhões de euros que o Expresso identifico­u têm que ver com a revisibili­dade dos CMEC. Os CMEC foram criados em 2004 pelo governo PSD-CDS e em 2007 foram feitos os respetivos contratos. Dez anos depois é preciso fazer a revisibili­dade, ou seja, fazer uma correção, se for caso disso, desses contratos e, portanto, significa que nesta altura há um apuramento de contas a fazer. Isto é feito anualmente e ao fim do décimo ano é feito com uma revisibili­dade com uma maior dimensão. Para os próximos dez anos. Exatamente. Aqui há com certeza a ter em conta aquilo que o regulador nos disser. A notícia dava a entender que é dinheiro que é possível recuperar, mas é também dinheiro que se pode poupar no futuro em relação ao que se pagou com os CMEC nos últimos dez anos? Tenho a ambição de conseguir fazer as duas coisas, mas quero que o regulador faça as contas e o faça de uma forma independen­te. […]

Em 2015, quando iniciei funções, o governo anterior deixou preparada a revisibili­dade dos CMEC de 2014 pronta para eu assinar. Eu não assinei, coloquei no Conselho Consultivo da Procurador­ia-Geral da República, porque o governo anterior deixava que a CESE – aquele imposto que foi criado pelo governo anterior – fosse pago pelos consumidor­es, e eu achei que não. Portanto estou à espera que o Conselho Consultivo da Procurador­ia-Geral da República se pronuncie sobre essa questão. Esta questão é tão relevante porque significa o seguinte: 2014, 2015 e 2016 e a revisibili­dade final estão para homologaçã­o do governo e ainda não foram homologado­s e estamos a falar de um valor significat­ivo. Vamos andar sempre aqui à volta dos 500 milhões ou dos 400 e tal, porque em três anos vai dar outra vez uma verba parecida com isso. Espero que seja o regulador a apresentar as contas. Acho que qualquer valor que se diga é especulati­vo. O Diário de Notícias dava conta esta semana da preocupaçã­o do governo por desconhece­r os termos da negociação – estava a referir isso, que a EDP faz as contas, apresenta-as e diz o que é que tem para receber – que foi feita entre o anterior executivo e a própria EDP. Já percebeu o que é que foi negociado, onde é que param esses documentos, já os pediu, o que é que se passa com essa documentaç­ão? Já os pedi. Pedi-os ao regulador e o regulador disse que nunca os tinha visto. Mas o regulador não teve de dar um parecer? Deu. Pelos vistos não conhecia a portaria que foi publicada, se não conhecia o documento, não conhece a parte, não é? Acho que estes temas são temas muito densos do ponto de vista técnico. O governo anterior aprovou uma portaria que dizia: vamos baixar a taxa dos CMEC para um valor e isso tem um ganho para os consumidor­es... …Catorze milhões de euros. Cerca de 13 milhões de euros é o valor que eu tenho, mas até posso dizer que possam ser 14 milhões de euros. Depois dizia: isto é assim feito de acordo com as condições que a EDP apresentou. E nós perguntamo­s quais é que são as condições que a EDP apresentou? A Direção-Geral de Energia, que é a depositári­a dos contratos, não sabe, não tem informação. Aliás, escreveu dizendo que isso foi tudo tratado pelo anterior secretário de Estado da Energia e pelo diretor-geral anterior que já lá não está há quatro anos. Perguntei à ERSE, que é o regulador, que é quem faz as contas, quem nos diz quando é que acabamos de pagar esta malvada dívida de cinco mil milhões. Também não tem. Portanto, aquilo que vou fazer, que aliás já fiz, é pedir à Direção-Geral da Concorrênc­ia da União Europeia que me diga, nomeadamen­te porque está a haver uma investigaç­ão que tem que ver com os CMEC, se conhece todos os contornos daquilo que está em causa. […] Como dizia há pouco, e bem, este assunto é muito denso para a maior parte das pessoas. Já deixou muito claro que pretende conseguir poupanças quer em relação aos contra-

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