ANA MENDES GODINHO “PORTUGAL É IMBATÍVEL” PARA COMPANHIAS COMO A EASYJET
Está satisfeita com o perfil do turista que temos atualmente? Não, nunca estou satisfeita. Acho que há imenso a fazer. Acho que evoluímos imenso. 2016 mostrou que não há mitos inquestionáveis. O mito da sazonalidade é perfeitamente trabalhável. Sabemos que as acessibilidades aéreas são cruciais e se tivermos acessibilidades aéreas a mercados que, durante a época baixa, viajam mais para a nossa época baixa, como é o exemplo do Brasil, temos muito a ganhar. Se nos lembrarmos de que o mercado brasileiro, em novembro, cresceu 90%, percebemos que é uma questão de inteligência na forma como criamos e reforçamos ligações aéreas ao longo de todo o ano. Portugal tinha um problema sério. Crescemos muitíssimo em termos de capacidade aérea desde 2005… De 2005 a 2015 duplicámos a nossa capacidade aérea, mas a verdade é que ainda tínhamos, em 2015, grande concentração das nossas ligações aéreas a efetuar-se no verão. Então se olharmos para o Algarve, tínhamos pouquíssimas ligações aéreas fora da época alta. Em 2016 trabalhámos muitíssimo nisto e teve efeitos imediatos. É interessantíssimo ver isto mesmo a nível de congressos e incentivos a empresas. Só o facto de termos conseguido criar rotas aéreas – numas, criar de novo, noutras alargar a operação a todo o ano no Algarve –, isto trouxe um novo mercado no Algarve para o qual estava completamente adormecido. A easyJet, a propósito do brexit de que estávamos a falar há pouco, anunciou que quer tirar a sede do Reino Unido e tem duas grandes apostas: Portugal e Áustria. O que é que o governo português vai fazer para trazer para cá essa companhia, que, obviamente, permite aumentar, em muito, essa capacidade aérea que beneficia o turismo? Eu vou dizer-lhe uma coisa: eu acho que não temos de fazer sequer muito. Porque os fatores competitivos… Os donos da companhia dirão outra coisa [risos]. Os fatores competitivos que nós temos neste momento põem Portugal numa das principais opções em várias empresas, neste momento, em termos de localização. Aliás, temos andado a fazer esse trabalho internacionalmente. E tem sido muito, também, o nosso foco: aproveitar o turismo como um instrumento para mostrar que Portugal é, de facto, um país bom para investir. Se já sentimos isso naturalmente por parte de investidores estrangeiros a nível turístico – eu, semanalmente, reúno-me com investidores e marcas internacionais que querem entrar em Portugal –, a verdade é que o turismo pode servir também como um instrumento para promover Portugal como um bom país para investir e… Mas este caso específico está no radar de trabalho do governo? Clarissimamente. Seguimos esse assunto com muita atenção… Estão em conversações com eles? … com muita atenção e a acompanhar, naturalmente. Sendo certo que, de facto, temos bons fatores competitivos. Desde logo, estas empresas procuram um país com estabilidade política e económica, procuram um país em que o clima é bom e onde os seus trabalhadores não se importem de viver – e, nomeadamente neste ponto, Portugal é imbatível… Estas entrevistas também servem para procurar notícias [risos] e, portanto, vou insistir na pergunta. Não lhe posso dar a resposta sobre se a easyJet já decidiu, mas tudo faremos para que optem por Portugal… Mas está confiante de que a easyJet virá para Portugal? Aquilo que o governo português lhe está a oferecer…? Estou confiante de que Portugal é, neste momento, muito competitivo para atrair este tipo de empresas, não só em termos gerais mas também porque, no turismo, o país está a afirmar-se como líder em crescimento e inovação. E, portanto, as empresas que têm alguma ligação ao turismo também têm, neste momento, interesse em localizar-se em Portugal. [...] Em relação à competitividade no setor do turismo, é essencial a oferta aérea, e por isso precisamos de um novo aeroporto. Está dado como adquirido, embora ainda esteja em estudo, o aeroporto do Montijo como alternativa. Sendo fora de Lisboa, como é que serão garantidas as ligações à cidade? O aeroporto pode ficar a 30 ou a 40 quilómetros, desde que as pessoas cheguem rapidamente ao sítio onde querem. E isso é exatamente aquilo que se tem de garantir e o turismo faz parte desse grupo de trabalho para garantir essa solução. Vou dar-lhe um exemplo muito concreto: fui a Londres há cerca de dois meses e o aeroporto em que fiquei, destes das low-cost... demorei quase uma hora e meia a chegar ao centro da cidade. Isto não tem nada que ver com aquilo que nós estamos a propor para o Montijo. O Montijo é uma solução ótima mesmo em termos de proximidade… E essa solução conta com o apoio das companhias low-cost, que serão aquelas que preferencialmente utilizarão a pista do Montijo? Esta solução conta, essencialmente, com o turismo, que precisa de ter competitividade aérea. E só a temos se tivermos claramente, aqui, um alargamento da nossa capacidade. Portanto, não é só para as low-cost. É para as low-cost e para companhias de bandeira… O objetivo é termos capacidade aérea, que temos de ter e de responder. Porque, tal como estamos neste momento, com a evolução e a taxa de crescimento que nós temos relativamente à procura de acessibilidades aéreas e de novas ligações aéreas, nós já estamos com dificuldade em gerir. Portanto, temos é de ter aumento desta capacidade e capacidade de receber cada vez mais gente.