Canadá diz à UE para convencer a Valónia e salvar o acordo
Assinatura do pacto comercial está prevista para quinta-feira. Primeiro-ministro Justin Trudeau decide amanhã se viaja até Bruxelas
ANA MEIRELES A ministra canadiana do Comércio afirmou ontem que cabe à União Europeia salvar o acordo de comércio livre entre as duas partes que está a ser bloqueado pela região belga da Valónia. Ainda em Bruxelas, Chrystia Freeland acrescentou que por parte do Canadá as negociações do Acordo Económico e Comercial Global (CETA, na sigla em inglês) estão terminadas.
“Fizemos o nosso trabalho. Acabámos de negociar um acordo muito bom. Agora a bola está do lado da Europa”, declarou ontem de manhã a ministra, após um encontro com o presidente do Parlamento Europeu. “Espero poder regressar nos próximos dias com o meu primeiro-ministro para assinar o acordo, como planeado”, sublinhou Freeland. A assinatura do CETA está marcada para quinta-feira e uma fonte próxima do processo disse à Reuters que o chefe do governo canadiano, Justin Trudeau, deverá decidir amanhã se viaja ou não para Bruxelas.
As declarações feitas ontem de manhã por Freeland são mesmo assim mais otimistas do que as feitas pela mesma na sexta-feira à noite, ao abandonar a reunião com os líderes das equipas de negociação da União Europeia e do Canadá e o ministro-presidente da Valónia, Paul Magnette. “É agora evidente para mim, evidente para o Canadá, que a União Europeia é incapaz de chegar a um acordo, mesmo com o país com valores europeus, como é o Canadá”, declarou então a ministra. “O Canadá está desapontado e eu, pessoalmente, estou desapontada, mas penso que é impossível”, sublinhou, emocionada.
Neste momento, todos os 28 países da UE apoiam o acordo comercial com o Canadá. O problema é que a Bélgica não pode dar o seu sim oficial sem o apoio dos parlamentos das suas regiões subfederais. E aValónia é contra.
Para tentar desbloquear a situação, Martin Schulz – que não está envolvido nas negociações mas tem uma boa relação com Chrystia Freeland – encontrou-se ontem de manhã primeiro com a ministra canadiana e depois com o ministro-presidente valão.
“A porta para seguir em frente está aberta, mas é claro que os problemas em cima da mesa são problemas europeus”, declarou o ale- mão no final dos encontros. “Do meu ponto de vista, não existem problemas que não possam ser resolvidos.”
Paul Magnette, por seu turno, garantiu ontem que a suas suas conversações com o Canadá estão terminadas e que os restantes temas terão de ser discutidos com o executivo comunitário. “Ainda temos algumas dificuldades entre os europeus”, declarou o ministro-presidente valão, sem entrar em pormenores. “Não escondemos que ainda teremos de trabalhar e conversar durante algum tempo”, sublinhou. De acordo com uma fonte próxima de Magnette, o governo valão está à espera de novas propostas da Comissão Europeia. Propostas que teriam de ser apreciadas pelo parlamento da Valónia.
A Valónia tem cerca de 3,5 milhões de habitantes – cerca de um terço da população belga e menos de 1% dos 507 milhões de europeus que o CETA vai abranger –, mas neste momento o futuro do acordo está nas mãos desta região.
O parlamento valão está preocupado com a ameaça das importações de carne de vaca e porco do Canadá. Mas também com a criação de um sistema independente de tribunais para resolver disputas entre Estados e investidores estrangeiros, o que, dizem, poderá ser usado por empresas multinacionais para ditar as políticas públicas.
No entanto, segundo a Reuters, muitos líderes europeus são da opinião de que o governo da Valónia está a aproveitar-se deste seu poder para obter ganhos políticos dentro da própria Bélgica.
Líder do Parlamento
Europeu tentou desbloquear impasse
ontem de manhã