Diário de Notícias

Rui Baeta canta ópera sobre O Corvo de Poe

Pela primeira vez, e à 28ª edição, a Temporada Música em São Roque integra ópera na sua programaçã­o. Será amanhã à tarde (16.30), no Mosteiro de Santos-o-Novo, com O Corvo, de Luís Soldado, que tem por libreto o famoso poema de Edgar Allan Poe, na traduçã

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no Luís Soldado para compor e no Rui Baeta [barítono] para cantar.”

“É um texto dificílimo, porque é muito hipnótico e com muitas repetições!”, confessa Rui Baeta. Por seu turno, Luís Soldado fala de “o maior desafio e o maior receio” a respeito da musicalida­de interna do poema – “como vou mexer naquilo?”, lembra-se de se ter perguntado. Desafio avolumado porque “nunca tinha escrito um monodrama [ópera com um só personagem] e este tem quase uma hora de duração, o que é raro em monodramas!”.

Vetor importante foi a inteligibi­lidade do texto: “quis que o texto passasse o mais claro possível para o público”, refere Luís, nisso indo ao encontro de algo enunciado por Alexandre: “Confrontar o público com algo a que não está habituado: ouvir ópera em português, anulando a distância da língua.” Já Rui fala de “um ritmo musical genericame­nte lento, que permite perceber como o texto é ‘encorpado’ e habitado”.

Para isso concorrem ainda, diz, “os vários registos que me são pedidos: há o falado, o estilo recitativo e há o cantado, que é 95% dos casos e que alcança mesmo, por vezes, um lirismo pós-verista”.

Na opinião de Luís, “a ópera é sempre uma tensão entre o texto e a música –e a música tem de ganhar!” Para O Corvo, Luís refere que Alexandre lhe pediu “um ambiente que fosse um misto de Harry Potter e Tim Burton”. Antes de se lançar na escrita, acrescenta, “fiz pesquisa de bandas sonoras de filmes de terror atuais, para ver o que se está a fazer”. Esse universo deixou algo: “O que compus quase podia ser música para filme, se não fosse a voz lírica.”

Em termos musicais, “há um crescendo contínuo até um clímax já perto do final, após o que há uma rápida resolução”. Para ele, esse crescendo reflete “o acumular de tensão dentro do próprio personagem, cada vez mais angustiado e atormentad­o, num clima cada vez mais opressivo”. Anterior colaboraçã­o de Luís Soldado com a Inestética foi uma ópera dentro do comboio

O clímax, diz Alexandre, “é o momento de maior desvario e descompens­ação do protagonis­ta”. Já a resolução lê-a como “o entendimen­to de que é inútil [tentar esquecer a falecida amada] e a aceitação do seu destino”.

Atenção especial mereceu a expressão recorrente ao longo do poema: “Nunca mais!” – “É cantado com variações de intenção, mas a ideia é que comece gradualmen­te a incomodar, tornando-se

Trionfo di Davidde,

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