Uma estufa, novos produtos, entregas em casa. Os mercados vão mudar
Plano Municipal para os Mercados de Lisboa tenta promover revitalização destes espaços nos próximos anos. O de Arroios vai ter uma estufa no topo do edifício. Lumiar vai ser ponto de produtos biológicos
A Câmara de Lisboa quer lançar a marca Mercados de Lisboa, criando uma identidade comum, ao nível da imagem e da comunicação, para os 27 espaços de comércio tradicional que há na cidade. A medida, em execução, consta do Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016-2020, documento que traça as linhas gerais da estratégia para a revitalização destes equipamentos, até ao final da década.
Muito embora o plano não especifique a intervenção em cada um dos espaços espalhados pela capital, alguns já estão definidos. São “projetos-âncora”, nas palavras do vice-presidente da autarquia, Duarte Cordeiro, que destaca um “conjunto de intervenções distintas”, dado que “nem tudo pode ser a Ribeira ou Campo de Ourique”.
Um dos casos mais emblemáticos será o Mercado de Arroios, que vai ter uma estufa hidropónica no telhado do edifício (o cultivo é feito em água, sem terra, recorrendo ao uso de nutrientes minerais). O objetivo é que a horta urbana forneça o próprio mercado. As obras têm um custo previsto de um milhão de euros. De acordo com Margarida Martins, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, faltam ainda alguns passos legais para terem início, mas a autarca espera que possam ser lançadas “em breve”.
O mercado do Lumiar vai passar a ter uma componente – grossista e retalhista – de produtos biológicos. Ou seja, será um ponto simultaneamente de distribuição e de venda direta ao público. Para já, vai ter obras de requalificação que, de acordo com o presidente da junta, Pedro Delgado Alves, deverão ter início no final do verão. Em 2017 o equipamento já deverá integrar a nova componente.
Quanto a outros espaços, em Benfica vai ser lançado um projeto-piloto de entregas ao domicílio. Em Alvalade será reabilitado o espaço central do mercado. Já o Mercado do Rego, em Santos, poderá vir a receber um grande retalhista à semelhança do que acontece, por exemplo, no Mercado do Forno do Tijolo, parcialmente ocupado por um supermercado da cadeia Lidl. O Mercado 31 de Janeiro também vai sofrer uma intervenção, que a câmara não revela para já. Mercados empregam 2000 Com assumida inspiração na cidade de Barcelona, o “Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016--2020” vai ser hoje apreciado em reunião da câmara e será depois submetido a discussão pública.
Atualmente existem 27 mercados em Lisboa (24 estão sob gestão das freguesias), de dimensão muito variável e com usos diferenciados. Do século XIX subsistem apenas dois – o da Ribeira e o de Santa Clara. O maior mercado da cidade é precisamente o da Ribeira, sendo que Alvalade Norte, 31 de Janeiro, Benfica, Arroios e Campo de Ourique surgem também como os espaços de maior dimensão. O documento refere que estas estruturas em Lisboa “foram perdendo clientes e número de comerciantes ao longo dos anos mas, ainda assim, hoje em dia, constituem emprego direto para mais de 2000 pessoas”.
Já o retrato dos comerciantes dos mercados revela que, em cerca de 50% destas estruturas, a média de idades é igual ou superior a 60 anos. “Em regra, o típico comerciante de um mercado tende a acomodar-se, faz da sua atividade e do seu lugar ou banca a sua vida, não tem tendência para se aventurar em novos desafios. Em contraponto são afáveis, criando laços quase familiares com os clientes”, lê-se no documento
A “capacitação dos comerciantes” através de programas de formação é, por isso, um dos objetivos traçados. No capítulo da melhoria dos serviços, o plano aponta para a criação de “um serviço porta-a-porta, integrado por zona” e de um “serviço domiciliário para pessoas com mobilidade reduzida”. A disponibilização generalizada de pagamento automático (multibanco) e de wi-fi gratuito são outras das medidas previstas. Já quanto à modernização dos mercados fica prevista, entre outras medidas, a instalação de um sistema de contagem de tráfego nas suas entradas. O plano deixa em aberto a construção de novos mercados, apontando o Parque das Nações, Telheiras e Marvila como “zonas residenciais desprovidas de mercados”.