Líder de Taiwan diz que encontro com Xi nada tem que ver com eleições
Presidentes dos dois países estão a pensar no futuro e na colocação das relações bilaterais num novo patamar
ABEL COELHO DE MORAIS “Não há qualquer objetivo eleitoralista” no encontro em Singapura entre os presidentes da China e de Taiwan, garantiu ontem este último, ao pronunciar-se publicamente pela primeira vez sobre a ocasião histórica que irá suceder amanhã naquela Cidade-Estado do Sudeste Asiático.
Falando numa conferência de imprensa, em Taipé, dada para explicar o quadro em que sucede o encontro, MaYing-jeou declarou que o objetivo é “consolidar a paz e a estabilidade nas relações com a China e em toda a região”. E nada tem que ver com as eleições presidenciais que decorrem no próximo mês de janeiro em Taiwan. Nestas, o candidato do Kuomintang (KMT), partido do atual presidente, surge nas sondagens claramente derrotado face à candidata da oposição, o Partido Democrático Progressista (PDP), que critica a aproximação à China continental e tem advogado a declaração formal de independência do território onde se refugiaram em 1949 os nacionalistas do KMT, derrotados na guerra civil pelos comunistas de Mao Tsé-tung.
Ma Ying-jeou, ontem em Taipé. Quadro em fundo é de Sun Yat-sen
Na conferência de imprensa, Ma sublinhou que o formato da reunião evidencia “a igualdade entre ambas as partes” e pode abrir caminho a uma maior “maturidade nas relações bilaterais, até à criação de um canal institucional de contacto de alto nível entre a República Popular da China (RPC), fundada por Mao no territorial continental em outubro de 1949 e a República da China, instaurada em 1912 e de que foi primeiro presidente Sun Yat-sen, o fundador do KMT. A RPC considera Taiwan uma “província renegada” e parte integrante do seu território. O KMT não aceita a integração na RPC no quadro do regime vigente em Pequim.
Uma fonte ligada à preparação do encontro afirmou ontem à Reuters que Xi Jinping “não está a pensar no presente (...). Se ele conseguir criar um quadro para a reunificação, ficaria para a história como uma personalidade tão ou mais importante do que Deng Xiaoping”, o sucessor de Mao que desencadeou a abertura do regime no final dos anos 1970. O mesmo interessa a Ma, que, desde a chegada ao poder, em 2008, fez do reforço das relações o centro da sua ação.
Os dois dirigentes têm conseguido criar algum tipo de relacionamento pessoal, processo iniciado quando Ma enviou um telegrama de felicitações a Xi quando este assumiu a direção do Estado e do partido em 2012. Xi respondeu, escrevendo que se estava perante uma “oportunidade histórica” para “reforçar a confiança mútua”, recordou ontem a Reuters. E Xi voltou a escrever a Ma quando este assumiu a liderança do KMT em 2013, sublinhando ter chegado o momento de “ver longe”. Esse momento é amanhã, em Singapura.