Rastreio. Mamografias devem ser feitas até aos 75 anos
Liga contra o Cancro defende aumento da idade para a realização do exame. Para já, estudos mostram eficácia entre os 50 e os 69 anos
A Liga Portuguesa contra o Cancro defende que o rastreio ao cancro da mama deve ser feito às mulheres até aos 75 anos por causa do aumento da esperança média de vida, o que aumenta a probabilidade de surgir um tumor. Helena Gervásio, presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos, recomenda a mamografia até à mesma idade, mas é mais cautelosa sobre a alteração do rastreio nacional. Nuno Miranda, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, afirma que a avaliação do rastreio está sempre em aberto, mas para já os estudos mostram que não se justificam alterações. A mamografia é o exame mais eficaz para deteção do cancro da mama e atualmente o rastreio em Portugal é efetuado às mulheres entre os 45 e os 69 anos de dois em dois anos.
VítorVeloso, presidente da secção norte da Liga Portuguesa contra o Cancro – entidade responsável pelo rastreio em quatro das cinco regiões do país –, considera que a janela entre os 45 e os 69 anos é pequena. “Penso que deveria ser estendido até aos 75 anos. A esperança de vida é maior e quanto maior é a idade, maior é a probabilidade de ter cancro. Este é um tema que está a ser debatido na Europa, mas é um processo moroso. A Comissão Europeia é cautelosa, também porque a parte económica é importante. Mas acredito que mais tarde ou mais cedo chegará aos 75 anos. A lógica será aumentar a idade”, afirma, referindo que gostaria de ver a idade de início nos 40 anos.
Helena Gervásio, presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos, afirma que “os médicos devem recomendar às mulheres que façam mamografias até aos 75 anos porque têm uma longevidade maior de vida”. Faz sentido pedi-lo a título particular, mas quanto a integrar a recomendação no rastreio nacional tem mais dúvidas, que não se colocam só por causa da questão financeira. “Para alargar o rastreio temos de ter estudos que mostrem que faz sentido. É preciso mostrar que se obtém resultados semelhantes aos que temos com a atual faixa etária” dos 50 aos 69 anos. “Neste grupo etário os estudos mostram benefícios com diagnósticos em fase inicial, o que tem repercussão na sobrevivência, com probabilidade de cura superior. Entre os 40 e os 49 anos é discutível. Nem todos os estudos são consensuais ou mostram benefícios.”
Velha questão Não é só na Europa que as idades para a realização do rastreio do cancro da mama estão em discussão. Recentemente, nos Estados Unidos, a American Cancer Society alterou as recomendações da idade início de 40 para 45 anos, mantendo a orientação para a realização anual do exame. Mas outros organismos americanos dão indicações diferentes. Nuno Miranda, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, diz que esta “é uma questão velha”.
“Coloca-se a questão se se deve aumentar a idade do rastreio até aos 74 ou se o início deve ser aos 45 anos, de forma a detetar mais alguns casos. Os dados mais sólidos e consensuais é que o rastreio compensa entre os 50 e os 69 anos e realizada de dois em dois anos. A União Europeia advoga estas idades e olhando para os Estados Unidos, foi um passo atrás às propostas iniciais. Quanto à recomendação da mamografia anual, não aumenta significativamente o diagnóstico de cancro, aumenta o número de falsos positivos e a taxa de radiação que não é completamente inócua.” Ainda assim, refere, “o rastreio é constantemente avaliado, mas têm de ser estudos com números elevados para que se possam tomar decisões, caso se justifiquem, o que ainda não aconteceu”. Que poderia passar por juntar dados de vários rastreios europeus.
Mais de 2 mil casos positivos Através do rastreio nacional, em 2013 e 2014, foram enviadas 851 mil convocatórias às mulheres portuguesas. Nesses dois anos realizaram 515 mil exames, que permitiram detetar 2664 casos positivos que foram referenciados para médicos da especialidade. Atualmente a taxa de sobrevivência é mais de 80% a cinco anos. Em Portugal a média de novos casos por ano é de 5500. Nos últimos dois anos morreram cerca de 3200 mulheres com cancro da mama.
O rastreio nacional cobre cerca de 70% do país. A norma da Direção-Geral da Saúde refere que as mamografias devem ser feitas às mulheres entre os 50 e os 69 anos, a cada dois anos. Acima desta idade, a recomendação é que a mamografia seja feita a cada dois ou três anos. Em caso de história familiar, o exame deve ser feito mais cedo. Por norma dez anos antes da idade de diagnóstico do familiar mais novo com cancro. Pode ser complementada com a ecografia mamária e biopsia. Na fundamentação para a escolha da mamografia como o exame de eleição para deteção do cancro da mama, a própria DGS refere que “atendendo a que não existem, ainda, medidas efetivas capazes de prevenir ou curar a doença em qualquer estádio de diagnóstico e a que mais de 90% das doentes com cancro podem ser curadas, se diagnosticadas num estádio precoce e adequadamente tratadas, não devem ser poupados esforços no diagnóstico precoce da doença”.