Procura- se
Nas últimas eleições britânicas alguma imprensa discutiu os prós e os contras dos outdoors políticos. Concluiu- se que os primeiros são escassos ( que espécie de tontinho decide o voto fundamentado num cartaz?) e que os segundos são imensos ( na época das “redes sociais”, os cartazes são um convite à detecção do erro e à chacota). Evidentemente, os nossos partidos não estiveram atentos.
Sobretudo o PS, que em poucos dias condensou toda a incompetência, mau gosto e desconsideração pelo eleitorado que os outdoors conseguem traduzir. De imagens grotescas a mensagens auto- incriminatórias, culminando nas afirmações imaginárias de pessoas reais e, ao que parece, desconhecedoras da trapaça, os socialistas monopolizaram a atenção e o riso deste início de campanha. Quanto à coligação PSD/ CDS, que ainda ria, viu- se logo a seguir metida numa trapalhada comparável, e comparável no sentido literal: a inépcia demonstrada pelo PS foi superior. Por muito que se tentasse dizer o contrário, a ( ridícula) utilização de rostos indistintos e profissionais na tentativa de vender o peixe não é o mesmo que atribuir histórias a cidadãos portugueses que não as viveram. Também por isto, as rábulas dos cartazes constituíram uma razoável súmula do que se joga nas próximas “legislativas”.
Onde a coligação foge à verdade, o PS mente por vocação. Onde a coligação se orgulha de pouco, o PS não se envergonha de nada. Onde a coligação se esquece do que não fez, o PS quer que nos esqueçamos do que fez. Onde a coligação é um remendo sem esperança, o PS é a calamidade garantida. Em Outubro, os portugueses que ainda ligam a estas coisas e não acreditam nos delírios do PCP, das diversas agremiações “trotskistas” ou do “movimento” do sr. Martinho e Pinto rumarão às urnas decididos a escolher o mal menor. É triste? Não: é a pura democracia, que no seu melhor não é lugar de convicções ou entusiasmos, mas de resignação. A realidade é sempre mais melancólica do que o sonho. E, no fim de contas, menos perigosa.
De qualquer modo, o regime já terá amadurecido o suficiente para que, no fundo, as pessoas suspeitem que o único cartaz adequado a quase todos os políticos é aquele com a palavra “Procura- se” em baixo. E que só a recompensa varia.
Quarta- feira, 12 de Agosto Meia haste
Na semana passada, falei aqui de passagem sobre a possibilidade de mudarmos de bandeira. E se o assunto não fosse passageiro? Dado que a Sagrada Constituição condena o desrespeito pelos símbolos nacionais, limito- me a dizer que o estandarte nacional não é extraordinariamente bonito. Estou até convicto de que a estética daquilo é bem capaz de contribuir para o nosso relativo atraso, na medida em que, segundo uma tese que desenvolvi há anos, não é provável que um país possa ser muito melhor do que o seu símbolo imediato. E o facto de a Grécia exibir uma bandeira impecável apenas mostra que a minha t ese carece de minúsculos aperfeiçoamentos ou que os gregos deviam mudar de bandeira.
No resto, não há grandes desvios: do Japão a Israel, dos EUA à Dinamarca, da Inglaterra à Itália, as boas bandeiras tendem a coincidir com as nações mais invejáveis. E nem vale a pena enumerar as dezenas de bandeiras e nações que, por pudor, dispensam comentários.
Uma das poucas excepções à regra, por razões opostas às da Grécia, é a Nova Zelândia. Trata- se de um estado próspero, civilizado e detentor de uma bandeira que, francamente, não se admite. Por um lado, porque é quase igual à da Austrália. Por outro, porque parece a do Reino Unido com peças soltas. Perante isto, os neozelandeses tomaram a única atitude sensata: abrir um concurso público e, em Março de 2016, referendar uma nova bandeira. Não digo que as 40 pré- seleccionadas são lindas: digo que 3 ou 4 são agradáveis, que umas 25 são preferíveis à actual e que para aí 38 superam a nossa.
E se aproveitássemos a deixa? Habituados a referendos sobre temas sem fundamento ou argumentos, não ficaria mal que, por uma vez, nos chamassem a escolher o que realmente é relevante, perdão, fracturante. Até esse belo dia, continuaremos a meia haste. Ou, idealmente, sem haste nenhuma.
Quinta- feira, 13 de Agosto Farto é o termo
Alexandre Farto, vulto Vhils, pinta paredes. Como as enche de rabiscos e não de tinta branquinha, é considerado um artista. Como o Dez de Junho prefere artistas assim a trolhas competentes, f oi condecorado pelo Presidente da República. Como o PR é Cavaco Silva e não qualquer progressista de renome, o sr. Vhils confessou ao “Expresso” ter demorado uma semana a decidir se aceitava a distinção. Como se aflige com a “geração mais qualificada de sempre” (!) e não quis perder “a oportunidade de falar sobre todas estas questões”, o sr. Vhils aceitou. Como temeu perder público, amigos e o simulacro de “prestígio” associado ao que hoje passa por irreverência, justificou- se de seguida no Facebook e agora no referido semanário. Como é evidente, este é o tipo de história sem moral nenhuma em que somos pródigos.