“Não esperava tanta concorrência”
A meio do seu folhetim que balanço faz? Não esperava tanta concorrência. Eu escolhi o género da ficção política por causa da coincidência do calendário. Estou a escrever em agosto, mês da silly season, sobre o que vai acontecer em setembro, que será o mês eleitoral, de notícias também extravagantes. Quer dizer, o leitor, com a minha ficção, podia transitar sem sustos para o mundo de fantasia que vem aí. Por isso, inventei o António Costa a apoiar, no primeiro debate televisivo, a candidatura presidencial de Manuela Ferreira Leite... Esperava algum espanto, tipo “que ganda maluco!” mas colhi só bocejos. É que no dia em que no DN comecei a ficção, o Público, em entrevista verdadeira, foi à casa da candidata presidencial do partido dos animais, o PAN. E a jornalista viu a gata da candidata comer o canário, em direto! Confesso, não tenho tanta imaginação. O seu folhetim são só mentiras razoáveis? É isso. Um ex- ministro, que lera o encontro secreto de Portas no Rato, disse- me que foi de propósito à sede do PS confirmar se havia um portão no muro... Não, o portão no muro entre a sede e a capela do Rato não existe, está lá porque me dava jeito. Já o Paulo Portas, sempre que pode, ir para o terraço da sua casa ver os seus submarinos a passar no Tejo, é verdade. Misturar factos, inverdades e aparências não é só na minha ficção política, é o dia- a- dia. Esta semana, Passos Coelho foi eleito o 7. º líder mundial mais giro. Ontem, no jornal i, a Ana Sá Lopes relativizou a coisa, escrevendo: “A troika fez a Passos o que fez ao país: rebentou com o bom aspeto geral.” Os jornais são importantes para nos lembrar isso. Não teme ficar sem assunto? Com dias assim? Veja o caso dos cartazes do PS e do PSD, mentiras pegadas. Uma cerveja para dizer que é a melhor do mundo tem de pôr no anúncio “provavelmente”. Em eleições, um político julga- se mais inimputável do que uma cerveja.