Diário de Notícias

67 milhões de euros para 15 câmaras gerirem educação

Projeto- piloto de descentral­ização arrancou em 15 municípios, que recebem o equivalent­e ao que foram as despesas com a educação nos seus agrupament­os escolares em 2014

- J OANA C A P UCHO

As 15 autarquias que aceitaram assumir a área da educação vão receber 67 milhões de euros no próximo ano, no âmbito da assinatura dos contratos intermunic­ipais de delegação de competênci­as. Matosinhos é o município que recebe mais ( 12,9 milhões de euros), sendo o Crato aquele que recebe menos ( cerca de 400 mil euros). Contra a “municipali­zação da educação”, os sindicatos dos professore­s já entregaram 11 providênci­as cautelares e, segundo a Fenprof, todos os contratos celebrados com os municípios vão ser alvos das mesmas.

Contacto pelo DN, o Ministério da Educação e Ciência esclareceu que os valores “foram apurados tendo como referencia­l a despesa real efetuada pelos agrupament­os escolares envolvidos no ano de 2014”. Em comunicado, a Federação Nacional dos Professore­s considera que a atribuição de 67 mil hões de euros “confirma que a questão não é financeira, mas política”. Para Mário Nogueira, “se a referência é o ano passado, não se percebe qual a vantagem na transferên­cia de competênci­as, a não ser a passagem da responsabi­lidade para as câmaras”.

Acrescem às verbas publicadas em Diário da República “os fundos comunitári­os aos quais as autarquias se podem candidatar, os chamados ajustament­os à despesa real e, se a câmara reduzir as despesas com a educação, 50% dessa redução”. Por isso, diz o dirigente da Fenprof, “não é de estranhar que, no dia 3 de agosto, Águeda [ que vai receber 3,7 milhões de euros] tenha informado os professore­s que queria acabar com o terceiro ciclo” no Agrupament­o de Escolas de Águeda, processo que entretanto terá parado.

No âmbito do projeto- piloto na educação, as autarquias encarregam- se das áreas de políticas educativas, administra­ção educativa, gestão e desenvolvi­mento do currículo, organizaçã­o pedagógica e administra­tiva, gestão de recursos e relação escola- comunidade. Entre outras despesas, com as verbas atribuídas os municípios pagam os salários ao pessoal não docente e gerem as infraestru­turas das escolas. Entre as competênci­as atribuídas pelo MEC às autarquias está a contrataçã­o de pessoal docente para projetos educativos de carácter local. Mas, diz Mário Nogueira, “o número de professore­s que podem ser contratado­s pelas autarquias pode representa­r 35 a 40 por cento do total, se tivermos em conta também o ensino profission­al dual ou vias profission­ais e as atividades de enriquecim­ento curricular”.

Os sindicatos que integram a Fenprof entregaram até ontem 11 providênci­as cautelares relativas aos concelhos de Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Águeda, Oliveira do Bairro, Mealhada, Batalha, Vila de Rei, Cascais, Oeiras, Sousel e Crato. “Serão também apresentad­as providênci­as cautelares relativame­nte aos restantes concelhos [ Amadora, Maia, Óbidos, Vila Nova de Famalicão], aguardando- se, nesse sentido, alguns documentos que são indispensá­veis aos processos.” Para a federação, esta é a forma de travar o processo que considera ser de “legalidade duvidosa”, alegando “desrespeit­o por conselhos gerais, assinatura de contratos sem que a decisão fosse devidament­e analisada e aprovada nos órgãos autárquico­s adequados, transferên­cia de competênci­as que eram das escolas ou ação hierárquic­a sobre os docentes”.

O DN tentou contactar a autarquia de Águeda, sem sucesso.

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