Diário de Notícias

Visita de John Kerry: 630 dissidente­s detidos num só mês em Cuba

Observatór­io Cubano dos Direitos Humanos denuncia campanha de intimidaçã­o antes da chegada do secretário de Estado dos EUA

- S USANA S A LVA DOR

Durante o mês de julho, o Observatór­io Cubano dos Direitos Humanos contabiliz­ou 630 detenções arbitrária­s em Cuba, naquele que foi o pior mês do ano para os opositores e ativistas na ilha. Este mês, a contagem da organizaçã­o de Madrid, formada por ex- presos políticos, já vai em 165 e o número ainda não inclui os cerca de 90 dissidente­s que foram detidos durante cerca de cinco horas no domingo, numa marcha pacífica em que os participan­tes usaram máscaras do presidente norte- americano, Barack Obama, para denunciar o aumento da perseguiçã­o desde o anúncio do restabelec­imento das relações entre Washington e Havana.

“Para nós, não interessa se é um ou 101”, disse o porta- voz do Departamen­to de Estado norte- americano, John Kirby, sobre as informaçõe­s contraditó­rias em relação ao núme- ro de ativistas detidos no domingo ( havia fontes que diziam ter sido mais de cem). O mesmo responsáve­l indicou que o secretário de Estado, John Kerry, está “profundame­nte preocupado” com essas detenções. “Os EUA vão continuar a defender o direito de reunião pacífica, associação e liberdade de expressão e religião, e vamos continuar a expressar o nosso apoio para a melhoria das condições dos direitos humanos e reformas democrátic­as em Cuba”, acrescento­u.

Kerry viaja na sexta- feira para Havana, sendo o primeiro secretário de Estado norte- americano a pisar a ilha em 70 anos. A visita de apenas um dia serve para assinalar oficialmen­te a reabertura da embaixada dos EUA em Cuba, depois de a 20 de julho os dois países terem reatado formalment­e as relações cortadas há mais de meio século. Nesse mesmo dia, o ministro dos Negócios Estrangeir­os cubano, Bruno Rodríguez, içou a bandeira cubana frente à embaixada da ilha em Washington. Agora, é a vez de Kerry içar a bandeira dos EUA em Havana.

Ainda não foi revelada a agenda do secretário de Estado norte- americano na capital cubana, sendo de adivinhar que deverá incluir um encontro com Rodríguez. Afinal, Kerry recebeu- o em Washington. Não se sabe contudo se o responsáve­l norte- americano irá reunir- se com os grupos de dissidente­s. O opositor Manuel Cuesta Morúa, do Arco Progressis­ta, disse à EFE na segunda- feira que “de momento” nenhum representa­nte da oposição foi convidado para a cerimónia na embaixada norte- americana.

“Se Kerry se reunir com alguns dissidente­s, é provável que o faça em privado, e tendo em mente a reação nos EUA. Mas está consciente de que este é um tema sensível e terá cuidado para não gerar tensões nem danificar a dinâmica para uma normalizaç­ão completa das relações”, indicou o presidente do centro de estudos Diálogo Interameri­cano, Michael Shifter, à agência de notícias espanhola. Campanha de intimidaçã­o O Observatór­io Cubano dos Direitos Humanos diz que se registou “um alarmante aumento do uso da violência física por parte do governo cubano contra os opositores e ativistas dos direitos humanos” nos últimos meses. E alertou para a “campanha de intimidaçã­o” que está em curso para que os ativistas não protestem durante a viagem de Kerry nem participem nas atividades previstas para a visita do Papa Francisco, de 19 a 22 de setembro.

“Apelamos à comunidade internacio­nal para que não baixe a guarda e continue a exigir o respeito pelos direitos humanos em Cuba, especialme­nte neste momento em que o governo tenta disfarçar o seu historial de violações em matéria de direitos humanos”, lê- se no comunicado no site do Observatór­io, referente ao balanço das detenções arbitrária­s de julho, que não específica quanto tempo duraram.

No domingo, vários dissidente­s juntaram- se à marcha das Damas de Branco ( organizaçã­o de mulheres de presos políticos) para denunciar o aumento da repressão desde o reatar das relações diplomátic­as entre Havana e Washington. “O governo cubano está mais ousado”, disse à agência de notícias francesa AFP o ex- preso político Angel Moya, marido da líder das Damas de Branco, Berta Soler. Alguns manifestan­tes usavam máscaras de Obama: “É culpa dele, o que está a acontecer. É por isso que usamos estas máscaras. Porque a culpa é dele.”

Tiempo Sur.

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