Nem louco, nem ilusionista, nem X- Man
SÍLVIA DE OLIVEIRA
Apergunta não estava prevista. Questões logísticas impuseram o prolongamento do debate por uns minutos. O que esperam do próximo governo, venha ele a ser liderado por Passos Coelho, ou por António Costa? Os quatro empresários, que integravam um dos painéis da “Grande Conferência Empresas na Caixa”, que decorreu esta semana em Lisboa, não demoraram a responder. Como se houvesse pressa. Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé, Sandra Correia, CEO da Pelcor, José Pinto, presidente da Procalçado e Vasco Pedro, cofundador e CEO da Unbabel, não pediram, naquele momento, que o próximo primeiro- ministro descesse os impostos, ou aumentasse os incentivos fiscais, nenhum reclamou apoios do Estado. Imagino que, a ocorrerem, fossem bem- vindos, mas não é isso que mais os inquieta.
Empresários de diferentes gerações e diferentes setores da economia portuguesa pediram coisas de que sentem a falta e não foram medidas com impacto imediato na conta de resultados. O administrador do grupo Vila Galé, que gere 27 hotéis, em Portugal e no Brasil, tem dois desafios para o próximo governo: maior capacidade de mobilização das pessoas e a revisão “urgente” do modelo de debate político, “que está completamente esgotado”. Já a CEO da Pelcor, que criou uma marca de acessórios a partir dos desperdícios da cortiça com que o pai faz as rolhas de champanhe, disse que os governos “são muito políticos e sabem pouco de gestão”. Esta empresária espera ainda que “não nos enganem, que sejam verdadeiros e executem”.
Estas palavras, pedidas sob impulso, ditas num palco para centenas de pessoas, com direito a ministro e tudo, surpreendem. Não porque nunca ninguém se tenha lembrado de dizer o mesmo, mas sim porque foi dito naquele lugar, àquela hora e por aquelas pessoas, uma boa amostra do tecido empresarial português.
No final das contas, para estes empresários e tantos outros o que o país deseja e precisa é de um líder. Alguém honesto, responsável, sensato e capaz de gerar os consensos políticos necessários em áreas como a Saúde e a Educação, como disse, também, José Pinto, presidente da Procalçado. Mas não só, faz falta alguém que nos inspire. Sonhamos com alguém corajoso, que se transcenda, que reconheça as nossas fragilidades, que acredite que quase tudo é possível e que não descanse enquanto não se tiver tentado tudo. E depois, alguém que nos faça correr, sempre cada vez mais. Não falo de um louco, de um ilusionista ou de um X- Man, mas sim de um líder, que parecem escassear um pouco por toda a parte, a começar pela Europa. Fraco consolo.