E Tsipras disse a Merkel: “Trouxe a primavera de Atenas e espero que as relações greco- alemãs permaneçam neste clima”
Primeiro- ministro grego e chanceler alemã falaram em cooperação para baixar a tensão. Admitindo problemas de liquidez, Tsipras garante não ter pedido dinheiro a Merkel, que lembra que a Alemanha é só mais um dos países da UE
MUNDO
PAT RÍ C I A V I E GAS Trabalhar em cooperação, com respeito mútuo entre países e de acordo com o princípio da soberania e da igualdade entre Estados. Estas foram algumas das ideias mais repetidas pelo primeiro- ministro grego e pela chanceler alemã, durante a conferência de imprensa conjunta que deram ao final da tarde de ontem em Berlim. Alexis Tsipras e Angela Merkel tentaram acima de tudo baixar o nível de tensão que tem sido permanente entre a Grécia e a Alemanha, deixando pelo meio algumas pistas sobre o que terão estado a discutir, mas sem anunciar decisões concretas.
“Há abertura para cooperar. Temos diferenças nalgumas questões, mas vontade de trabalhar juntos”, declarou Angela Merkel, sublinhando que as reformas que o governo grego pretende levar a cabo para receber mais dinheiro do programa de assistência financeira “têm de ser discutidas com as instituições e não com a Alemanha”. A chanceler democrata- cristã su - blinhou que representa “apenas um dos países da União Europeia” e que não é por a Alemanha ser a maior economia europeia que manda mais do que os outros. “Cada país deve ter a mesma importância”, sublinhou, em alemão, enquanto o seu homólogo de Atenas se expressou em grego.
“A discussão foi produtiva no sentido de estabelecer pontos em que concordamos e discordamos. Temos de fazer reformas que não fizemos nos últimos cinco anos. Atacar a corrupção e a evasão fiscal. Precisamos do apoio da justiça alemã no caso Siemens”, declarou o governante grego, de esquerda, referindo- se ao escândalo de corrupção e subornos praticados pela empresa alemã para conseguir contratos durante os Jogos Olímpicos de Atenas de 2004.
“Temos de acabar com os estereótipos na Europa: nem os gregos são preguiçosos nem os alemães têm culpa dos problemas gregos”, afirmou o líder do Syriza, que venceu as legislativas de 25 de janeiro. Classificando Angela Merkel “como Tsipras disse a Merkel: “Trouxe a primavera de Atenas e espero que as relações greco- alemãs permaneçam neste clima” alguém que sabe ouvir”, Tsipras garantiu que o objetivo da primeira visita à Alemanha – onde foi recebido com honras militares – “não é vir pedir dinheiro à chanceler alemã para pagar salários e pensões na Grécia”. O líder grego respondia a uma pergunta dos jornalistas presentes sobre a falta de liquidez do seu país, no mesmo dia em que o Financial Times divulgou uma carta de Tsipras a Merkel na qual admite que Atenas não tem condições para pagar a sua dívida aos credores se a UE não desbloquear em breve a ajuda financeira de 7,2 mil milhões de euros. O Eurogrupo, por seu lado, exige mais e mais rápidas reformas aos gregos para desbloquear o dinheiro.
Segundo o Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, que cita fontes da Comissão Europeia, a Grécia só terá liquidez para pagar salários e pensões até 8 de abril. Ontem, em Bruxelas, enquanto Tsipras e Merkel se reuniam em Berlim, o porta- voz de Jean- Claude Juncker, o grego Margaritis Schinas, lembrava: “Nesta fase a vontade política forte não é suficiente. Tem de ser traduzida em ações e progressos.”
Quanto às indemnizações que a Grécia exige à Alemanha por danos causados na Segunda Guerra Mundial, Tsipras sublinhou que “a Alemanha de hoje não é a do III Reich” e que a insistência grega no tema não é de índole monetária, mas moral. Questionada sobre a criação de um banco de reconstrução para a Grécia, para pagar as reparações, Merkel concluiu dizendo apenas que há várias coisas sobre a mesa “mas não decisões concretas”.